Outros esportes abrem caminho para futebol usar tecnologia na arbitragem

25/9/2015 18:05

Outros esportes abrem caminho para futebol usar tecnologia na arbitragem

Atletas analisam como o vídeo poderia ser utilizado no esporte mais popular do país. International Board observa uso de vídeo em outras modalidades como parâmetro

Outros esportes abrem caminho para futebol usar tecnologia na arbitragem
Gustavo Kuerten é favorável ao uso de tecnologia no futebol (Foto: AP)

O futebol pondera se vale a pena aderir àquilo que é rotina em muitos outros esportes: o uso de vídeo e tecnologia em decisões da arbitragem. A partir de março, deve ser testada a utilização de imagens para definição de lances capitais, um pedido feito pela CBF à International Board – atendendo a uma sugestão da Comissão Nacional de Clubes. Outras modalidades extremamente populares, casos de basquete, vôlei, tênis e futebol americano, já abriram o caminho para o qual o futebol parece rumar.

O GloboEsporte.com escutou personalidades destes esportes para que eles opinassem sobre benefícios e problemas do uso de vídeo. A visão é quase unânime: há vantagens na parceria com a tecnologia, mas com ressalvas. Atletas lembram que o vídeo não elimina erros e questionam o risco de quebra da dinâmica do jogo – um problema que pode ser exponencial no futebol, que tem a continuidade como elemento-chave.

Na NBA, os árbitros são aconselhados a revisar em vídeo lances duvidosos, sobretudo quando o relógio está zerando. Houve um momento emblemático em 15 de maio, no sexto jogo da semifinal da conferência Leste. O Washington Wizards perdia por 94 a 91, jogando em casa, e isso significava o fim do sonho de título – já que o Atlanta Hawks tinha 3 a 2 na série. E aí, no último instante, Paul Pierce encontrou um arremesso de três pontos e empatou a partida. Atletas invadiram a quadra, eufóricos, enquanto torcedores, em êxtase, se abraçavam nas arquibancadas. Era um momento histórico. E aí os árbitros se reuniram, reviram o arremesso em vídeo e concluíram que a bola ainda estava nas mãos do jogador quando o cronômetro foi zerado. O lance não valeu. A emoção em Washington foi automaticamente cortada. E a vitória ficou com Atlanta.

É um duelo entre clímax e justiça. Sem o recurso de vídeo, talvez o Wizards vencesse a partida na prorrogação – e talvez fosse à final da conferência, e talvez a vencesse, e talvez fosse o campeão da NBA. Haveria semanas e semanas de provocações entre torcedores, de debates na televisão, de críticas e defesas à falha dos árbitros, e talvez tudo isso alimentasse o esporte. Mas seria injusto.

E o vídeo é totalmente justo? Não. A líbero Fabi, bicampeã olímpica com a seleção brasileira feminina de vôlei, lembra de um caso na partida entre Brasil e Alemanha, em 12 de julho, pelo Grand Prix (veja no vídeo acima). Em um ataque para fora da equipe europeia, a bola claramente desviou no bloqueio, e a arbitragem não viu. Deu ponto para o Brasil. A Alemanha pediu desafio na jogada – para que os árbitros, pelo vídeo, revissem o lance e mudassem a decisão. Com a imagem, ficou ainda mais evidente o desvio. E, mesmo assim, a arbitragem não viu o toque. As atletas alemãs ficaram boquiabertas com a decisão.

- A imagem pode não ser conclusiva. Dois profissionais podem ter opiniões distintas. O recurso da imagem dá ao árbitro mais um ponto de vista. Essa é a ideia. Pode-se errar vendo a imagem também. Nesse lance do Grand Prix, a bola desviou no bloqueio do Brasil, e o juiz não viu. A ideia do recurso eletrônico é ter mais uma visão. Dá mais segurança, ajuda o árbitro. Já me coloquei no lugar do árbitro. Não é fácil – comenta Fabi.

Em alguns esportes, atletas ou equipes podem desafiar a arbitragem a rever lances quando se acham injustiçados. Mas o tiro pode sair pela culatra. No Pan-Americano de Toronto, duas atletas brasileiras de ginástica rítmica (Angélica Kviecznski e Natália Gáudio, de arco e bola, respectivamente) discordaram das notas que receberam e pediram outra avaliação, com uso do vídeo. De fato, as notas foram modificadas. Mas para menos...

Abaixo, confira alguns casos de uso de vídeo em esportes.

NO TÊNIS

Desde 2006, o tênis recorre ao recurso do vídeo para ajudar a esclarecer dúvidas em lances polêmicos. O sistema é o de desafio (confira um exemplo no vídeo acima). Quando o jogador discorda da marcação do árbitro, ele pode pedir a revisão da jogada no vídeo. O próprio árbitro principal também pode solicitar o auxílio do vídeo quando ficar com dúvida. Atualmente, o recurso é utilizado apenas nos torneios maiores, com capacidade para pagar o chamado Hawk-Eye (olho de águia) - sistema composto por várias câmeras que enviam imagens para um programa de computador que traça um gráfico e determina se a bola foi dentro ou fora. É o mesmo sistema utilizado pela Fifa na Copa do Mundo para determinar se a bola cruzou ou não a linha do gol.

