Ex-parceiros na seleção brasileira, Guerrinha e José Neto se enfrentam neste sábado em Marília (Foto: João Pires/LNB)

De um lado um ex-armador talentoso, do outro um acadêmico estudioso. Embora o perfil seja bem diferente, Guerrinha e José Neto têm alguns conceitos em comum e aprenderam bastante um com o outro. E não foi por acaso. Afinal, de 2004 a 2007 eles trabalharam juntos como assistentes de Lula Ferreira na seleção brasileira. Com o fim da parceria, eles se afastaram, mas nunca perderam o contato. Não chegam a ser amigos inseparáveis, mas se dão bem e se respeitam profissionalmente. Dentro de quadra, conquistaram quase os mesmos títulos. Se na temporada passada Neto fez barba, cabelo e bigode com o Flamengo e conquistou todas as taças que o clube disputou, na atual temporada é Guerrinha que vem ditando a moda com o Bauru, campeão em todas as competições que disputou até agora.

Neste sábado, às 10h, no Ginásio Municipal Neuza Galetti, em Marília, pelo segundo jogo das finais do NBB 7, mais uma vez eles estarão frente a frente. Enquanto Guerrinha tem que vencer para manter o Bauru vivo na competição e seguir com chances de repetir a trajetória do rival na temporada passada, o treinador rubro-negro sabe que se impedir o sucesso do ex-companheiro levará o Flamengo ao quarto título da competição, o terceiro consecutivo.

A partida terá transmissão ao vivo da TV Globo para o estado do Rio de Janeiro e para as regiões das afiliadas TV Tem, TV Tribuna, TV Diário e TV Vanguarda - no interior de São Paulo. O jogo 3, se necessário, será disputado no sábado seguinte, dia 6 de junho, também em Marília e novamente com transmissão da TV Globo. O GloboEsporte.com acompanha tudo em Tempo Real com vídeos.

Nem sempre José Neto e Guerrinha foram apenas adversários. Durante três anos, a dupla fez parte da comissão técnica da seleção brasileira comandada por Lula Ferreira, que ainda contava com Flávio Davis. Com uma bagagem maior dentro e fora de quadra e mais antigo na função, o técnico de Bauru acabou abraçando o rival deste sábado. Ex-jogador armador da geração de Oscar e Marcel, Guerrinha percebeu alguns vícios em Neto que logo o chamaram atenção.

- Ele chegou muito novo na seleção e com pouca vivência, enquanto eu já tinha uma experiência de técnico de quadra e de ex-jogador. No início da carreira dele eu percebia que os jogadores ainda eram um pouco ídolos dele, e eu falava que ele não podia ser amigo de jogador. Como ex-jogador tinha essa leitura e passava isso para ele. O Neto evoluiu muito e é um treinador bem completo hoje. É um cara esforçado, muito determinado, inteligente e que aprendeu muito rápido observando os técnicos com que ele trabalhou na seleção. Ele teve o mérito de chegar num clube como o Flamengo, que é difícil de trabalhar em razão de uma torcida apaixonada, de uma exigência grande e de muita pressão, mas está se saindo melhor do que outros treinadores que lá estiveram e vem conquistando todos os títulos - elogiou Guerrinha.

O respeito e a admiração são mútuos. Eternamente grato pela ajuda que o técnico do Bauru lhe deu nos primeiros meses de seleção, Neto destaca a experiência de Guerrinha na beira da quadra - o treinador está na sua 18º temporada - e a maneira com que o rival deste sábado trabalha com seus jogadores.

- Trabalhamos na seleção até 2007, ele foi meu companheiro de quarto e sempre se mostrou solícito e disposto a passar um pouco da bagagem que ele tem na carreira. Isso ajudou demais na minha formação como treinador. Foi um dos lugares que eu tive a chance de aprender mais. O Guerrinha é um cara muito experiente. Teve uma experiência primeiro como jogador e depois conseguiu transferir esse conhecimento para a quadra. Ele é um grande treinador e quando esta na seleção dava uns treinos muito bons - disse técnico do Flamengo.

Hoje em dia Neto e Guerrinha se falam menos. Além da distância geográfica, os horários diferentes, o tempo em que o técnico permanece com a seleção e principalmente a logística complicada das finais do NBB 7 também acabam atrapalhando qualquer tipo de aproximação. A rivalidade entre os finalistas é o que menos interfere. Além do respeito que um tem pelo outro, eles lembram que muitos dos jogadores das duas equipes convivem boa parte do ano na seleção brasileira.

Comandantes dos dois elencos mais caros e qualificados do país, Guerrinha e Neto reconhecem que o segredo para vencer neste sábado estará dentro de quadra. Tanto quando o treinador do Flamengo quanto o técnico do Bauru não escondem que suas maiores preocupações são os jogadores adversários. Se o time carioca tem Marquinhos, Marcelinho, Herrmann, Benite, Olivinha, Meyinsse e Laprovittola, a equipe paulista conta com Ricardo Fischer, Larry Taylor, Murilo, Robert Day, Alex e Hettsheimeir.

Com elencos tão homogêneos, os dois treinadores concordam que o fato psicológico também pode ter um peso ainda maior na decisão. Como só a vitória mantém o time paulista na luta pelo título inédito do NBB, Guerrinha deixa o desgaste físico de lado e afirma que a cabeça no lugar é o primeiro passo para a sobrevivência na competição.

- O segredo é a cabeça. Nós já provamos que fisicamente, taticamente e tecnicamente que somos um time campeão. Levar uma porrada como a que levamos pode até ajudar. Se tivéssemos perdido de um ponto na terceira prorrogação continuaríamos atrás na série e precisaríamos vencer do mesmo jeito. Playoff é um jogo de cada vez. Se a gente vencer sábado muda a série? Muda, nos recuperamos e levamos a decisão para o terceiro jogo, mas também não é determinante. Ganhar de vinte é lógico que deu mais confiança para eles, mas às vezes o excesso de confiança também atrapalha o nosso inconsciente. Nunca podemos estar nem muito tenso nem muito relaxado. Temos que estar prontos, por isso a parte mais importante é nos refazer mentalmente da derrota no Rio - analisou Guerrinha, que concorre com Demétrius e Dedé Barbosa o prêmio de melhor treinador da temporada.

Neto bate na mesma tecla. Apesar da vantagem conquistada em casa, o comandante rubro-negro sabe que qualquer descuido pode ser fatal. Mesmo diante um rival qualificado e que joga em casa, o técnico do Flamengo não descarta vencer novamente e sair de Marília com o tricampeonato do NBB. Desde que seus jogadores estejam focados no jogo do início ao fim.

- Temos que ter muito foco, vivenciar o jogo e construir a vitória a partir daí. Não vejo uma forma diferente de vencer se nós entrarmos em quadra pensando em alguma outra coisa. Se nós focarmos em cada situação do jogo acredito que temos uma chance de sair daqui com a vitória e o título, mas temos que saber que do outro lado tem um adversário que quer a mesma coisa e tem capacidade para isso. Temos que estar muito concentrados - alertou José Neto.