OFF- Homenagem ao tri de 44: o título que parece ter 'Valido' mais que os outros

21/10/2014 09:51

OFF- Homenagem ao tri de 44: o título que parece ter 'Valido' mais que os outros

Flamengo reverenciará principais craques da conquista do Carioca na quarta-feira, e GloboEsporte.com relembra histórias de Valido, autor do gol e figura máxima do título

OFF- Homenagem ao tri de 44: o título que parece ter Valido mais que os outros
Filha do ex-jogador do Flamengo, Ana carrega a foto histórica do lance do título em seu celular (Foto: Fred Gomes)

Válido ou não? A pergunta que perseguiu o herói do primeiro tricampeonato carioca do Flamengo, conquista cujo septuagenário está marcado para o próximo dia 29, poderia ser feita a respeito do rumo tomado por Agustín Valido em 1937, quando, aos 23 anos, deixou a Argentina a fim de desbravar o Brasil. Ele não está aqui mais para dar seu parecer, pois o time dos imortais rubro-negros o contratou em 1998, porém a inequívoca resposta é que valeu. Valiosa cabeçada na final do Estadual de 1944 valeu-lhe a eternidade. Vale até hoje o orgulho de uma família incapaz de calcular o feito do gringo.

E o gol? Valeu? Para os vascaínos, não. De acordo com o juiz Guilherme Gomes, sim. E se não tivesse valido: os rubro-negros comemorariam do mesmo jeito? Impossível.

Só foi válido por causa de Valido, e o caneco conquistado naquele domingo será alvo de homenagem durante a partida entre Fla e Internacional, na próxima quarta-feira – no dia 29, data real dos 70 anos, quando o time de Luxemburgo pegará0, o Galo, pela Copa do Brasil, em jogo de caráter nada festivo.

Ana Valido, uma das duas filhas do herói argentino, defendeu o papai famoso por diversas vezes durante o longo bate-papo. Nascida quatro anos depois do triunfo histórico, usou e abusou da tecnologia para provar a validade do valoroso gol de Valido.

- Todo mundo queria contar para mim: “Ah, eu vi o seu pai jogando”. Mas isso um milhão de vezes. Eu não era nascida nem nada. Papai ficava pau da vida, porque ele dizia que era mais alto que o cara. Aí cabecearam juntos, o cara caiu e ele caiu em cima dele. Tenho a foto dele. Ele cabeceou antes de encostar. Botei no Google e, na última foto, ele não está encostando no Argemiro. Não tem nada a ver que ele estava empurrando. Ele estava caindo e empurrou somente na queda. Na hora da cabeçada, não empurrou – decretou Ana, de 66 anos.

A neta Juliana parece ter herdado o espírito brincalhão do avô e resolveu botar pimenta na história. Pessoas que tiveram contato constante com Valido durante os 61 anos vividos pelo craque no Brasil garantem: ele admitia a quem quisesse que, de fato, empurrou Argemiro. Juliana é uma dessas e, a cada vez que confirmava esta versão, acabava interrompida pela mãe, defensora do ídolo, que vociferava: “Mentira!”

- Ele jurava de pé junto que não empurrou ninguém, mas ele gostava de debochar com isso e dizia: “Quer dizer que encostei? Então encostei mesmo”. Tenho uma lembrança boa dele provocando os outros com isso. A gente sempre soube da história, meu próprio avô contava como fez. Convivi muito com meu avô, eu já era grande quando ele morreu, tinha 21 anos. Era muito gozador, sempre foi um palhaço. Então, já velhinho dizia que empurrou mesmo, mas só para deixar os outros irritados. Há provas de que ele não empurrou. Se empurrou, eu não sei, mas o que vale mesmo é bola na rede – divertiu-se.



O histórico gol valeu a Valido o status de intocável dentro dos corredores rubro-negros, mas também culminou em punição inusitadíssima. Um vascaíno resolveu descontar o prejuízo de 44 no bolso do ídolo.


Ana exibe camisa utilizada pelo time em janeiro, com a homenagem a Valido (Foto: Fred Gomes)

- Uma vez, indo para a Teresópolis, parou no posto de gasolina que havia ao lado do Rio Sul, abasteceu e pagou com um cheque, assinando seu nome. Aí passou um guarda e falou que não podia parar ali. Ele (Valido) falou que estava saindo, esperando o cunhado, alguma coisa assim. O policial pediu: “Seus documentos”. Leu “Agustín Valido” e perguntou: “O senhor é o Agustín Valido, do Flamengo? Ele respondeu todo feliz: “Sou” e pensou: “Ele não vai me multar, né?”. O guarda disse: “Então, você está multado, porque sou Vasco, não interessa. O gol foi roubado. E multou mesmo. E ele (Valido) ficou rindo – recordou Ana.

O saldo do pândego craque, que faria 100 anos em janeiro, era para lá de positivo, e o bônus foi gozado por filhos e netos. Juliana narra que em certa oportunidade, em maus lençóis na faculdade de Administração, livrou-se de uma iminente reprovação por ter dado uma camisa autografada pelo avô ao professor.

