Quem olha só a festa no Maracanã após a goleada do Flamengo sobre o Bolívar por 4 a 0 nem imagina que o clima estava tenso antes de a bola rolar. As duas derrotas nos últimos dois jogos da Libertadores haviam deixado o Rubro-Negro em situação delicada no torneio. Embora os outros resultados do grupo ajudassem, de nada adiantaria se o time de Tite não fizesse o seu dever de casa diante do líder e invicto Bolívar na noite de quarta-feira. Era um clima de final, e os rubro-negros fizeram a sua parte enchendo o estádio com 63.169 torcedores presentes (59.424 pagantes), recorde de público dos clubes brasileiros na Libertadores 2024. E antes de a bola rolar, o recado veio das arquibancadas: o grito de "queremos raça, queremos raça" ecoou no Maracanã entre uma música e outra. Porém, a tensão não durou um minuto.
![Tite cumprimenta jogadores do Flamengo](https://s2-ge.glbimg.com/-iBR8O-DhGdRLQR3gAQOuxohXQ0=/0x0:2375x1581/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/i/B/fUhcYYSHaPawjU1KHEhA/flamengo-x-bolivar-conmebol-libertadores-estadio-do-maracana-15-05-2024-macelocortes-nws8398.jpg)
O gol de Gerson aos 56 segundos fez o Maracanã explodir e os rubro-negros "arquivarem" o tom de cobrança. O mesmo não podia se dizer em relação a Tite. O técnico vinha sendo alvo de críticas de parte da torcida, e leves vaias foram ouvidas quando ele apareceu no telão do estádio, durante o anúncio da escalação. O gol relâmpago facilitou a jornada do Flamengo, mas não tirou a tensão dos ombros de Tite, que comemorou de forma tímida indo até o banco e abraçando os membros de sua comissão técnica e os jogadores reservas. Sua concentração era tamanha que ele nem esboçou reação no chute de Arrascaeta que passou pertinho da trave e arrancou o "uh" da torcida. Tanto no ataque quanto na defesa.
![Torcida do Flamengo contra o Bolivar](https://s2-ge.glbimg.com/fLPB45F-IYwuNFoFkDHkt2rVeJ0=/0x0:5472x3648/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/Q/N/UYLzlQQky8Fwt662VFjA/409f013b36bebe05a2e826b1ca38ec4b0ffbe1ee.jpg)
Na melhor chance do Bolívar no jogo, no chute na trave de Patito Rodríguez, o treinador ficou imóvel e colocou só as mãos na cintura ao observar o lance capital. Em vários momentos, Tite chamava o filho Matheus Bachi e Cleber Xavier, seus auxiliares técnicos, para conversar. E passava orientações aos jogadores mais próximos dele em campo: Cebolinha, Ayrton Lucas e Léo Pereira. Chegou a gritar para o time avançar. Com o Bolívar marcando alto, ele não queria que o Flamengo saísse jogando e preferia as bolas longas. Um a zero, torcida fazendo festa, enquanto o técnico não escondia o nervosismo em alguns momentos.
No ataque, Tite levantou o braço indicando Varela livre na direita. Arrascaeta viu e fez o passe, mas o lateral errou o cruzamento, para irritação do comandante, como ficou claro em sua reação corporal. Também foi evidente sua incredulidade quando o árbitro não deu uma falta clara em De la Cruz, que teve o calção puxado. Os torcedores que ainda estavam um pouco preocupados se aliviaram de vez quando Ayrton Lucas fez o segundo gol do Flamengo, aos 37 minutos. Não funcionou para Tite, que reagiu da mesma forma do primeiro e logo chamou Fabrício Bruno à beira do campo para passar instruções. Mas aos poucos a tensão foi caindo, e enfim o treinador conseguiu vibrar no terceiro gol.
![Gabigol lamenta em Flamengo x Bolívar](https://s2-ge.glbimg.com/LIWg1kvNcKMIDKiE1yQvBT2BH6E=/0x0:5032x3297/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/A/W/KQSnPHTkmeHfHdjA01wA/70.jpg)
E foi em dose dupla. Como houve dúvida se Pedro estava ou não impedido, teve revisão do VAR. Após a confirmação do gol, Tite vibrou de novo, como se fosse o quarto. E logo depois foi para o vestiário certamente mais aliviado no intervalo. Na etapa final, o técnico manteve as orientações para a defesa jogar mais avançada e também instruia a todo instante os atacantes a pressionarem as saídas de bola do Bolívar. Tite chamava os seus jogadores, apontava com os dois dedos para os seus olhos e em seguida fazia sinal de "abafa" com as duas mãos.
Depois disso, Tite passou a conviver com a pressão para a entrada de Gabigol. A torcida começou a cantar: "Ôô, êê, coloca o Gabigol nessa p...". O técnico atendeu aos pedidos e chamou o atacante junto de Lorran e Luiz Araújo. Ansioso, o ídolo saiu correndo e chegou primeiro ao banco de reservas para se trocar, enquanto ouvia dos rubro-negros: "ô, o Gabigol voltou". Porém, ainda não foi dessa vez que o camisa 10, ainda sem ritmo após voltar de suspensão, fez as pazes com a rede.
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