A recente troca de farpas entre Palmeiras e Flamengo acerca do uso de gramados sintéticos trouxe à tona um debate importante sobre as condições dos campos de futebol no Brasil. O Flamengo, que liderou um movimento político contra o uso de gramados artificiais, apresentou à CBF uma proposta visando a padronização e melhoria das condições dos campos no país, junto com um pedido para banir o uso do piso sintético nas competições nacionais.
A qualidade dos gramados brasileiros tem sido um problema recorrente, intensificado pela falta de padronização, a alta carga de jogos e fatores arquitetônicos que afetam a incidência de luz solar. Enquanto isso, na Europa, há regulamentos mais rígidos em relação à manutenção dos campos. Na Champions League, por exemplo, os gramados não podem ultrapassar 30 milímetros de altura, e na Premier League, a irrigação e outros cuidados são rigorosamente controlados.
No Brasil, as exigências da CBF se limitam a que os clubes ofereçam "condições adequadas" de gramado. O debate sobre grama sintética e natural vai além da rivalidade entre clubes e é respaldado por estudos científicos sobre desempenho e segurança. Defensores do gramado artificial destacam sua durabilidade e custo de manutenção mais baixo, enquanto críticos se preocupam com os impactos na ocorrência e natureza das lesões.
Uma meta-análise da revista The Lancet, publicada em 2023, revisou 1.447 estudos e concluiu que a incidência geral de lesões no futebol é menor em campos de grama sintética do que em gramas naturais. Mesmo observando maior prevalência de algumas lesões, a evidência não é conclusiva para descreditar a utilização de gramados artificiais. O levantamento feito na Major League Soccer (MLS), igual entre 2013 e 2016, mostrou taxas de lesões bastante semelhantes entre ambas as superfícies.
Dados da NCAA, entre 2004 e 2014, revelaram que jogadores que treinavam em grama natural tinham 26% mais chances de sofrer rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA) em comparação com aqueles que utilizavam campos sintéticos. Outro estudo, focado nas lesões musculares em jogadores de elite, confirmou que a superfície de jogo impacta o tipo de contusão, mas os riscos globais permanecem semelhantes.
Atualmente, a adoção de gramados sintéticos está crescendo no Brasil, com vários estádios da Série A adotando essa tecnologia. Entre eles estão o Allianz Parque, do Palmeiras, o Estádio Nilton Santos, do Botafogo, e a Arena MRV, do Atlético-MG. A partir do próximo ano, se juntarão a eles outros estádios, aumentando a presença dessa tecnologia no futebol nacional.
A FIFA reconhece três tipos de gramados: natural, híbrido e sintético, com diferentes certificações. No Brasil, a escolha entre grama natural e sintética é influenciada por questões financeiras e operacionais. O custo mensal para a manutenção de um campo natural gira em torno de R$ 150 mil, enquanto o sintético varia entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, permitindo uma maior intensidade de utilização sem a necessidade de recuperação por longos períodos.
Embora os campos sintéticos estejam em ascensão, a maioria das arenas brasileiras ainda utiliza grama natural, que em diversas ocasiões enfrenta desafios sazonais e estruturais. Durante o verão, a espécie mais utilizada é a Bermuda Celebration, enquanto no inverno muitos clubes optam pelo Ryegrass, resistente ao frio. A escolha do tipo de grama e a manutenção correta são fundamentais para garantir a qualidade dos campos de futebol no Brasil.




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