Pelas regras atuais, cada jogador/dupla tem direito a três desafios por set. Sempre que uma jogada é questionada e a marcação do árbitro confirmada pelo vídeo, o jogador/dupla perde um dos desafios. Quando o vídeo reverte a chamada do árbitro, o jogador/dupla mantém o número de desafios que tinha. Quando a partida chega ao tie-break, cada jogador/dupla ganha direito a mais um desafio.

Gustavo Kuerten, o Guga, acredita que o futebol deve seguir o exemplo do tênis. O tricampeão de Roland Garros, porém, acredita que há dificuldades maiores no esporte coletivo.

- No tênis, acho que a mudança foi formidável, porque acrescentou como incremento para o jogo e como entretenimento. As pessoas se envolvem muito com aquela parada. Para o jogador, é muito justo. Acho até que deveria ter cinco, dez, infinito. Porque o jogador de tênis não vai ficar parando o jogo só para incomodar o outro cara. E, às vezes, decide a partida. Foram várias situações já. E é difícil, mesmo com a tecnologia, tomar essas decisões.
Lembro de um jogo meu contra o Sampras, que quem via pela televisão dizia:
"É impressionante, passou o replay e saiu muito". Mas, na hora, não dava para fazer nada. Acho que o futebol deveria ir por esse caminho também. Acho que até perde por não pensar em novas tecnologias. É difícil, talvez, no futebol, encontrar o equilíbrio, o momento certo de usar. No tênis, é mais simples. Para, verifica se é dentro ou fora, se tocou na rede. Não dá para fazer esse tipo de análise no futebol porque são muitas coisas, desde as faltas, os impedimentos. Mas acredito que deve começar.

NO VÔLEI

O vôlei se inspirou no tênis para, a partir de 2012, gradativamente implementar o uso do Hawk-Eye (olho de águia). Cada equipe pode desafiar pelo menos duas vezes por set a decisão da arbitragem. Se o vídeo comprovar que não houve erro dos juízes, o time perderá um desafio. Por outro lado, caso a imagem prove equívoco, o número de desafios será mantido. Fabi é favorável ao recurso e acredita que um modelo semelhante pode fazer bem ao futebol. Mas coloca algumas ressalvas.

- No vôlei, a gente também tentou resistir (à implementação da tecnologia), mas a velocidade ficou muito grande. Adotou-se esse critério para dar justiça ao jogo e torná-lo mais justo. Hoje, o recurso é bom. Ainda precisa de ajustes, estudar melhor o tempo de jogo, não atrapalhar a dinâmica. Uma das coisas que notei foi a demora em interpretar o lance. A gente desafia a
jogada, e ela vai para o árbitro de baixo, e ele passa para um terceiro árbitro. E também passa a ser uma interpretação. Mas sou super a favor. Acho que veio a ajudar o voleibol. O futebol é resistente, talvez seja o esporte com menos mudanças na história. Eles preservam a origem. São mais conservadores. Mas não vejo muito caminho para fugir disso. São coisas decisivas. Por outro lado, é preciso lembrar que o esporte é um entretenimento. De que maneira isso faria o jogo não ser chato? Teria que ser bem estudado.

NO FUTEBOL AMERICANO

A NFL (National Football League) é uma das mais antigas a adotar o uso do vídeo para tirar dúvidas. O primeiro teste foi realizado em um jogo isolado em 1976, quando os organizadores do campeonato começaram a estudar o tempo que a revisão de jogadas poderia levar. Em 1978, a NFL ampliou o teste para partidas de pré-temporada, mas o alto custo do sistema fez com que fosse deixado de lado até meados da década de 80. Em 1985, o uso voltou a ser testado na pré-temporada e, no ano seguinte, instituído durante a temporada regular. Foi usado até 1992, quando acabounovamente deixado de lado por conta do baixo índice de reversão das jogadas revisadas: 12,7%. Em 1999, o sistema voltou a ser utilizado e segue sendo aperfeiçoado a cada ano, com a introdução de mais câmeras e imagens em alta definição recentemente. Entre 1999 e 2013, o índice de jogadas revertidas por meio do vídeo subiu para 36%.

O sistema utilizado é o de desafio. Pelas regras atuais, cada time tem direito a dois por jogo, que devem ser feitos pelo técnico, que atira uma toalha vermelha no campo. Cada desafio implica no uso de um dos tempos da equipe. Se a jogada desafiada for revertida, o tempo é restituído. Se o time usar os dois desafios e a marcação dos árbitros for revertida em ambos, é concedido um desafio extra. Porém, o número limite por partida é de três, independentemente do resultado deles. Também não é permitido pedir desafio nos dois minutos finais de cada tempo (two-minute warning) ou no tempo extra. Há ainda um oficial de replay no jogo, que pode rever todos os lances dentro do two-minute warning, todos os lances em tempo extra e todas as jogadas de pontuação e outra série de jogadas. O árbitro principal do jogo também pode pedir uma revisão de vídeo em lances que ficar em dúvida. Cada revisão deve levar o máximo de 60 segundos.

