Carlos Leite abre o jogo sobre relação com clubes e nega poder na Seleção

20/3/2013 09:54

Carlos Leite abre o jogo sobre relação com clubes e nega poder na Seleção

Representante de 90 jogadores, empresário garante que não sugeria nomes a Mano Menezes: 'É muita fantasia que se faz e nunca se prova'

Carlos Leite abre o jogo sobre relação com clubes e nega poder na Seleção
O acaso marcou o início da carreira de Carlos Leite como agente de jogadores. Em 2002, Léo Lima, então jogador do Vasco, recebeu uma ligação e passou o telefone para o amigo, apresentado ao interlocutor como “seu empresário”. Vascaíno, Leite gostou do cartão de visitas, decidiu vender as quatro lojas de pneus de sua propriedade e caiu na estrada do futebol. No meio do lucrativo caminho, polêmicas.

Depois de dez anos - tempo em que foi alvo de questionamentos e insinuações principalmente por ser representante de Mano Menezes -, ele decidiu dar fim ao que chama de “fantasias”. Durante 1h30m de entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, falou abertamente sobre as ligações com Vasco, Corinthians, Grêmio, Bahia, Flamengo, agenciamento de jogadores e, principalmente, Mano Menezes e a seleção brasileira.

Carlos Leite nega que tenha sido favorecido na relação convocação x venda de jogadores:

- Jamais. As pessoas, devido a tudo que falam por aí, podem não acreditar, mas nunca troquei três palavras com ele (Mano) sobre os jogadores de futebol. Não era minha função. A partir do momento em que ele foi para a Seleção, não participei da conversa dele com o presidente da CBF na contratação, a única coisa de que participei foram os contratos publicitários, pois era o meu trabalho. Fora isso, não tenho que dar opinião. É muita fantasia que se faz e nunca se prova absolutamente nada.

O empresário levanta a bandeira para regulamentar a profissão de agente de futebol, garante que não tem privilégios no Flamengo por ser amigo do diretor Paulo Pelaipe, critica Bebeto (ex-diretor das divisões de base da Seleção) e José Maria Marin.

O empresário, que agencia cerca de 90 jogadores, admite que colegas de profissão prejudicam a imagem da categoria. Ele diz saber de histórias de agentes que aliciam jovens valores com ofertas de laptop, jantares em bons restaurantes e meninas que levam para conhecer o mundo.

Leite diz que aceitou conceder a entrevista porque sua filha mais velha, de 14 anos, tem acesso à internet e lê notícias sobre o pai, como a acusação de outro empresário de que ele teria “roubado” Douglas Baggio, atacante da base do Flamengo. Seguro diante dos questionamentos, ele alterna voz serena com firmeza, bate na mesa, risca um papel, arregala os olhos e revela que, em um dos telefones celulares, tem mais de mil contatos.

Da sua vida pessoal, Carlos Leite diz que não tem estilo musical de preferência, exalta seu lado família, revela que viajar para Angra dos Reis tem sido sua válvula de escape. Gosta de bons restaurantes e vinho. As peladas estão suspensas por ordem médica. O jogo do empresário, agora, é outro.


GLOBOESPORTE.COM: Como você começou no futebol?
CARLOS LEITE: Meu início foi com o Léo Lima. Eu tinha quatro lojas de uma rede francesa de pneus e ele começou a frequentá-las para mexer no carro. Eu, vascaíno, vivia em São Januário como torcedor na época. Um belo dia, o convidei para almoçar na minha casa, como torcedor e tocou o telefone dele. Era um agente querendo comprar a procuração dele. O Léo passou o telefone e disse: “Fala com meu empresário aqui do lado”.

Assim do nada, de surpresa?
De surpresa. Falei: “Cara, você está maluco?” Ele disse: "Já fui enganado no futebol e gostaria que você fosse meu empresário”. Isso aconteceu no fim de 2002 e despertou o interesse de entender como funcionava o meio. A partir dali, vendi as lojas e passei a me dedicar exclusivamente ao futebol.

E já no início dava lucro?
No início, não. Financeiramente, não tive retorno. Foi uma aposta. Mas no ano seguinte conheci o Jorge Mendes (empresário português) e fiz uma grande amizade com ele. Passei a ser representante dele no Brasil. As coisas começaram a acontecer. O Jorge é o cara que me deu oportunidade de conhecer melhor como funciona o futebol.

