Diretor técnico do Vasco, Ricardo Gomes reencontra o Flamengo pouco mais de um ano e cinco meses após o AVC que mudou a sua vida. Na próxima quinta-feira, os times se enfrentam, às 19h30, no Engenhão, pela 4ª rodada da Taça Guanabara. Foi justamente no clássico contra o maior rival, dia 28 de agosto de 2011, que o agora dirigente passou o susto que mobilizou o país em torno da sua recuperação. Ele reconhece a demanda do episódio, mas evita as lembranças pela valorização do Cruzmaltino no Campeonato Carioca.

“Não quero que pensem muito nisso [primeiro clássico após o AVC]. O importante no momento é o Vasco. Quero vencer o jogo, só isso. É claro que é uma data importante, um confronto que todos sempre vão lembrar, mas a vida precisa seguir. Eu estou seguindo, o Vasco também... Não quero que lembrem apenas disso. Desejo que vejam o trabalho do Vasco, e que nosso time possa ter mais uma vitória em campo”, afirmou Ricardo Gomes ao UOL Esporte.

Médico do Flamengo, José Luiz Runco participou do atendimento emergencial ao técnico Ricardo Gomes no dia 28 de agosto de 2011. Ao lado do colega Fernando Mattar, médico do Vasco, ele amparou o treinador até a chegada da ambulância e a transferência para o hospital Pasteur. Amigo de Gomes, Runco esteve envolvido na recuperação, já que sua filha e genro cuidaram do paciente nas inúmeras sessões de fisioterapia. O profissional rubro-negro não esconde os erros da data marcante e pede reflexão para que não ocorram novamente.

“Tivemos três pontos delicados e que não podem acontecer. Foi uma confusão enorme na hora do atendimento e muita gente perto. A movimentação ficou limitada. A ambulância também estacionou de forma completamente diferente. O Ricardo precisou entrar pelo lado do carona. O árbitro não tomou conhecimento do que acontecia e prosseguiu com o jogo. Já até conversamos sobre isso. A gravidade do fato marcou bastante. Todos estavam preocupados, mas muitos nem sequer sabiam o que estava acontecendo”, afirmou.

José Luiz Runco mora no mesmo condomínio de Ricardo Gomes. Os dois se encontram com frequência e o médico do Flamengo não esconde a alegria em ver o amigo de volta ao trabalho pouco mais de um ano e cinco meses após o caso.

“Já nos encontramos muitas vezes desde que isso aconteceu. O caso dele era extremamente grave e a volta ao trabalho é gratificante para todos que já o conheciam, os que não conheciam, e principalmente para aqueles que viveram o momento. É uma satisfação enorme”, encerrou.
Na ocasião, Gomes passou mal por volta dos 20 minutos do segundo tempo e foi atendido de forma emergencial pelo vascaíno Fernando Mattar e o rubro-negro José Luiz Runco, médicos dos clubes que trabalhavam na partida. O profissional foi colocado na ambulância e levado para o centro médico do Engenhão. Na sequência, foi transferido para o Hospital Pasteur, localizado próximo ao Engenhão.

A partir daí, a angústia aumentou pelo grave estado de saúde com o qual o treinador deu entrada no centro cirúrgico. Ele foi operado pelo médico José Antônio Guasti para a drenagem do sangue que tomou 70% do cérebro e permaneceu em coma induzido por 72 horas. A evolução gradativa fez com que tivesse alta três semanas após o ocorrido.

De volta ao trabalho desde novembro do ano passado, Ricardo Gomes leva uma vida diferente da anterior. A principal mudança aconteceu em torno da medicação diária para controlar a hipertensão. O diretor técnico também segue a recuperação com exercícios e fisioterapia.

O retorno ao futebol foi recomendado pela própria equipe médica e não faltam planos para o futuro. Em recente entrevista ao UOL Esporte, Gomes revelou que ainda não assinou contrato com o Vasco por considerar que enfrenta um período probatório na nova função. Além disso, projeta a volta ao trabalho técnico logo após a Copa do Mundo de 2014. Enquanto percebe a melhora a cada 24 horas, o cartola deve acompanhar de uma das cabines do Engenhão o desempenho do Vasco contra o Flamengo. Fugindo das lembranças, o desejo é o de escrever mais um capítulo da marcante história de superação.