José Neto, ao LANCE!: 'Não podemos pensar que tudo vai acabar após 2016'

16/10/2015 07:52

José Neto, ao LANCE!: 'Não podemos pensar que tudo vai acabar após 2016'

Técnico do Flamengo e auxiliar da Seleção vê basquete brasileiro forte, mas diz que ainda há muito a ser feito. Neste sábado, ele tentará a façanha de derrotar uma equipe da NBA

José Neto, ao LANCE!: Não podemos pensar que tudo vai acabar após 2016
José Neto comanda o Flamengo desde 2012 (Foto: Paulo Sergio/LANCE!Press)

Independentemente do resultado do confronto entre Flamengo e Orlando Magic, amanhã, às 18h, na HSBC Arena, no Rio de Janeiro, pelo NBA Global Games, José Neto tem bagagem de sobra para avaliar a fase do basquete brasileiro.

Graças às conquistas pelo clube, o paulista se tornou o principal técnico da modalidade em âmbito nacional. Se não bastasse, leva conhecimentos sobre as grandes seleções do mundo desde 2004, fruto do trabalho ao lado de “cérebros” como Lula Ferreira, o espanhol Moncho Monsalve e o argentino Rubén Magnano.

Motivado pela chance de novamente marcar o nome do Rubro-Negro na história, desta vez contra uma equipe da NBA, o treinador não tem dúvidas de que o Brasil já é visto com respeito pelos outros países.

Mesmo assim, ele alerta que todos os setores envolvidos no crescimento do basquete nacional precisam percorrer um longo caminho e, principalmente, evitar o pensamento de que os Jogos Olímpicos Rio-2016 são a etapa final de um planejamento que tantos frutos já rendeu.

Ao LANCE!, Neto não escondeu sua “fome” de provar a si mesmo que pode sempre mais, garantiu acreditar em um triunfo histórico contra o Orlando, falou sobre inspirações e contou ter encarado a derrota para o Pioneros (MEX) na Liga das Américas do ano passado, em casa, como um débito com a torcida. Confira:

LANCE!: Você teve um início promissor no Paulistano e, depois, dois trabalhos de menor impacto no São Bernardo e no Palmeiras. Qual a importância do Joinville para sua chegada ao Flamengo?
José Neto:
Quando fui para Joinville, estava em um momento da vida em que queria voltar a dirigir um time. Eu tinha saído do Palmeiras, e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) pediu que eu ficasse exclusivo com uma seleção de desenvolvimento. Eu continuaria nesse processo, mas tive o convite do Joinville. Gosto do dia a dia do técnico. Ficar esperando uma competição de curta temporada é algo complicado. Eu era um técnico jovem, precisava viver o dia a dia de um clube. A equipe tinha perdido jogadores, montou um elenco médio e surpreendemos. A vinda ao Flamengo foi consequência. Não usei o Joinville para conseguir outro time. Imaginava que ficaria lá por uns dez anos, porque estava cômodo. Tive boas relações, as pessoas me acolheram. Mas veio o convite, e bateu o espírito desafiador. Para um técnico, é algo que não se pode desprezar. Precisava saber até que ponto teria capacidade de dirigir uma equipe que disputasse títulos.

LANCE!: Você é o atual tricampeão do NBB. Qual o segredo para conseguir manter a hegemonia no cenário nacional, mesmo com a entrada e saída de jogadores?
José Neto:
Quando ganhamos, temos o bônus e o ônus. O bônus é podermos colocar na história do clube, na nossa e na do basquete uma marca. Outro, é nos tornarmos referência. Hoje, nos preocupamos não só com o basquete adulto, mas com a base, a estrutura, em mostrar ao jogador uma maneira de trabalhar melhor. Uma das coisas que mais me motiva a trabalhar aqui é o grupo de trabalho. Não só os jogadores, mas a comissão técnica, médica. São pessoas que sabem muito bem o sentido de trabalhar em grupo. O ônus é a perda de atletas. Quando ganhamos uma Copa Intercontinental, uma Liga das Américas, jogamos uma NBA, eles ganham uma visibilidade muito grande. O interesse de outras equipes aumenta também. Uma vez que um jogador já foi referência em um time, ele desperta atenção.