Você e o Jorge ainda têm uma relação próxima?
Temos. Depois de três anos, seguimos caminhos diferentes. Continuamos amigos e recentemente estive com ele. Nos encontramos e revivemos coisas do passado. Brinco que ele é meu professor.

Por que no Brasil se criou algo tão negativo em relação ao empresário?
Você chega na Europa, vai aos camarotes que agentes têm nos estádios e vê dirigentes, treinadores e jogadores. Uma cultura normal e natural, porque todo mundo faz parte desse contexto do futebol. Aqui no Brasil, aconteceu de muitos colegas no passado terem feito coisas que não foram corretas, como tirar jogador de um clube sem retorno. Até amparado pela lei, tirar depois de três meses de salários atrasados. Isso fez com que se criasse uma coisa ruim. E, em vez de os empresários tentarem combater, se calaram. Ninguém fala, ninguém defende, e o empresário virou o grande vilão da história. Em uma negociação, temos os clubes e o jogador. O que a gente faz? Une as pontas. Esse é o nosso trabalho. Infelizmente, criaram esses fantasmas. Há uma guerra entre os próprios empresários. Alguns agentes têm visão distorcida do que é representar um jogador. Dizem “meu jogador”. Não, não é seu jogador. É jogador do clube. Somos unicamente prestadores de serviços. Os próprios agentes sujam o nosso nome. Todo mundo deve ter empresa constituída, licença dada pela CBF, pagar o seguro anual de responsabilidade civil para trabalhar. Os clubes deveriam cobrar mais isso e não negociar com quem não está credenciado.

E os clubes não cobram?
Tenho meu escritório, minha empresa, pago o seguro, mas a maioria não é cobrada. Temos a maioria trabalhando na ilegalidade. A guerra fez com que fôssemos tachados de grandes vilões do futebol. Vivemos no país do futebol, mas vamos para outras áreas: o artista tem o seu agente, o cantor tem o seu agente. Jogador de futebol também tem. Qual é a diferença? Ambos estão ali para buscar o melhor para o seu cliente.

Quais as atribuições de um agente de futebol?
Ele está ali para dar suporte jurídico, financeiro, de imprensa, para fortalecer a marca de cada jogador. O Neymar, por exemplo, tem um staff por trás muito bem-sucedido. Devemos orientar o jogador não só no futebol, mas também fora de campo. Temos que saber se ele está indo demais para a noite, controlar, conversar. Fazer o imposto de renda correto do jogador, pois, quando ele sai do país, temos que dar suporte de tributação correta. Essa responsabilidade que nós temos é que faz a diferença no sucesso do agente. Mas, infelizmente, os agentes preferem brigar. Já ganhei e já perdi jogador, mas nunca vão me ver na imprensa lamentando. Se perdi (o atleta), foi porque em algum momento falhei. Ou, de repente, o cara acordou e não quis mais trabalhar comigo.

Você representa outro treinador além do Mano Menezes?
O único treinador que represento é o Mano. É público. Todos os treinadores têm agentes e ele assumiu isso em 2007. Muita coisa é dita, mas foi tudo transparente. No Corinthians, não tem uma vírgula para falar. Falam demais, mas, infelizmente, a gente vive num país em que é mais fácil falar. As pessoas atacam, mas não provam. Saiu no jornal que ofereci o Mano para três clubes, isso é um absurdo, falta de respeito sem tamanho. Tenho relação com os técnicos desses clubes. Tenho que pegar o telefone, ligar para essas pessoas e dizer que não vai acontecer. Neste momento, os projetos do Mano são outros. Ele, no momento certo, vai colocar. A carreira é dele, eu sou o agente, mas as decisões são dele.

Você sugeriu nomes para convocação quando o Mano comandava a Seleção?
Jamais. As pessoas, devido a tudo que falam por aí, podem não acreditar, mas nunca troquei três palavras com ele sobre os jogadores de futebol. Não era minha função. A partir do momento em que ele foi para a Seleção, não participei da conversa dele com o presidente da CBF na contratação, a única coisa de que participei foram os contratos publicitários, pois era o meu trabalho. Fora isso, não tenho que dar opinião. Como não dou quando está em clube. Pode perguntar a todos os clubes com que tenho relação se já houve conversas para escalar A, B ou C, se influencio de alguma forma.

