Uma das joias reveladas pelo Flamengo nos últimos anos, Yuri César hoje vive uma realidade bem diferente dos campeonatos de base que o projetaram no Brasil e o levaram a um exitoso empréstimo ao Fortaleza. É nos gramados dos Emirados Árabes que o atacante de 20 anos tenta a sorte, em um destino incomum para atletas tão jovens, mas que ele acredita ter sido uma escolha certeira em um momento importante da carreira.
Yuri foi contratado pelo Al Ahli Shabab, de Dubai, em meio à reta final do Brasileirão, no fim de janeiro. Ele aceitou uma proposta que chegou ao Flamengo, dono de seus direitos, e precisou se despedir dos companheiros às pressas. Além de abrir mão de jogar os últimos jogos do campeonato com o Fortaleza, precisou dar adeus à chance de jogar no Rubro-Negro na temporada 2021, que se iniciaria semanas depois.Ele revela que as incertezas sobre o futuro da equipe e do técnico Rogério Ceni naquela altura pesaram na escolha.
- Eu conversei muito com meu empresário sobre isso, falei que muita coisa poderia acontecer no Flamengo. O Rogério estava lá, mas naquela fase de não emplacar muitas vitórias. Seria complicado se eu chegasse, e fosse um treinador que não gostasse da base. Assim como em 2020, quando fui emprestado, e o treinador (Jorge Jesus) não era tão chegado nos garotos da base. Falei isso, e que a questão financeira ia ajudar muito também. Botei esses casos na balança para poder decidir - explica.
Quando Yuri teve a oportunidade de rumar para os Emirados Árabes, o Flamengo vivia um momento de irregularidade na temporada, vindo de tropeços seguidos diante de Ceará, Fluminense e o próprio Fortaleza, e tentando se recuperar na disputa pelo título brasileiro. Na ocasião, Rogério Ceni ficou pressionado no cargo diante das críticas da torcida, acumuladas após as eliminações na Copa do Brasil e na Copa Libertadores.
Depois, o treinador acabou levando o time a ser campeão nacional, em uma arrancada na reta final do Brasileirão. Rogério permaneceu no clube, o que levou Yuri a lamentar não ter podido reencontrar o comandante, com quem teve grande espaço no Fortaleza.
Para mim foi difícil. Eu vi que quando ele foi para lá, colocando os moleques da minha idade, com quem eu joguei. Para mim estava sendo difícil, porque eu estava doido para acabar a temporada e voltar. Mas foram acontecendo as eliminações e fiquei com pé atrás."
— Yuri César, atacante do Al Ahli Shabab
- Mas tinha esperança de jogar com ele, sim. Ele deu uma coletiva falando muito bem de mim - pontuou o atacante, que hoje aposta em um sucesso longevo do treinador à frente do clube.
Ao receber a proposta no fim de janeiro, Yuri precisou pensar e conversar com a família rapidamente. Ele havia renovado contrato em dezembro com o Flamengo, que sinalizava querer aproveitá-lo entre os profissionais em 2021 - tanto que chegou a recusar uma proposta pelo jogador em outubro. Porém, quando o clube carioca aceitou a oferta de mais de R$ 32 milhões vinda do Al Ahli Shabab, ele teve a decisão em suas mãos, em um processo acelerado.
- Já tinha renovado no Flamengo para ficar lá esse ano, ficar no grupo. Mas foi tudo de uma hora para a outra, soube da proposta quando ia jogar contra o Santos. Foi tudo muito rápido, e depois do jogo contra o Atlético-GO, meu empresário disse "Vem para o Rio" na terça, pois na quinta já vamos para os Emirados. Tive que ir no Flamengo, fiquei quase 10 horas no clube esperando toda a documentação - lembra.
Yuri César já era nome conhecido daqueles que acompanham as categorias de base do Flamengo mais de perto, tendo feito parte da geração que conquistou a Copinha, em 2018, o Brasileirão sub-20, em 2019, e outros títulos regionais. No Fortaleza, ganhou mais holofotes e um de seus primeiros títulos como profissional, o Campeonato Cearense em 2020 (também participou da campanha do Carioca, no Flamengo). E, agora, em Dubai, também já colocou mais um troféu em sua galeria: a Copa do Golfo Árabe.
