Terê 2014, o retorno

25/5/2014 11:00

Terê 2014, o retorno

Terê 2014, o retorno
A primeira vez que cobri a seleção brasileira em Teresópolis foi durante os preparativos para a Copa de 19878, na Argentina. Ainda não havia a concentração da CBF, mas os treinos já eram na Granja Comary e os jogadores ficavam hospedados no Hotel Pinheiros, do outro lado da cidade. O técnico era Cláudio Coutinho e as estrelas daquele time, Rivelino, Zico, Reinaldo e Leão.

Minha relação com a simpática cidade serrana, porém, vem de muito antes. Durante 40 anos, meus pais tiveram uma pequena, mas simpaticíssima casa de veraneio, no Vale das Iúcas, onde passei a maioria das minhas férias, desde a adolescência até meados dos anos 90.

Impossível deixar de lembrar dos grandes carnavais na Serra (no circuito Iúcas, Ingá, Higino); das indefectíveis e encarniçadas partidas de vôlei, nas manhãs do clube; dos divertidos torneios de sinuca; do papo vadio e gostoso na piscina; dos jogos de xadrez com meu pai e meu avô, na varanda de casa; da disputa no “War”, envolvendo a família e os amigos, e das serestas à noite, comandadas por seu Geraldo, pai da Sueli e do Marcos.

Eu gostava tanto de Teresópolis que, após o meu segundo casamento, antes de nascer a minha filha, resolvi comprar também uma casa por lá. A de meus pais já estava pequena pra tanta gente, embora colchonetes e almofadas, além de um sofá-cama e uma dragoflex (será que os mais novos sabem o que é isso?) quebrassem o galho.

Chegamos a abrigar, nas Iúcas, até 14 pessoas, numa casinha pequenina de apenas três quartos (o terceiro era o da empregada, que quase nunca levávamos e tomei pra mim). Nesses dias de lotação recorde, o desafio para os que dormiam na sala era pegar no sono antes do meu avô, que roncava como uma locomotiva a vapor. Autêntica gincana.

Foi em Terê que pude ter o meu primeiro cachorro, um vira-latas escolhido a dedo: era o único disponível, na lojinha que vendia cães, na cidade! Quando o levamos ao veterinário, o grande Zé Pereira, o diagnóstico foi de rolar de rir.

— Vocês compraram 70 cruzeiros de vermes...

Em tempos de solteiro, o grande programa à noite eram as paqueras no Alto, próximo do cinema e da loja de sorvetes. Ganhar uma “minhoca” (moça que morava na cidade) era mais fácil do que uma “veranista”. E não faltavam meninas lindas! Algumas, passando as férias, só queriam aventuras na serra. Quando chegavam no Rio, cada um pro seu lado. Era o início da revolução sexual.

E o lado gastronômico? Os almoços na Italiana e os cafés na Taberna Alpina! Até hoje, só de lembrar, dá água na boca. E ainda havia a Casa do Fondue, ali numa esquina, no Alto. Que delícia!

Naqueles anos dourados fazíamos desafios entre os clubes. Cansamos de ir jogar vôlei contra o Teresópolis Country Club; o Golf, a Granja Comary etc. Só não dava para encarar o Ingá, que tinha um timaço, com jogadores do CIB: Cado, Mones, Luiz Alberto... Ô, tempo bom!

Foi, aliás, no Ingá que acabei comprando a minha casa, quando voltei da Europa, onde fui correspondente, em, Madri, em 1987. Naquela época, infelizmente, Teresópolis vivia um processo de decadência. Prefeito bicheiro, favelas tomando conta de cada bairro e roubos constantes nas casas de veraneio. Mas nem isso me desanimava. Eu amava a cidade e tudo que ela representava.

A paixão durou até 1992, quando veio a grande porrada: perdi meu pai, meu ídolo, meu maior amigo, meu herói. E toda a magia do lugar começou a se esvair. Na minha cabeça, Terê só fazia sentido com o “velho” presente. Era ele sempre o mais entusiasmado para subir, nos finais de semana e nas férias. Era o primeiro a chegar no ginásio, para as peladas de vôlei (e jogava muito bem). Era o que comandava tudo. Teresópolis era a cara dele.

Foi descendo de lá, para o enterro de um amigo, que papai sofreu o infarto, que acabaria provocando o derrame e a sua morte, dias depois. Ainda passei algum tempo subindo a serra, mas a dor da saudade era imensa e foi matando todo o prazer de antigamente. Vendi minha casa e embora mamãe mantivesse a dela ainda durante vários anos, passei a ir pouco. Porque sempre doía. Muito.

Mais de vinte anos depois, volto agora para uma temporada — novamente acompanhando os treinamentos de uma seleção brasileira para uma Copa. Tomara que o time de Felipão tenha mais sorte que o de Coutinho, que voltou invicto da Argentina, mas apenas com o título de “campeão moral”.

Aconteça o que acontecer, sei que recordarei do “velho” a cada dia e em cada esquina dessa cidade. Minha casa de veraneio, atualmente, é em Itaipava, onde tento encarnar para os meus filhos e para o restante da minha família o papel que meu pai teve pra mim. Lá, tenho não um, mas cinco cães que adoro e me esperam a cada final de semana.

Eles, certamente, sentirão a minha falta enquanto eu estiver em Teresópolis, sentindo falta de meu pai, pra mim o símbolo dessa cidade. Que a Copa seja emocionante e bem sucedida para o Brasil.

919 visitas - Fonte: Blog do Renato Maurício Prado (O Globo)


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