A acusação mais frequente era: Mano convacava o jogador para que o Carlos Leite vendesse a seguir. O que você tem a dizer sobre isso?
No tempo em que o Mano trabalhou na Seleção tive cinco jogadores que represento convocados. Dos cinco, três já tinham sido convocados anteriormente por outro treinador: André Santos, campeão da Copa das Confederações com o Dunga, Lucas Leiva, que disputou as Eliminatórias para a Copa de 2010, e o Cássio, que teve uma convocação com o Dunga. Antes do Mano, não vi ninguém citar que eu representava esses jogadores. Mas, quando o Mano convocou, começaram a historinhas. Criam as coisas, não provam nada e fica uma situação desagradável. Vou te falar: isso realmente me incomoda. Se disser que não incomoda, vou mentir. Procuro ser o mais correto possível. Tenho a linha reta na vida, não tem clube, jogador e treinador para falar algo sobre a minha pessoa em dez anos de trabalho. Quem cria essas histórias?

Mas convocação não facilita uma venda de jogador?
Não tenha dúvida. Seja na base ou na principal, é lógico que vai ter valorização. Mas isso não quer dizer que vai ter uma venda.

Você já fez uma venda instantânea após uma convocação?
Não, tive cinco jogadores convocados. O Cássio continua no Corinthians. Disseram que ele seria vendido, mas ficou e conseguiu resultados. Lucas continua no Liverpool. André Santos estava no Fenerbahçe e depois no Arsenal. O Renato Augusto estava no Bayer Leverkusen. O Rômulo foi vendido (do Vasco para o Spartak de Moscou), mas antes das Olimpíadas. Se eu soubesse que ele seria convocado, eu não venderia antes dos Jogos. Vou dar o exemplo do Fagner, que é representado por mim. Há dois anos, ele era o melhor do Brasil na lateral direita, foi para a seleção do Brasileirão e do Carioca, tinha idade olímpica e não foi convocado. Ninguém fala? Seria fácil convocá-lo. Todo mundo pedindo, idade olímpica... E, durante o período olímpico, ele foi negociado (do Vasco para o Wolfsburg). Será que, se houvesse sacanagem e esquema, eu não iria esperar e falar com o Mano? Chegou o momento de falar e expressar isso. Todo mundo fala do empresário e alguém tem que levantar essa bandeira. A partir de agora, vou me defender do que falam.

Por que só agora?
Minha filha tem 14 anos e já acessa a internet. Ela lê certas coisas, e isso acabou me despertando. Estou há cinco anos escutando uma série de situações. No Corinthians, escutei demais. Mas acho que o trabalho no Corinthians foi bem feito, né? Acho que ajudei um pouquinho. Tenho uma parcelinha nesse trabalho. Indiquei alguns jogadores, tive algumas participações importantes dentro do clube. Como foi noticiado, até empréstimo de dinheiro eu dei, e não tenho problema em falar. Tudo que faço, a Receita Federal sabe. A única que pode saber da minha vida fiscal é a Receita. Faço tudo 100% dentro da legalidade. Os resultados estão aí. Tem o presidente, o diretor de futebol, tem um conselho deliberativo, fiscal. Será que eu passo por tantos clubes e nenhum deles nunca falou nada? É o caso do Grêmio agora. É uma oposição que está lá. Quem está lá agora é o doutor Fábio Koff, que é adversário político do Odone, e minha relação tem sido espetacular. Ajudei na negociação do Souza, na compra com o Porto, para ficar no clube. Trouxemos o André Santos, falamos de outros negócios. Será que eu consigo ter todo mundo dentro do bolso, como estão querendo demonstrar? Não. É trabalhar com correção. O Flamengo é outro caso. Com a outra gestão, eu negociei o Ramon. Nessa gestão agora, eu negociei três jogadores, e é oposição. E aí? Se tiver alguma coisa errada, o cara vai trabalhar comigo? Não vai. E continua trabalhando.

Você falou do Corinthians e do Grêmio. E o Vasco, como começou a relação, a parceria?
Foi um trabalho também interessante, bem parecido com o do Corinthians, num momento difícil do clube. E ajudei financeiramente, com colocação de jogadores, usando nosso prestígio em relação a outros clubes. Acho que o resultado também foi positivo. Será que o Carlos trabalha com o Grêmio e tem resultado; trabalha com o Corinthians e eles estão tendo resultado; trabalha com Vasco tem resultado? O Bahia, a gente também fez um trabalho bacana com eles. Estava havia anos sem disputar a Série A, ajudamos. Será que todos os clubes por onde passo tem sacanagem? Não, não tem. Tem seriedade. Por que consigo manter essas relações depois que entra uma outra gestão de oposição? Porque as pessoas veem correção.

