O Flamengo do qual não podemos esquecer

27/6/2015 12:30

O Flamengo do qual não podemos esquecer

O Flamengo do qual não podemos esquecer
Gazeta Press
Afinal, quem representamos?


Tenho alguns livros sobre o Flamengo. Alguns são mais superficiais, outros bem mais profundos. Juntos, dão uma visão geral bem completa sobre a história do clube, rica como a de poucos no Brasil. Dentre os capítulos da longa estrada que transformou o Flamengo, de clube de elite da Zona Sul, no mais amado time do país, um não foi relatado em nenhum dos livros. Talvez a culpa seja da minha bibliografia, que não é grande o suficiente ainda, mas nenhum deles citava uma linha sequer sobre a Fla-Gay, torcida LGBT do Flamengo fundada no fim dos anos 70. Num dia em que as redes sociais amanheceram coloridas, em comemoração ao casamento igualitário nos Estados Unidos, minha procura se intensificou e o resultado foi frustrante.

De modo geral, é como se fosse proibido falar que o Flamengo teve a organização de uma torcida vinculada ao movimento LGBT, que tentou buscar seu espaço nas arquibancadas do futebol brasileiro. A falta de registros é tamanha que as declarações acerca da performance da organizada, fundada por Clóvis Bornay, contrariam uma às outras. Nem mesmo uma foto pude encontrar para ilustrar o texto.

Entre informações desencontradas, o que pude aferir com uma pesquisa pela internet é que a torcida chegou a ter centenas de afiliados, foi a jogos do clube, com faixas inclusive, e por vezes foi hostilizada por torcedores do próprio clube. Mais do que isso, a organizada sofreu resistência institucionalizada, representada por declarações do então presidente Márcio Braga, que atribuiu uma derrota para o Fluminense em 1979 a uma “praga da Fla-Gay”.

Em 1996, o ativista Raimundo Pereira tentou levar a torcida de volta ao estádio e, com mais de 100 pessoas, a organizada marcou presença em algumas partidas. De acordo com Carlos Alberto Migon, antigo integrante da Fla-Gay, em declaração à Agência Brasil, a torcida não sofreu represálias e deixou de ir por acabar se desmotivando.

O mesmo Raimundo buscou, mais uma vez, reavivar a ideia em 2003, mas enfrentou a resistência das outras torcidas organizadas do clube. José Carlos Peruano, então presidente da Associação das Torcidas Flamenguistas, vetou a utilização de bandeiras e faixas pela torcida no Maracanã. Em entrevista ao Terra à época, Peruano disse tratar-se de uma “armação de vascaínos, uma provocação que estamos combatendo”.

O que essas pessoas não viram foi o pioneirismo que torcidas como a Fla-Gay e a Coligay, do Grêmio e que surgiu em momento parecido, tinham. Mais do que isso, o quanto hostilizar essas torcidas é um comportamento preconceituoso e segregacionista. Principalmente para um clube de massa como o Flamengo.

A identidade do Flamengo não tem a ver com essa atitude preconceituosa. Ser um clube de massa significa muito mais do que simplesmente ter a maior torcida, encher os estádios ao redor do Brasil e bater no peito para se orgulhar disso. Ser um clube de massa é, principalmente, respeitar as minorias que compõem essa imensidão que se une pelo Flamengo. É abrir espaço para elas em nossas casas, em nossos jogos, em nossas vidas. Não adianta se declarar como time do povo e achar normal usar a sexualidade, a cor de pele, a origem de alguém para diminuir um adversário, por exemplo. Isso deveria ser regra para todos, mas no Fla a contradição fica ainda mais exposta.

Se somos Flamengo e, portanto, povo somos, não podemos apoiar o preconceito de qualquer espécie. Se temos a pluralidade do Brasil representada nos nossos vermelho e preto, é porque também somos negras e negros, homossexuais e indígenas. Somos também mulheres, nordestinas e nordestinos. Somos transexuais, pobres, operários e operárias. Que me desculpem os livros que tenho, mas essa é uma parte da nossa história que gostaria de sublinhar, e não ocultar.

3379 visitas - Fonte: ESPN


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Tanta coisa pra postar vai falar de uma torcida q nao teve futuro. Organizadas q acabaram tem de monte. Se lutam para ter tratamentos iguais, nao havendo diferenças de cor da pele ou orientaçao sexual, porque uma criaçao de uma torcida homossexual tem q ser considerada um marco historico? É tolisse isso, as mesmas pessoas q lutam por direitos iguais, defendem uma postura diferente com si proprios.

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