Quando assisti pela primeira vez ao bombado vídeo do então garoto Alexandre Guzzardi, mais conhecido como “filho do Costinha”, me identifiquei de cara. Qual menino rubro-negro não tremeria na base ali no final dos anos 70, início dos anos 80, ao trombar com o maior ídolo da história do clube? Dei uma travada bem parecida com a dele nos idos de 1989, também na Gávea, depois de um treino do Fla.

Era meu aniversário de 14 anos e a Rita, uma vizinha descolada lá da Tijuca, tinha conseguido um free pass de presente para este que vos escreve dar uma passadinha no vestiário do futebol profissional. Mineira de Itabirito, terra de Telê Santana – que na época comandava o Flamengo – Rita comeu pelas beiradas, levou o treinador conterrâneo na conversa e pimba, lá estava eu com o recém-comprado VHS de “Futebol pra quem começa” em mãos. Zico saiu do treino, me viu com a fita na mão e emendou:

- E aí, rapaz... gostou do vídeo?

Caramba, era o Galo me dirigindo a palavra. Balbuciei alguma coisa mas sei que não disse lé com cré, travei mesmo, pane geral. Ele tentando puxar assunto e eu meio em transe. Tiramos uma foto, ganhei autógrafo na camisa e fui embora anestesiado. Naquela época a chapa precisava ser revelada, não tinha essa moleza de digital, Instagram, o escambau. O suspense permaneceu até o dia de ir ao laboratório buscar o envelope com os negativos e as fotografias impressas. Olha o passarinho e... tudo queimado! Era como se aquele dia mágico não tivesse existido, blecaute total. E agora, José?

Um mês se passou e lá fui eu de novo para o meu “dia da marmota”. Rolou tudo igualzinho: eu travado na porta do vestiário, Zico passando depois do treino, pose pra fotos e segue o jogo. Ufa, dessa vez deu certo, tô olhando pro quadrinho com o click de 24 anos atrás enquanto batuco as maltraçadas aqui. Nesse tempo todo, graças à profissão, de tanto entrevistar o filho do Seu Antunes para os mais diversos canais de TV, acabei estreitando o laço até poder dizer: fiquei amigo do Arthur. Trocamos e-mails com frequência, falamos ao telefone às vezes e bato cartão no Jogo das Estrelas desde 2004 pra garantir aquele abraço de fim de ano.

E toda vez que isso acontece, volto a ter 14 anos e lembro do Alexandre. Dá vontade de cutucar alguém perto e dizer: eu também vi o Zico.