O papel do agente de futebol é mal compreendido?
Acho que sim, porque nunca foi discutido. Não digo que o jornalista seja o culpado por isso. Se a gente falasse mais, mostrasse para vocês nossa atuação, seria mais fácil, mas não temos esse espaço. Não vejo o agente sentar com naturalidade nos programas esportivos e falar um pouquinho da nossa atuação.

Como é o processo de captação de novos talentos?
Vou falar pela minha empresa. Tenho pessoas olhando os jogos. Para poder representar, cada vez mais temos que ir ao jogador mais novo. Existe uma lei agora que o jogador menor de idade não pode ter representante. Mas funcionava assim: cada vez mais cedo íamos olhar o jogador que tivesse talento e poderia trabalhar conosco. Tenho uma equipe de pessoas olhando jogadores. Eu vejo futebol praticamente todos os dias, gosto do que faço e tem gente espalhada pelo Brasil sempre informando, os famosos olheiros. Essa é uma fase. A outra é com jogador que já está formado. Esse geralmente vem por indicação. Por exemplo: eu tenho três jogadores num clube e os outros acabam vendo a forma como a gente atua. E ele acaba indicando, pois o outro pode estar insatisfeito com o agente dele, ou não tem empresário ou terminou o contrato com o empresário. É o nosso trabalho. Vamos aos jogos, estamos presentes, não só eu, mas toda a minha equipe, e todo mundo procurando resolver os problemas dos jogadores. Dessa forma que a gente vai captar os jogadores.

Por que um jogador escolhe trabalhar com Carlos Leite? O que você oferece?
Ofereço trabalho. Ter as relações que temos com os clubes, ter a relação com as empresas de material esportivo para poder oferecer uma chuteira, dar todo o suporte necessário para que ele possa desenvolver a carreira. Existem alguns momentos em que a gente tem que dar uma ajuda financeira para a família, ajudar no pagamento de um aluguel, num momento de dificuldade. Mas não faço disso uma prática. Não compro procuração. Não posso pagar para trabalhar, há uma inversão de valores. Você não vai contratar um advogado e perguntar quanto ele vai te pagar para te defender. Da mesma forma que o jogador não pode vir para mim querendo eu pague para trabalhar com ele. Houve, agora diminuiu bastante, muitas pessoas entrando no futebol com o dinheiro, comprando procurações. E tenho uma norma dentro da empresa que é a seguinte: quem vem por dinheiro, vai por dinheiro. Se o cara ganha um pouquinho mais ali, ele acaba indo. Nós não temos essa prática e nossos jogadores sabem disso. Temos uma relação de amizade, respeito.

Além do dinheiro da procuração existem outras manobras pouco convencionais para conquistar um atleta?
Não me preocupo muito com o que os outros fazem, senão deixo de fazer o meu bem feito. A gente escuta muita história, de dar laptop, pagar jantares em bons restaurantes. Há as histórias das meninas que eles levam para conhecer o mundo.

Mas já perdeu jogador por causa disso?
Por causa disso, não. Até porque perdi poucos jogadores ao longo desses dez anos. Se perdi quatro, cinco, foi muito.

O primeiro empresário do Douglas Baggio (atacante da base do Flamengo) reclamou que você roubou o jogador. O que aconteceu?
Como a gente não tem voz, minhas filhas entram na Internet e vão ler que o pai dela está roubando jogador. Como assim? O rapaz disse que faço isso sempre. Ele (Douglas Baggio) rescindiu o contrato e me procurou para fazer um novo. Ele (agente do Baggio), se sentiu atingido, que procure o cômite de litigios da CBF. Se amanhã conseguir regulamentar nossa profissão, vai ter algo como a OAB, CREA, para discutir isso.

Como é a sua relação com outros empresários?
Existe uma disputa pelo mercado, mas tem que ficar no campo profissional. Se tenho um atleta comigo, ele está insatisfeito e pede para ir embora, vai embora. Há o respeito entre os agentes que hoje estão numa situação mais confortável com o mercado. Hoje estou bem, amanhã posso estar por baixo. Tenho que concordar que é uma relação muito difícil, não é saudável, pois a disputa é muito feroz. Se perder um jogador, perdi. Há pouco tempo, tive um exemplo desse. O Welinton, zagueiro do Flamengo (atualmente emprestado ao Alania, da Rússia), trabalhava comigo e chegou no meu escritório, para mim, sem motivos, e pediu para rescindir o contrato. Tentei argumentar, mas ele disse que não estava feliz e queria seguir a vida dele. Então, deixei ele seguir a vida dele. Em dez anos perdi jogadores? Perdi. Algum dia entrei na Justiça? Nunca entrei nem entrarei.

