Sete técnicos foram demitidos nas sete primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, média de um por rodada. O próximo alvo é Doriva, do Vasco, com três empates e quatro derrotas, sem uma vitória sequer e com o time na penúltima colocação.

Depois dos 3 a 1 a favor do Cruzeiro, no último sábado, muros de São Januário foram pichados por torcedores (ou vândalos?) que pediram jogadores e fizeram a pergunta: “Cadê o respeito?”

Com a palavra, o presidente Eurico Miranda...

Foi ele quem propagou que o respeito ao Vasco havia voltado, após eliminar o Flamengo no Campeonato Carioca.

Foi ele quem disse ser a única pessoa capaz de fazer pressão sobre quaisquer funcionários do clube em São Januário.

– O único que faz pressão no Vasco sou eu, ninguém mais tem condição para fazer isso. Aqui no Vasco, sou o Rei Sol – disse, no fim de maio, enquanto apresentava orgulhoso o atacante colombiano Riascos, que havia fracassado no Cruzeiro.

Sim, “Sou o Rei Sol”, disse Eurico.

Dias depois, mais de 40 torcedores (ou vândalos) invadiram São Januário para cobrar os jogadores. O fato suscitou dúvidas sobre a declaração do presidente vascaíno. Das duas uma:

1) Ou Eurico mandou os torcedores lá para fazer a pressão que ele disse ter condição de fazer;

2) Ou Eurico passou muito tempo longe e se esqueceu de que torcidas organizadas também fazem pressão, sim. E que ele precisa lidar com isso, não necessariamente cedendo a ela.

O “Rei Sol” citado pelo presidente vascaíno, diga-se, fez referência, conscientemente ou não, ao imperador francês Luis XIV, que ficou marcado por frase semelhante no Século XVIII. Porque, talvez, Eurico trate o Vasco como propriedade sua, de seu império.


Cena comum em São Januário: decepção e outra derrota. Até quando? (Wagner Meier)

O Vasco que conquistou o Campeonato Carioca depois de 12 anos é o mesmo que foi goleado por 3 a 0 da Ponte Preta, em casa, e pelo Atlético-MG, na Arena Independência. É o mesmo que escapou de nova goleada do Cruzeiro, graças a gol do raçudo Rodrigo no fim da partida. É o mesmo que tomou 2 a 0 do Atlético-PR, na Arena da Baixada. É o mesmo que fez dois gols apenas em sete jogos. É o mesmo que leva menos de dez mil torcedores e acumula rendas ridículas como mandante, comparando-se a times pequenos do país, algo que ele não é.

O Vasco é o Gigante da Colina, tetracampeão brasileiro. Merece respeito e uma administração digna de sua história que ficou marcada, por exemplo, pela integração de classes e pela luta contra o racismo, que começou na década de 1920. Merece mais do que fanfarras e palavras de efeito.

Nas próximas rodadas, o Vasco enfrenta o Sport, na Ilha do Retiro, em Recife; e o Flamengo, na Arena Pantanal, em Cuiabá. Precisa recuperar forças, mesmo que não tenha time para isso.


Eurico Miranda não aparece depois de derrotas do Vasco em casa (Roberto Filho/Eleven)