Cristóvão sofreu com vaias em muitos jogos (Foto: André Durão)

No dia 27 de maio, Cristóvão Borges foi anunciado como novo técnico em substituição a Vanderlei Luxemburgo, demitido do cargo. Desde os primeiros minutos como treinador do Flamengo, ele passou a carregar um peso por chegar ao clube longe de ser unanimidade antes mesmo do apito inicial do seu primeiro jogo, na derrota por 3 a 2 para o Fluminense.

De voz tranquila e fino trato, Cristóvão ganhou simpatia do departamento de futebol e jogadores, que tinham carinho pelo comandante e muitos não eram favoráveis à troca. Fora do Ninho, porém, cresciam os questionamentos e hostilidades por parte da torcida, tanto no Maracanã como na corrente em redes sociais.

E também em nomes de peso da diretoria. O diretor de futebol Rodrigo Caetano manteve, até horas antes do anúncio da saída de Cristóvão, sua convicção de que o treinador seria mantido. Eduardo Bandeira sempre se mostrou um defensor ferrenho da permanência. Mas, a inconstância nos resultados foi somada a um ingrediente apimentado: pressão de integrantes influentes que apoiam Bandeira.

O clima de cai, não cai que acompanhou Cristóvão teve reflexos no grupo. Wallace, capitão da equipe, chegou a ter uma conversa com Bandeira de Mello no Ninho do Urubu, no início da semana passada. Em pauta: a queda – ou não – de Cristóvão. O zagueiro quis saber do presidente qual era a real situação do treinador. E revelou que os jogadores estavam fechados com Cristóvão. O presidente chegou a relatar trechos da conversa com o jogador para alguns dos membros do conselho gestor que eram a favor da demissão. Mas não surtiu efeito.
- Toda vez que o Flamengo perde vocês (jornalistas) me ligam para perguntar se o treinador está... (para cair). Com uma pressão dessas fica impossível alguém trabalhar. Isso acaba refletindo dentro de campo. Nós tentamos ao máximo segurar o Cristóvão. Acho ele um excelente treinador, estava fazendo um bom trabalho. Certamente teria bons resultados, mas foi absolutamente impossível. Acabou o jogo (contra o Vasco) este telefone aqui não parou - disse Eduardo Bandeira de Mello, após apresentar Oswaldo de Oliveira no Ninho.

DERROTAS PONTUAIS
Como já chegou sob muita contestação, bastaram duas derrotas nos dois primeiros jogos, diante de Fluminense (3x2) e Cruzeiro (1x0), para o assunto demissão começar a rondar Cristóvão Borges. Em 6 de junho, dia de sua terceira partida à frente da equipe, contra a Chapecoense, o treinador já convivia com forte pressão externa, mas parte do Conselho Gestor acreditava que ele daria resultado. Um magro 1 a 0 amenizou as críticas.

Na rodada seguinte, mais um triunfo pela vantagem mínima, desta vez contra o Coritiba, fora de casa. Era o respiro de Cristóvão. Mas durou pouco. Mais dois jogos e mais duas derrotas, para Atlético-MG, no Maracanã, e o arquirrival Vasco, em Cuiabá. Os nomes de Oswaldo de Oliveira e Cuca começavam a ganhar força nos corredores Gávea. O último, porém, era praticamente inviável devido ao alto salário que recebe no futebol chinês.

O momento de maior estabilidade veio com as vitórias sobre Náutico (2x0), Grêmio (1x0) e Goiás (1x0), resultados que constituíram a maior sequência de triunfos de Cristóvão.

Foram duas semanas e quatro dias de calmaria, mas o empate por 2 a 2 com o Santos depois de um primeiro tempo avassalador com vantagem de dois gols iniciou a definitiva derrocada. Foi muito xingado nos acréscimos do jogo. E o detalhe: só fez sua segunda substituição aos 49 minutos do segundo tempo. Não utilizar as três mexidas a que tem direito foi um dos hábitos mais questionados pelos flamenguistas.
Os jogos em que mais ouviu vaias e xingamentos foram nas derrotas para Corinthians e Vasco e no empate com o Peixe.

SHEIK, CAETANO E BANDEIRA: OS GRANDES ALIADOS


Wallace e Sheik concederam coletiva juntos após derrota para a Ponte e defenderam Cristóvão Borges (Foto: Fred Gomes)

O principal escudeiro de Cristóvão dentro do elenco rubro-negro foi Emerson Sheik. Com o Fla vencendo ou perdendo, o atacante sempre fazia questão de dizer que o elenco acreditava no treinador. Em sua última coletiva antes da demissão, Sheik comparou o ex-comandante a Tite, o reputando como um dos técnicos mais estudiosos com quem trabalhou. O capitão Wallace também apostava no baiano. Em uma de suas postagens no Instagram, disse que Cristóvão "sabia muito".

Rodrigo Caetano também defendeu Cristóvão com unhas e dentes até o último momento. Terminado o jogo com o Vasco, na quarta-feira passada, garantiu que o treinador seguiria. Caetano, que durante sua passagem pelo Flamengo dificilmente retrucou jornalistas, mostrou-se especialmente irritado após a derrota para o Figueirense. Na ocasião, antes de atender a imprensa, disse: "Ele fica, mas vocês já o demitiram na coletiva, né?".

O presidente Eduardo Bandeira de Mello foi outro que por reiteradas vezes garantiu a permanência de Cristóvão. Durante a apresentação de Oswaldo de Oliveira, nesta quinta, revelou-se muito constrangido ao comunicar a mudança no comando técnico.

- Em primeiro gostaria de lamentar muito por a gente deixar de contar com um profissional gabaritado, íntegro e competente como Cristóvão Borges, mas futebol tem dessas coisas. Nós tentamos preservá-lo ao máximo, e ele vinha fazendo um trabalho que tínhamos certeza de que renderia frutos num médio a longo prazo, mas a pressão foi irresistível e isso acabou influenciando nos resultados - afirmou.


Bandeira não exibiu a habitual leveza durante apresentação de Oswaldo (Foto: Chandy Teixeira/GloboEsporte.com)