- Esse meu professor era fanático pelo Flamengo e parava as aulas para falar de Valido. Eu estava enrolada na matéria, e falei “Vô, vamos dar um jeito aí”. Ele foi no Flamengo, arrumou uma camisa, autografou e me deu. Quando entreguei ao professor, nem precisei mais fazer prova (risos).



O antológico gol valeu a Valido também um neto que nem conhece. Guilherme, no início do namoro com Juliana, foi alertado por um primo da amada de que iniciava história de amor com a integrante de uma família cujo nome mais famoso era de um grande craque do Flamengo. Foi a senha para que Guilherme matasse a charada. Após 29 de julho de 2006, quando casou-se com Juliana, incorporou o sobrenome do, a partir de então, vovô Valido.

- Eu não liguei o nome à pessoa, mas aí o primo dela disse: "Sabia que sou neto de um ex-jogador de futebol?" Aí pensei: “Juliana Valido... É o Valido do tricampeonato?”. Aí pronto, falei: “Vou ter que casar com ela” – disse o apaixonado Guilherme Valido.

A participação de Valido no tricampeonato de 1944 ganha ares de dramaticidade, pois jogou com febre de 39 graus. Além disso, não atuava profissionalmente havia mais de um ano. A aposentadoria fora forçada pela esposa, porém esta foi interrompida no fim da competição. Após disputar pelada no campo da Gávea, Valido teve sua lua de mel interrompida para enfrentar Fluminense (6 a 1) e Vasco (o jogo do título). Ana, embora ainda não tivesse nascido, detalha o resgate do argentino.

- Quando casou, minha mãe pediu para ele parar de jogar. Era ele aparecer na janela para todo mundo chamar por ele. Dizem que era um inferno. Ele tinha parado e montado uma gráfica, estava em lua de mel e foram caçá-lo para colocá-lo para jogar. Diziam: “É um jogo só”. Foram atrás dele, que estava um bagaço por causa da lua de mel (risos). Ele dizia no deboche: “Não posso jogar, estou um bagaço. Eu estava liquidado e não aguentava correr”. O gol foi aos 45 minutos do segundo tempo (aos 41)? Fizeram uma massagem nele, e ele pensava: “Vou ficar aqui na banheira, que aí tocam para mim e eu faço o meu”. E ele era goleador mesmo. No finzinho, fez um gol de cabeça e pronto: ficou para toda a vida.


Juliana Valido, a outra filha do ex-jogador, com Belinha no colo, o genro Guilherme, a neta Luana e Ana Valido posam com a camisa do Rubro-Negro, além de uma bandeira ao fundo. (Foto: Fred Gomes)

Valeu chorar, e lágrimas de alegria foram derramadas por Ana ao recordar uma das últimas homenagens feitas pelo Flamengo ao pai, em 1995.

- Papai, já bem velhinho, recebeu homenagem no centenário do Flamengo. Foi a última homenagem viva. Pediram para ligar o elevador do Jockey. Viu o Zico e ficou em pé (chora). Foi falar com o Zico, que ajoelhou no pé dele e beijou a mão dele (chora novamente). E ele que queria beijar a mão do Zico. Já estava bem velhinho. Ia muito ao Flamengo, tinha título de benemérito. Aquele parque foi ele quem deu dinheiro, ajudava o Flamengo... Torcia, cabeceava e chutava com a gente durante os jogos. Era apaixonado.

Válido é recorrer a uma história que merecia ter valido por 10 títulos, a um gol que deveria ter valido mil. Valido, de cabeça e eternamente na cabeça dos rubro-negros fez valer o esforço de valiosos atletas como Jurandir, Newton, Quirino, Biguá, Bria, Jaime, Zizinho, Pirilo, Tião e Vevé.

O Globo destaca Fla e sua torcida, queixas vascaínas e aposentadoria de Valido

"Teve um desfecho de gala o campeonato oficial de football da cidade. O match de ontem interessou, inegavelmente, à maioria da população carioca que há uma semana, se preparava para acompanhar, presente no campo da Gávea - que logrou renda "record" - ou atenta às reportagens radiofônicas, o grande clássico Flamengo x Vasco. E venceram os rubro-negros, "o clube mais querido do Brasil", dando margem a que se registrassem em todos os recantos da cidade, cenas de verdadeiro delírio de alegria, de envolta com lágrimas, também essas de satisfação. Cabe ainda assinalar o comportamento disciplinar dos vinte e dois players de ambos os quadros que nada deixou a desejar, a despeito do nervosismo com que todos atuaram. Vemos acima, posando para O GLOBO, alinhados em fila indiana, os vitoriosos que conquistaram para o Flamengo o título de tri-campeão. Nas 14ª e 16ª páginas, amplas reportagem do acontecimento". Com este texto, "O Globo" ilustrou a foto que "rasgava" sua capa do dia 30 de outubro de 1944. Reação que alçou o Flamengo do terceiro ao primeiro posto, após estar a cinco pontos do então líder Vasco, também foi destacada.