E qual é a solução para colocar regras em um mercado tão hostil?
Tenho discutido um pouco sobre isso com o Cláudio Guadagno, com quem nem tinha relação. Ele sugeriu uma situação que achei muito interessante: a gente precisa regulamentar a nossa profissão. Estamos amadurecendo a ideia, procuramos especialistas na área, buscando um estudo quanto a isso. Toda profissão tem uma regulamentação. A nossa tem simplesmente a CBF, que tem o comitê de litígio, a carteirinha, mas não temos uma regulamentação. Importante ter uma entidade defendendo nossos interesses. Temos a Abaf, de que nunca participei. Temos que ter direitos e deveres. Não podemos escutar um diretor de seleções dizer “ah, aqui agora não tem empresário” sendo que até ele mesmo já foi empresário. Não posso escutar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol dizer “aqui não tem mais empresário”. A gente faz parte desse mundo. Tem que haver respeito. O fato de estarmos num saguão de hotel para dar um abraço no jogador, para cumprimentar alguém, não pode ser visto como ruim. Não está sendo nem um pouco bom escutar isso dessas pessoas. Eu me sinto incomodado.

Como é a relação entre agentes e jogadores?
Com todos os meus jogadores tento manter uma relação profissional e também de amizade. Até porque você pega meninos muito novos e tem que fazer uma série de trabalhos. Tem o trabalho social de pegar um menino desses, alguns que vêm do nada. E você precisa ensinar um pouco da vida. Se alguém tiver alguma coisa para provar de algo que fiz, que prove. Por que no resultado ruim de uma competição o problema é o empresário? Tem que se cobrar, se houve falha, do jogador, do treinador, se houve excesso do agente, colocá-lo no lugar dele. Mas não chegar e generalizar.

Como foi a aproximação com o Flamengo? Qual sua relação com o Paulo Pelaipe?
Minha relação com o Flamengo vem desde 2005. Naquele ano, participei da negociação do Ibson para Portugal. Depois disso, passei a representar o Renato Augusto. Desde essa época, tenho vários jogadores no Flamengo, que entraram, saíram, foram negociados. O que acontece é que num determinado ponto os seus jogadores se encaixam num perfil que estão precisando, em outros momentos, não. No ano passado, eles precisavam de um lateral-esquerdo e me procuraram em relação ao Ramon. Nessa direção agora, eles contrataram o Paulo Pelaipe para ser o diretor de futebol. O Paulo tem uma relação comigo, assim como o Rodrigo Caetano (Fluminense) tem, como o Edu (Gaspar, do Corinthians) tem, como o Anderson Barros na época do Botafogo tinha. Todos os diretores de futebol espalhados pelo Brasil. Esse é o nosso trabalho, fazer relações. Realmente, existe uma relação um pouco mais próxima com o Pelaipe, que vem desde 2005, quando ele trabalhava no Grêmio. Depois, ficou fora do mercado, voltou a trabalhar e temos essa proximidade, como tenho com outros. Fiz três negociações com o Flamengo (Elias, Gabriel e Wallace), toda a diretoria estava sabendo. Foram negociações que eu acho que não têm muito o que falar.

Mas existe privilégio para você no Flamengo hoje?
Nenhum, nem quero privilégio porque não preciso. Você acha que um treinador de futebol vai dar preferência a um jogador que não seja interessante? Ele quer ganhar. O treinador vai ser burro de botar um jogador que ele não queira? Tenho jogadores no Flamengo, Vasco, Botafogo. O Rodrigo Caetano está no Fluminense, e eu não tenho jogador, e ninguém fala disso. O que você precisa é ter bons jogadores que os clubes vão querer.

