Estreante no Estadual, LSB tem como objetivo surpreender o Macaé e fazer final contra o Flamengo (Foto: Marcello Pires)

Mesmo com apenas três equipes, o Estadual masculino de basquete de 2014 pode ficar marcado para sempre na história de Flamengo e Liga Super Basketball (LSB), adversários deste sábado, às 18h, na Gávea, na abertura da competição. Se para os rubro-negros o título representaria o segundo decampeonato de sua história na modalidade, para o estreante da Baixada Fluminense o resultado é o que menos importa. Formado pelos melhores jogadores entre os 32 times que compõem as duas divisões da liga criada em 2007, a LSB quer usar sua primeira participação no Estadual como vitrine para divulgar o trabalho desenvolvido na Baixada e na Zona Oeste do Rio de Janeiro e sonha fazer a final contra o atual bicampeão do NBB e campeão das Américas.

- Nossa finalidade com a criação da LSB é dar oportunidades para os atletas que não têm muitas chances no mercado e iniciar as categorias de base. Temos muitas crianças na Baixada e na Zona Oeste com um potencial enorme, mas que não jogam em clubes e não têm condições financeiras de pagar passagens para ir aos treinos. A procura foi tão grande desde a nossa criação, que em 2011 tivemos que criar uma segunda divisão. Hoje temos 32 equipes no masculino, divididas em séries A e B, e seis no feminino. Todos nossos jogos têm estatísticas, desde a categoria Sub-13 até o adulto - explicou o coordenador da LSB, Luis Cláudio Bonifácio.

As realidades entre o milionário time do Flamengo e a estreante Liga Super Basketball são tão incompatíveis que, enquanto o clube da Gávea conta com quatro jogadores que estiveram na Copa do Mundo de Basquete da Espanha em seu elenco, a "seleção" da Baixada Fluminense possui atletas que viajam até quatro horas para treinar e que já tinham até parado de jogar.

Sem recursos para pagar salários, a LSB conta com dois patrocinadores apenas para custear as taxas de arbitragem e da Federação e sequer tem recursos para bancar a viagem para Macaé, adversário do dia 18 de outubro, em partida válida pelo returno da competição. Se não bastasse o problema financeiro, a logística é um dos maiores obstáculos enfrentados pelos quatro treinadores da equipe na preparação visando à estreia no Estadual.

- Nossa primeira dificuldade é conseguir reunir todos os jogadores para treinar. Fizemos apenas três treinos para a estreia contra o campeão brasileiro e da Liga das Américas.
Temos cinco jogadores que moram em Macaé, um em Petrópolis e dois em Niterói, e todos têm suas vidas profissionais paralelas. Todos jogam de graça, por amor à modalidade, e o pessoal de Macaé vem para o Rio por conta própria. Eles conseguem um carro ou uma van e racham o combustível para virem treinar e jogar. É uma logística complicada - afirmou Bruno Freire, técnico de Queimados e que divide o comando da LSB com outros três treinadores: Sérgio Garcia, da Escobase, equipe de Campo Grande, Jorge José, do Jacarepaguá Tênis Clube, e Marcelo Berro, do Perphorma, representante da Fazenda Botafogo.

Bruno Freire, Sérgio Garcia e Marcelo Berro são três dos quatro treinadores da Liga Super Basketball (Foto: Marcello Pires)

Mesmo sem estrelas, a LSB conta com alguns jogadores que já vestiram a camisa de grandes clubes do Rio de Janeiro, como Douglas, Marcelão e Eduardo Schwin, todos com passagens por Vasco e Flamengo, além de Crucillo e Tiaguinho, que defenderam o Macaé na última temporada do NBB.

Aos 34 anos, Schwin divide seu tempo entre as quadras de basquete e a engenharia, profissão que garante seu sustento. Com passagens por Vasco, Flamengo, Botafogo e Tijuca, o ala lamenta a ausência de outros grandes clubes, enaltece o projeto desenvolvido pela Liga Super Basketball e não vê a hora de enfrentar o Flamengo.

- A LSB veio para resgatar esse pessoal que sempre foi da quadra, mas por falta de oportunidades foi obrigado a migrar para o basquete de rua. Esse projeto é muito mais importante do que qualquer resultado, pois dá oportunidade de muitos atletas voltarem a jogar. Enfrentar o Flamengo é uma vitrine para qualquer um. Não vamos entrar com medo, todo jogador gosta desse tipo de partida - disse o ala do Pick and Roll Team e um dos destaques da LSB.

Estudante de educação física e jogador da seleção militar, Jandir Acuña sonha alto e quer aproveitar o jogo contra o Flamengo e a participação da LSB no Estadual para mostrar que ainda pode integrar grandes equipes do basquete brasileiro.

- Existem grandes atletas no Rio de Janeiro, mas falta iniciativa dos clubes e interesse dos patrocinadores para investir em times adultos. Estudo na UFRJ e vamos representar o Rio de Janeiro no JUBS (Jogos Universitários Brasileiros). Joguei muito tempo no interior paulista e ainda almejo defender um grande clube do basquete. A motivação de enfrentar o Flamengo é automática e vem desde as categorias de base - disse o ala-armador da UFRJ.

Quem também sonha com voos mais altos é Carlos Cesar, o Carlinhos, ala de 2,01m com passagens pelas categorias de base de Flamengo e Fluminense.

- Quem não é visto não é lembrado. Vou encarar o Estadual como preparação para jogar a Liga Ouro, competição de acesso ao NBB. Estou conversando com algumas equipes e não posso ficar parado - disse o jogador do Perphorma.

FLAMENGO QUER USAR ESTADUAL COMO PREPARAÇÃO

Olivinha é uma das armas do Flamengo contra a LSB na estreia do Estadual (Foto: Thierry Gozzer)

Sem Marcelinho, Marquinhos e os argentinos Walter Hermann e Nicolas Laprovittola, que ganharam um descanso após a participação de Brasil e Argentina na Copa do Mundo da Espanha, o Flamengo quer usar o Estadual como preparação para a disputa do Mundial Interclubes, Contra o Maccabi Tel Aviv, dias 26 e 28 de setembro, na Arena da Barra.

- Creio que qualquer jogo daqui para frente será importante para o nosso time, mesmo não contando com os jogadores que estavam na Copa do Mundo. Para os atletas que estavam aqui treinando, é uma oportunidade boa de começar a colocar em prática as jogadas e as coisas novas que farão parte desta temporada. É um momento importante e vamos tentar começar buscando não só a vitória, como também a preparação ideal para o Mundial Interclubes e os demais desafios que teremos na sequência - disse Benite.

Formado na base do Flamengo, Olivinha reconhece a importância do Estadual como preparação para o Mundial, mas não esconde a ansiedade em ajudar o clube rubro-negro a conquistar seu décimo título consecutivo pela segunda vez na história.

- A expectativa é de começarmos bem a temporada, apesar de serem apenas três equipes no Estadual. Lógico que seria melhor se fossem mais equipes, mas é o que temos e vamos encarar o campeonato com seriedade na busca pelo décimo título seguido. Não estamos com a equipe completa e estamos só no meio da nossa pré-temporada. Conheço alguns jogadores da equipe da LSB, que inclusive já jogaram comigo no próprio Flamengo anos atrás - disse o ala-pivô.