Esta foi a capa de 30 de outubro de 44, dia posterior à conquista do primeiro trio do Fla (Foto: Reprodução/Acervo O Globo)

A crônica de "O Globo" narrou duelo nervoso, marcado por muitas faltas e excessivo respeito mútuo motivado pelo medo de arriscar.

"O Globo" deu ênfase especial ao lance que mudou o destino do "prélio": no fim do primeiro tempo, Valido, que no fim da etapa complementar se converteria em herói, contundiu o médio Alfredo. O problema provocou a improvisação de Djalma no meio-campo, e Alfredo limitou-se a fazer número pela ponta direita.
Ainda de acordo com a crônica, o Flamengo passou a dominar o jogo e acabou premiado aos 41 minutos do segundo tempo, quando Valido "venceu Barchetta (Barqueta) de forma espetacular, justificando cem por cento os esforços do que conseguiram com que reaparecesse na equipe rubro-negra".



"O Globo" exalta também o comportamento do vascaíno, ainda que alguns tenham se deixado "tomar por intenso nervosismo", em campo. Sustentam que o Cruz-Maltino mostrou condições de conquistar o título. O "intenso nervosismo" teve seu ápice justo no gol rubro-negro, no qual o zagueiro Argemiro garante ter servido de apoio para Valido cabecear e inflar a rede do Vasco. Apesar das queixas, "O Globo" isentou o árbitro de culpa, opinião compartilhada pelo jornal "A Manhã", outro de grande circulação na época. Confira na íntegra o relato de "O Globo":

"Uma arbitragem que não podia fazer milagres"

"Voltando de um período de férias, Guilherme Gomes dirigiu a partida. Não se pode afirmar que tenha sido um bom juiz, mas é certo que teve uma arbitragem absolutamente imparcial. Apitou muito e chegou a irritar parte do público. É preciso convir que a sua missão revestia-se de enorme responsabilidade e que poucos seriam os juízes capazes de levar o match até o fim. Apitou muito, sem dúvida, mas salvou o espetáculo e o próprio football carioca. Afinal era demais querer o milagre de uma atuação cem por cento perfeita e todos os bons desportistas devem rejubilar=se pelo que conseguiu Guilherme Gomes no prélio de ontem".


Vascaínos Ondino Viéra e Argemiro eram os mais revoltados no campo da Gávea (Foto: Reprodução)



Argemiro, marcador de Valido no lance capital, segundo "O Globo", "banhado em lágrimas, gritava e jurava que o goal de Valido fora consignado em condições duvidosas":


Eis o relato do gol (Foto: Reprodução/Acervo "O Globo")

- Por Deus (jurando ao afirmar que Valido se apoiou nos seus ombros ao cabecear a pelota). E eu disse ao juiz, Por Deus como foi "foul".

Tão irritado quanto Argemiro estava Ondino Viéra, técnico vascaíno à época:

- Aí está o resultado de um ano de sacrifício! Tudo perdido, completamente perdido por causa de um lance discutido. Sorte madrasta, desgraçada sorte, essa!

Do lado rubro-negro, só emoção. O goleiro Jurandyr desmaiou após o jogo, e o atacante Pirillo chegou ao vestiário se contorcendo de dor, carregado em uma cadeira de palha.

Jornalistas e o massagista Johnson tentaram acudir o arqueiro flamenguista, mas somente a intervenção do médico Newton Paes Barreto.



Valido, aposentado em 1943 e convencido por Flavio Costa a atuar nos jogos finais de 1944 após bom desempenho em peladas na Gávea, jogou a partida derradeira com febre. Dado o esforço hercúleo e a participação a contragosto da vontade de seus familiares, anunciou o fim da carreira de jogador ainda no vestiário da Gávea.


Valido é beijado por Tião (Foto: Reprodução)

- Sou um homem de sorte e não insistirei. Sempre coloquei o Flamengo acima de tudo. Ainda dessa vez estou jogando contra a vontade de minha família. Sai-me bem da jornada, mas não insistirei. Vou encerrar minha carreira desportiva agora, já. E que bela recordação levarei do football, meu amigo, que recordação maravilhosa. Posso desejar mais? - disse e desapareceu

Flavio Costa, por sua vez, não teve dúvidas ao colocar o título de 1944 no topo de suas quatro conquistas como técnico do clube.

- O que posso dizer a vocês é que esse campeonato foi o mais trabalhoso de todos os que defrontei em minha longa carreira de "coach" e jogador". Devemos a conquista desse título ao esforço de nossos jogadores, à sua conduta sã e ao sacrifício a que se expuseram no auge da campanha. Se o Flamengo não costuma esquecer seus campeões, para os de hoje deve reservar uma gratidão toda especial.

2033 visitas - Fonte: Globo Esporte


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