Muito se fala de contrapeso na negociação. Existe isso, leva jogador x, renomado, mas completa com um jogador que não está tendo oportunidade...
Se eu falar que não existe isso, vou estar mentindo. Não gosto de mentira. A gente procura trabalhar com os melhores. Existem momentos em que você vai falar o seguinte: "Pode colocar esse jogador que ele vai dar resultado". Às vezes, o cara não conhece. Ele vai acreditar naquilo que você está falando, no seu histórico de trabalho. Não é o fato de “Bota esse, que eu levo esse”. O que pode acontecer é que o cara vai botar um jogador que ele não conhece e a que a gente acredita que ele terá futuro. O Cássio, quando foi contratado no Corinthians, foi motivo de piada. E aí? Foi indicação minha. Todo mundo perguntando “Quem é esse cara?”, ele nunca agarrou. E foi um dos principais jogadores nas conquistas do Corinthians, tanto na Libertadores como no Mundial.

O Flamengo passa por uma dificuldade financeira. O Vasco e Corinthians, quando você deu uma ajuda forte, também. Isso foi estratégia ou percepção de mercado?
Percepção de mercado. Começou com o Grêmio, primeiro clube que estava com uma dificuldade financeira. Em 2005, o novo presidente tinha dificuldades de contratar e também de vender jogadores para fazer caixa. Naquele primeiro momento, quando eu fiz a venda do Anderson para o Porto, não tinha estratégia, foi um acaso. Quando aconteceu no Corinthians, foi a casualidade de o clube precisar de um treinador e eles procurarem o Mano. Dali, criei uma relação muito forte com eles, a ponto de também ajudar financeiramente. Depois desse momento, eu comecei a enxergar um pouquinho sobre isso. O Vasco foi um pouco disso. Enxergamos que era um clube de grande potencial, que passava por momento difícil, que seria interessante essa ajuda. Claro que no futuro proporcionaria bons negócios. Isso não quer dizer que tenha sacanagem.

E no Flamengo?
No Flamengo, eu já tinha um trabalho, e vem a direção nova, que tenta modificar um pouco a forma de trabalhar. Com uma nova direção, achei interessante fazer esse trabalho. Acaba sendo uma oportunidade de negócio. As pessoas têm que entender que esse é o nosso negócio. Escolher e trabalhar com bons jogadores. Não posso ter vergonha de fazer uma grande negociação e ser bem remunerado por isso. Tenho que ter correção, ser honesto e transparente. Hoje, quase todos os clubes do Brasil têm essa relação com um ou outro agente. Cabe ao clube dar as diretrizes do que tem que ser feito. Nunca cheguei em um clube e disse que tinha que ser assim, assado. Não deixa de ser um trabalho interessante. Quando ganha. E se perdeu, o clube não consegue alcançar seus objetivos? Você é o culpado? Vai ter cobrança em cima disso. Faz parte do negócio.

Fazendo uma comparação rasteira do mercado de ações: você pega um clube de potencial em baixa, acompanha o crescimento, depois vai lucrar com isso.
Essa comparação desse mercantilismo todo não é tanto assim. Mas passa um pouco por isso. Vai da estratégia de cada um. Mas tem que ter bons jogadores. Se tiver bons jogadores, você vai ter clubes bons e interessantes. Seria hipocrisia falar que não passa por isso. Esse é o meu trabalho. No Brasil, parece que é pecado ganhar dinheiro com venda de jogadores. Errado é lesar o clube.

Você não faz isso?
É só pegar meu histórico. Em 10 anos, qual foi o escândalo que tirei jogador de um clube que não tenha sido remunerado? Não tem. Pelo contrário, tenho uma relação ótima com muitos clubes. O combinado não é caro.

Você já falou abertamente sobre empréstimos aos clubes. Vasco, Botafogo, Flamengo também. O que você ganha ou agrega com isso?
No momento em que faço uma aposta no clube, é porque acredito nas pessoas que estão lá e acredito que tenha potencial para que amanhã você tenha seus ativos valorizados. Não é com todos os clubes que vou fazer isso. Faço com quem me sinto confortável, com quem tem credibilidade. Eu arrisco bastante, e quem arrisca mais ganha mais. Ou perde mais. Eu nunca tive problema com nenhum clube do Brasil em relação a pagamento. Pode ter um problema momentâneo, você tem que entender, ser parceiro, isso fez com que meu crescimento tenha sido mais rápido do que naturalmente seria. Futebol é muito pequeno. Os presidentes, diretores e jogadores se falam. Se fizer uma coisa errada no clube, no dia seguinte está todo mundo sabendo.

