A camuflagem que define os comandantes

14/8/2015 10:44

A camuflagem que define os comandantes

A camuflagem que define os comandantes
A campanha de Cristóvão Borges no Flamengo não é boa. Há motivos para o torcedor chiar. Ele tem 45% de aproveitamento no Brasileirão e não seria fácil treinar a maior torcida do país nem mesmo se estivesse no topo da tabela. A pressão na Gávea é enorme independentemente de quem ocupe a casamata.

Agora, não há qualquer motivo para pensarmos que um treinador negro ficaria imune ao racismo que ainda grassa no país, mesmo que muitas vezes velado. A própria coluna de Renato Maurício Prado que reacendeu a discussão utiliza termos, no mínimo, controversos, não apenas para se referir a Cristóvão como para falar de seu "amigo" Bagá. Se num dos principais jornais do país este tipo de texto tem trânsito, fica difícil imaginar que não aconteçam situações bem mais ultrajantes cotidianamente no trabalho de um treinador.

Mas quando falamos da discriminação que atinge técnicos negros é importante pensar não no racismo explícito do insulto, mas em algo bem mais silencioso - ou camuflado para ficarmos na expressão utilizada por Cristóvão em entrevista à ESPN. Uma discriminação referente, por exemplo, à ocupação de postos de comando numa sociedade forjada por quatro séculos de relações de trabalho com brancos como chefes e negros ocupando as posições mais baixas na hierarquia de qualquer instituição.

Uma sociedade que se pretende harmônica na questão racial, e que, na verdade, tem apenas uma suposta harmonia que poderia ser resumida pela frase do folclorista sergipano Silvio Romero, que assinalou que "temos a África em nossas cozinhas, como a América em nossas selvas, e a Europa em nossos salões". Ou seja, tudo muito bem, desde que cada um ocupe um lugar pré-determinado.

No esporte não é diferente, embora as aparências mostrem o contrário. Os negros brilham, têm o protagonismo, mas é raríssimo que ocupem cargo de chefia, seja como treinadores ou como dirigentes.

Não creio que esta discriminação seja deliberada, na maioria dos casos. Não consigo imaginar a direção de um clube reunida e descartando a contratação do treinador X por ser negro. Acredito que seja algo bem mais subjetivo. Um desconforto que faz o jornalista e o torcedor cobrarem mais do treinador negro e que faz dirigentes descartarem técnicos afrodescendentes, alegando outros motivos para confartarem as próprias consciências: "não tem o perfil de liderança", "é muito tranquilo", "tem pouca experiência", ou coisa parecida. Um racismo que subjaz nossos atos e pensamentos sem que nós muitas vezes percebamos. É um estranhamento em ver negros em posições de liderança, que vem desde a herança escravista e só pode ser combatido com a devida inclusão.

Não vejo outra razão que não este racismo, por exemplo, para o ocaso de Andrade. Campeão brasileiro em 2009, três anos depois ele já estava no pequeno Boavista e seu último trabalho, em 2015, foi no Jacobina, da Bahia, clube do qual foi demitido em cinco rodadas. Andrade é um treinador perfeito? Evidentemente que não. Mas ele teve todas as credenciais necessárias para entrar no circuito de técnicos de primeiro escalão do futebol brasileiro.

Treinadores brancos que tiveram arrancadas bem menos promissoras que a de Andrade depois ficaram anos treinando diversos clubes grandes. Basta uma temporada razoável e já ingressam no entra-e-sai constante de técnicos. Poderíamos pinçar aí Vagner Mancini, Dorival Júnior e Enderson Moreira para ficarmos em apenas alguns exemplos.

Mas chamam ainda mais atenção do que exemplos como os de Andrade aquelas histórias que nem existem. O que mais chama atenção é o nada, é a ausência de negros no mercado de técnicos de alto nível. É uma conta que não fecha. Se temos tantos ex-jogadores como técnicos e tantos ex-jogadores negros, como podem ser tão poucos os técnicos negros?

Cristóvão a muito custo conseguiu furar esse bloqueio. Mesmo depois do belíssimo trabalho no Vasco, em 2011 e 2012, nunca assumiu um clube em início de temporada, sendo sempre contratado com a carruagem andando. Mas com bom trabalho no Bahia e altos e baixos no Fluminense conseguiu seu lugar - assim como Roger vem conquistando seu espaço no Grêmio. E o futebol, como toda a sociedade, vai evoluindo em direção à igualdade racial. Talvez num ritmo lento demais.

683 visitas - Fonte: ESPN


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