Não bastasse o fato de a segunda rodada da Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Carioca, ser disputado no acanhadíssimo estádio Aniceto Moscoso (capacidade para cerca de 3.500 torcedores), outro fato chamou a atenção para Madureira e Flamengo, na tarde desta quarta-feira, em Conselheiro Galvão, subúrbio carioca. Jean, ex-rubro-negros, foi a campo com a camisa do tricolor suburbano.

Havia a possibilidade de outro jogar ainda. Recém-chegado aos 36 anos e ainda fora de forma, Iranildo não foi escalado entre os titulares do Madureira. Assistiu tudo do banco. Logo ele, que tinha neste confronto duas razões especiais para estar em ação: é flamenguista confesso, mas foi revelado justamente pelo clube de Conselheiro Galvão. Isso bem antes de suas duas passagens pela Gávea (entre 1996 e 2003). Enquanto isso, no ataque, Jean tinha pela frente a chance de mostrar que, aos 30 anos, ainda tem gás para ganhar uma chance em um clube grande.

Faltou combinar isso com a torcida rubro-negra, que com as dimensões reduzidas do campo, e o alambrado bem próximo dos jogadores, não perdoou o ex-flamenguista, que em 2003, sob o comando de Oswaldo de Oliveira, formou ataque com Edílson e Fernando Baiano. Bastava o atacante do Madureira tocar na bola para os torcedores gritarem em uníssono: “ei, Jean, vai tomar no c...”. Em outros momentos, ouvia: “Jean v...”.

Jean tentava não se concentrar na torcida, em maior número e ocupando quase que toda a arquibancada, mesmo como visitante. Aos três minutos de jogo, arriscou chute da intermediária que Felipe não teve dificuldades em defender. Preso na marcação de González e Renato Santos, o atacante se movimentava bem, mas só arriscaria outro arremate aos 26 minutos da primeira etapa, sem grande perigo, novamente, para a meta rubro-negra.

“Vai, Jean, tenta alguma coisa”, gritava um torcedor do MEC (Esporte Clube Madureira), como os locais chamam, com carinho, o time da casa. O jogo truncado não facilitava a condição de jogo do atacante, que além de preso na marcação, não via a bola chegar açucarada aos seus pés. As coisas se complicaram ainda mais quando, aos 43min, Rodolfo deu lindo passe para Ibson, na entrada da área e de voleio, tocar no canto, na saída de Márcio: 1 a 0 Flamengo.

A conversa no vestiário do técnico Alexandre Gama surtiu efeito: o Madureira veio com uma postura mais ofensiva para o segundo tempo. E logos aos 7 min, Derley girou em cima de Felipe Dias e foi derrubado dentro da área pelo lateral do Flamengo. Pênalti, que Rodrigo converteu com eficiência para igualar o marcador em Conselheiro Galvão.

Por mais que os poucos torcedores do Madureira pedissem para a equipe não recuar, o Flamengo foi para cima e foi a chance de Jean ganhar mais prestígio junto aos apaixonados pelo MEC. Sem espaço no ataque, Jean voltou para segurar os avanços de Leo Moura. Ao cortar, com um chutão mesmo para o alto, uma bola que o lateral rubro-negro avançaria rumo ao gol, ouviu em alto e bom som: “não é mole, não, o Jean é pura disposição”.

Durou pouco tempo. Aos 29min, Rodrigo levantou a bola na medida para Jean, sozinha na pequena área, furar o cabeceio que poderia render o gol da virada. A torcida perdeu a paciência, e o ex-flamenguista passou em branco numa oportunidade de ouro para mostrar ao ex-time que ainda tem, pelo menos, disposição para mais alguns anos no futebol profissional. Final em Conselheiro Galvão: Madureira 1 x 1 Flamengo.