O que você faz quando um jogador não dá certo?
Tem jogador com quem trabalhamos há cinco, seis anos e nunca fizemos dinheiro com ele. Vou botar o cara para fora? Não vou. Já aconteceu de eu pagar operação de jogador. Vamos deixar o menino lá jogado? Não pode. Dizem que tem muito dinheiro no futebol, mas a grande maioria fica pelo meio do caminho. Cadê a preocupação com eles? As pessoas só olham aquele que foi bem vendido e está ganhando dinheiro. Nas categorias de base, precisa haver palestras de como são feitos os contratos, para que eles não tenham depois problemas que muitos têm, assinam contratos que são verdadeiras aberrações, o cara entrega a vida de uma forma que não é correta. Tem que educar os meninos.

Como o agente ganha dinheiro em cima do jogador? No contrato tem os 10%...
Aí depende de cada agente. O meu método é não cobrar absolutamente nada sobre o jogador. Eu faço minhas negociações, e sou remunerado pelo clube comprador ou vendedor. Não cobramos percentual do salário do jogador.

Mas por quê?
Foi uma prática que aprendi. Tive um professor, o Jorge Mendes, que é o número 1 do mundo, me ensinou muita coisa. Sou muito grato a ele. E ele tinha essa forma de trabalhar. Mas não vou falar que está errado quem cobra. Cada um tem a sua forma de trabalhar. Se é legal, está tudo certo. O que não pode ser é o ilegal.

Quais os clubes que você acha que têm as melhores gestões no futebol brasileiro?
Os clubes têm melhorado significativamente. Ainda precisam melhorar, cada vez mais se profissionalizar, mas você vê clubes tendo gestões interessantes. Caso do Corinthians, que é um modelo que podemos ter como sucesso. Em cinco anos, sai da Série B para ser campeão do mundo, sai de uma receita pequena para uma das maiores do Brasil. O São Paulo também tem uma gestão boa, o Grêmio, o Inter... Também tem que haver responsabilidade com dinheiro do clube, e não simplesmente contratar por contratar, deixando dívidas para o clube. Mas está mudando, não sei se na velocidade que seria a ideal. O Vasco é uma prova disso, está tentando se profissionalizar, o Cristiano (Koehler, diretor geral) veio do Grêmio, implantou um sistema bem profissional. Isso é um caminho a se tomar. Tem que haver uma balança disso, para que não haja só o lado profissional, senão perde um pouco do encanto, da paixão que é o futebol. Com equilíbrio, vem o sucesso. O futebol se tornou um grande negócio, mas é a alegria do povo. Mas não dá para ser como antigamente, até porque no mundo competitivo que a gente vive é muito difícil você ter uma pessoa que possa ficar no clube 10, 12 horas, 15 horas, se não for remunerado.

Você planeja ter um time tipo Tombense, Desportivo Brasil?
Não, nunca me preocupei com isso. Não sei que rumo o futebol vai tomar, não sei o que vai acontecer. Tem que se adequar ao futebol no dia a dia.

Mas qual é seu sonho como empresário?
Continuar como estou. Representar bem o jogador, buscar os melhores contratos, o entendimento entre as partes. Temos conseguido com bastante êxito, não tenho nenhum litígio com clubes, com nenhum jogador. Acho que isso é satisfatório, me sinto realizado no que faço. Sou representante de atletas. Se tiver litígio, vou ter que vir para o lado do jogador, pois ele me confere a gestão da carreira. Mas nesses 10 anos equilibramos isso e não deixamos que atrapalhe nossa relação com o clube e com o jogador. Atuando no momento certo, não pilhar o jogador no momento da dificuldade, ou não entrar na pilha do jogador contra o clube, tem que haver o equilíbrio. Não me vejo com essa necessidade de ter um clube, mas, em relação ao futuro, eu não sei. Se amanhã vou deixar de ser agente para ser outra coisa, eu não sei.

Ser presidente, fincar uma bandeira num clube?
Não tenho esse projeto, não. Sou muito novo, tenho 42 anos, tem muita coisa pela frente, uma família que depende de mim, três filhos, tenho que dar educação. Se um dia penso em ter algo dessa forma, você não vai ser remunerado. De forma ilícita eu não vou ser. Para você fazer isso, tem que estar muito bem financeiramente. Com três filhos não é fácil, você não sabe o futuro. Não estou reclamando nem chorando. Isso ainda não passou pela minha cabeça. Se passar, só pode ser um clube, que é o clube da minha infância, do qual sou sócio, tenho até esse direito. Mas estou do outro lado do balcão, tenho que seguir dessa forma.

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