O brasileiro Cairo Santos, kicker do Kansas City Chiefs, gostaria de ver o futebol usando recursos eletrônicos. Ele tem dúvidas sobre a reação da torcida à paralisação dos jogos.

- Eu acho justo, e o futebol americano aplica isso muito bem. Traz uma credibilidade ao esporte. Gosto da ideia de todos os esportes terem esse auxílio eletrônico para ajudar os árbitros. Acho que, inicialmente, os torcedores (de futebol) teriam dificuldades para aceitar. O jogo para, esfria o clima um pouco, e não sei como a torcida reagiria a isso. Um momento para revisão é sempre polêmico, mas acredito que as torcidas vão se acostumar, caso seja aceito nas regras do futebol. Uma decisão ao seu favor pode levar o torcedor a comemorar um gol, ou não levar um.

NA GINÁSTICA RÍTMICA

Na ginástica rítmica, os vídeos são utilizados quando alguma ginasta ou conjunto reivindica a modificação da nota por meio de algum recurso. Os árbitros usam os vídeos para analisar se houve alguma falha na atribuição da nota, mas a modificação só pode acontecer na nota de dificuldade. Ou seja, a execução, que engloba a impressão artística, não pode ser modificada pela análise do vídeo. Camila Ferezin, técnica da seleção brasileira, acredita que a tecnologia dá honestidade ao esporte.

- Eu vejo esse recurso como bom para o esporte, na medida em que ele vem em auxílio da correção de distorções que podem acontecer durante a avaliação. A ginástica rítmica é muito dinâmica, rápida e ágil, e às vezes a execução de alguma dificuldade pode ter sido mal compreendida pelo árbitro justamente em virtude do ângulo em que ele se encontra, ou devido à rapidez na execução. Mas ressalvo que só acredito na modificação de critérios que sejam objetivos, avaliados pela dificuldade. Não se pode modificar a impressão artística de uma série pela análise de vídeo. (...) Todos os esportes podem ser reavaliados por vídeos para corrigir distorções. Quando a tecnologia vem em auxilio ao reparo da verdade, ela tem de ser benéfica e deve ser utilizada, já que o objetivo, no fundo, é sempre buscar aquilo que é mais justo.

NO JUDÔ

Em 2012, a Federação Internacional de Judô implementou o uso de vídeos. Em vez de três árbitros no tatame, passou a ter apenas um, com outros dois analisando a luta em um monitor. Eles conversam por meio de um sistema de comunicação. Em situações de dúvida extrema, existe a intervenção da comissão de arbitragem, geralmente capitaneada pelo espanhol Juan Carlos Barcos. O brasileiro Rafael Silva, o Baby, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres, acredita que o uso de vídeo faria bem ao futebol.

- Teve uma redução grande no número de erros de arbitragem (após a implementação do recurso eletrônico no judô). Melhorou bastante em relação a isso. Uma coisa ruim é que a decisão fica na mão de um cara só. O coordenador decide. Quem dá o veredicto final de se aconteceu ou não a pontuação é um cara só. A única coisa que acontece é a dúvida da interpretação. O Barcos pode interpretar de um jeito, e o atleta achar de outra maneira. Acho que seria ótimo (no futebol). Deixaria menos subjetivo. Com a imagem, você consegue saber se foi impedimento ou não, se a bola saiu ou não. Inibiria um pouco esse papo de “o jogo foi comprado”, “foi determinado pela arbitragem”. Em 20 ou 30 segundos, você consegue ver. No futebol, com o recurso que temos hoje, com a imagem, acho que favoreceria bastante a veracidade. Compensa muito mais. Cabe, claro, criar um padrão de qual lance ser analisado.

EM ANÁLISE

O futebol não está sozinho na resistência às tecnologias. O vôlei de praia, irmão próximo do vôlei e do tênis, só agora começa a usar o Hawk-Eye. O primeiro teste foi no Rio Open, em setembro, nos mesmos moldes do que ocorre na quadra: dois desafios por set, mantidos se a dupla estiver certa no pedido. Outros testes ocorrerão até os Jogos Olímpicos do ano que vem.

Enquanto isso, a International Board analisa como agir. Lucas Brud, secretário do órgão, disse ao GloboEsporte.com que a mudança é provável. Estados Unidos, Holanda e Brasil fizeram pedidos nesse sentido.

E o futebol deve se basear em outros esportes para fazer a transição. A NFL é um exemplo observado, segundo Brud. A Major League Soccer, liga de futebol dos Estados Unidos, está atenta à NBA. E o rúgbi também pode ser uma fonte.

- Estamos avaliando diferentes abordagens. Estamos lendo sobre rúgbi, por exemplo. Outro dia, um jogo importante durou dez minutos a mais por causa de arbitragem de vídeo, o que é incomum, e eles ficaram descontentes com isso. Então depende de como é usado, de quantas vezes é usado. Se formos mesmo testar, vamos ouvir quem está usando para ver os pontos de vista - afirma Lukas Brud.

711 visitas - Fonte: Globoesporte


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