Abel Braga, o ex-treinador de 73 anos, é uma figura que transcende a imagem de um técnico irritado, com o rosto vermelho e mascando chiclete. Embora essa seja uma faceta reconhecível, a essência de Abel vai além, revelando um homem que, ao longo de sua carreira, dedicou-se a ajudar jogadores e clubes. Sempre com uma postura calma, ele se mostra disposto a aconselhar e acolher aqueles que precisam, mesmo enquanto enfrenta suas próprias dificuldades.

O novo documentário dos canais ESPN e Disney+, intitulado "ABEL, O GRANDE", oferece uma visão mais humana e profunda de Abel. Com uma produção de Marcelo Gomes e fotografia de Evandro Marcel Fontana e Marcelo D’Sants, o especial, disponível no Disney+ e exibido em dois episódios nos canais ESPN, convida os fãs a conhecer os bastidores de momentos notáveis, como a conquista da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2006 pelo Internacional. Além disso, a narrativa aborda a trágica perda de seu filho caçula, João Pedro, trazendo à tona a sensibilidade e a vulnerabilidade do técnico.

Entre as histórias que emergem no documentário, destaca-se a dualidade de Abel, que, embora seja calmamente afável fora das quatro linhas, pode ser explosivo no campo. Um exemplo dessa tensão ocorreu durante seus dias de jogador no Vasco. Junto a colegas como Orlando Lelé e Geraldo, ele era parte de uma defesa temida, conhecida como “a barreira do inferno”. Nesses momentos, a intimidação era uma parte crítica de seu jogo, mostrando que a força e a técnica muitas vezes coexistem. Zico e Zé Mário, companheiros daquela geração, recordam com humor e respeito essas passagens.

No entanto, a trajetória de Abel não foi isenta de exceções, onde ele acabou agindo de maneira mais impetuosa. Durante um jogo, recorda-se de um episódio em que respondeu a uma agressão com outra agressão, algo que o marcou. Já em sua fase como técnico, Abel teve um momento de tensão com o jogador Elói, que o levou a uma situação desnecessária nos vestiários, refletindo a pressão que muitos treinadores enfrentam em situações decisivas.

Outra passagem significativa de sua carreira foi no comando da Ponte Preta, em 2003. Encarando o desafio de evitar o rebaixamento, Abel se dedicou não apenas taticamente, mas emocionalmente, mostrando seu comprometimento com o clube e os jogadores. Ele monitorou de perto as dificuldades financeiras e, segundo relatos, chegou a usar recursos próprios para auxiliar no dia a dia do clube. Esse esforço não só contribuiu para a permanência da equipe na série principal, como solidificou sua imagem como um personagem querido na história da Ponte Preta.

Abel Braga, com suas conquistas, desafios e suas relações humanas, é, sem dúvida, uma figura ímpar no mundo do futebol. O documentário apresenta uma nova perspectiva sobre um homem que viveu intensamente cada momento, tanto dentro quanto fora do campo, e que seguirá sendo admirado por sua contribuição ao esporte e por seu legado de bondade e apoio aos seus jogadores.