O jovem, que completa 21 anos nesta quinta, vem alternando entre experiências no time profissional e na equipe sub-21, após chegar com a temporada na reta final. E participou de jogos da copa, que foi conquistada pelo Al Ahli Shabab no mês passado, em disputa de pênaltis contra o Al Nasr, após empate em 2 a 2. E, apesar de não ter ido a campo na partida, comentou o fato de ter sido pé quente logo na chegada ao país.
- Onde eu vou, parece que eu chamo (risos). É bom isso, ter um pouquinho de sorte. Desde pequeno no Flamengo ganhando títulos... Em disputa de pênaltis não foi o primeiro, na base já tinha passado. Fiquei muito nervoso, estava ali de fora, muito nervosismo, mas foi uma grande experiência - disse o jogador, que também esteve presente na conquista da liga nacional sub-21.
Veja outros temas da entrevista:
ge.globo: Como tem sido a experiência nos Emirados Árabes nestes meses?
Yuri César: - Para mim, é uma grande experiência, porque todo mundo fala que o futebol foi é muito abaixo... Mas fiquei meio surpreso, vi muita pegada, intensidade, técnica, uma média de gols muito alta por jogo. É uma grande experiência que estou vivendo aqui.
A temporada está acabando, o Al Ahli está em quinto. O objetivo é assegurar uma vaga para a Champions da Ásia (os três primeiros se classificam)?
- A gente tinha o objetivo de ser campeão, e daria, mas acabamos pisando na bola, tropeçamos. O maior objetivo é classificar para a Champions do ano que vem. Quero jogar, pois acabei não sendo inscrito para a Champions desse ano.
E acabando a temporada aí, quais os planos? Vem para o Brasil ou fica aí?
- Acho que por conta da Covid está meio difícil, mas vou esperar. Tenho esperança que as coisas melhorem no Brasil e no mundo todo. Quero ir muito para o Brasil, porque estou numa temporada longa, joguei muitos jogos ano passado, vim para cá direto. Quero descansar um pouco, ficar com a família.
O que está achando do país?
- Aqui é muito lindo, as coisas são diferenciadas mesmo. As coisas parecem que é de brinquedo, os caras ostentam mesmo.
E como tem se virado com a língua?
- No nosso clube não tem um tradutor, mas tem quatro brasileiros, massagista, fisioterapeuta... O Igor Jesus fala inglês, na hora do treino ele que fala as coisas para a gente. O treinador fala em árabe, o tradutor traduz para o inglês e ele traduz para a gente. Eu entendo algumas coisas, mas não consigo falar. Mas estou fazendo as aulas.
Já conseguiu fazer amizade, tem sido importante para você na adaptação?
- O Igor eu converso mais, por ser da minha idade, a gente tem uma aproximação muito boa. Também troco ideia com o Carlos Eduardo. Ele me dá vários conselhos, por ser um cara mais velho, está aqui há muito tempo jogando. E o Igor mora aqui no meu condomínio.
E você mantém contato com alguém no Flamengo? Pessoal da sua geração?
- Eu falo mais com os moleques da minha idade, Matheuzinho, Rodrigo Muniz. Tinha o Natan, que acabou de sair. Acho que todo mundo que subir e tiver oportunidade vai dar certo, como aconteceu com todos. O Muniz no começo do Carioca. Tem que dar oportunidade e confiança para os moleques jogarem.
Pensa em voltar um dia?
- Com certeza, acho que faltou um pouco disso também, aproveitar mais o profissional. Acho que estou muito novo ainda para pensar em não jogar no Flamengo novamente. Espero que sim.
E a Nação ainda se manifesta nas suas redes sociais?
- Muita gente. Eu posto alguma coisa, todo mundo manda mensagem pedindo para eu voltar. Mas ainda está cedo, já já eu volto (risos).
Flamengo, Yuri César
Comentários do Facebook -