LANCE!: O título intercontinental no ano passado (contra o Maccabi Tel Aviv) foi seu ápice. Por outro lado, a perda em casa da Liga das Américas foi a maior decepção? E até que ponto aquele resultado foi importante para a conquista do NBB da temporada passada?
José Neto:
Com certeza, foi uma das maiores decepções que eu tive na minha carreira. A decepção está muito relacionada à expectativa. E a nossa, tendo ganhado no ano anterior e mais uma vez podendo decidir em casa, era muito grande. Quando perdemos de um ponto, na prorrogação, na última bola, é claro que ficamos decepcionados. É algo que marca. Ao mesmo tempo, transformamos isso em uma motivação para não parecer que estava tudo errado. Não dá para dizer que está tudo errado por uma bola que não caiu. Como não podíamos voltar atrás, só podíamos mostrar que ainda éramos uma equipe de referência. Crescemos muito depois no NBB (só perdeu um jogo no segundo turno e outras duas vezes no playoff de quartas de final). Isso mostra o caráter e o brio que os jogadores tiveram para se recuperar daquela frustração.

L!: É correto afirmar que o Flamengo, no continente, é um time a ser batido muito pelo respeito da camisa, da torcida e por tudo o que representa?
José Neto:
Não tenho dúvidas de que isso acontece. Mas é uma troca de sentimentos. Tanto eles (público) promovem isso na gente, quanto nós motivamos a torcida a comparecer aos jogos, porque sabem que vai ter uma chance ali de gritar: “É campeão!”. É por isso que nos frustramos tanto com o resultado da Liga das Américas. Foi um débito nosso com quem confiava em nosso trabalho. Temos uma responsabilidade grande, porque os adversários sabem o quanto é prazeroso vencer o Flamengo. Quando chegamos aos jogos, muda até o ambiente, a característica de cada um. Todos querem ter essa sensação.

L!: Ano passado, o Flamengo atuou contra as equipes da NBA. O que tirou de lições daquela experiência e o que aplica em sua metodologia de trabalho?
José Neto:
Se existe algo igual entre a liga que jogamos e a que eles jogam, talvez seja só a palavra basquete. A regra, a bola, o ambiente, tudo é diferente. Mas muita coisa nos pode ser útil. A maior lição que ficou é a intensidade. Não é que não a tenhamos. Talvez, nos falte a resistência dessa intensidade que eles têm. Procuramos jogar de maneira intensa a maior parte dos jogos. Mas, no decorrer da partida, ela diminui. Eles têm 14, 15 jogadores com qualidade. Se alguém vai para a NBA, não importa se será titular, ou o 12. Fomos lá conhecer a estrutura das equipes. Em termos de equipamentos, eles têm uma condição econômica muito melhor. O que pagam dez, nós pagaríamos 100 para trazer esses aparelhos. Mas a mentalidade deles de treinos temos de colocar em prática.

L!: Em tese, o Orlando não fez grandes mudanças em relação ao time do ano passado. É uma equipe jovem, mas longe de ser uma potência da NBA. A vitória é muito mais uma possibilidade real do que uma surpresa?
José Neto:
Nós acreditamos que podemos ganhar. Não estamos trabalhando para ir jogar, mas para fazermos o nosso melhor. E se fizermos isso, teremos uma chance. Se tivermos 1% de chance, vou trabalhar em cima disso. Sabemos que quem estiver lá terá a expectativa de vivenciar um cenário histórico. Quem imaginava que poderíamos ganhar uma Copa Intercontinental? O basquete mostra que quando há a possibilidade, temos de acreditar nela. A palavra impossível só significa que temos de nos dedicar um pouco mais. Não sei se iremos ganhar. É difícil, muito difícil. Mas acreditamos em nossa capacidade.

L!: O Brasil vem em evolução nos últimos torneios em que atuou com sua força máxima. A medalha na Olimpíada do Rio é uma possibilidade real?
José Neto:
Se pegarmos como referência o último Campeonato Mundial, na Espanha, os Estados Unidos foram ouro, a Sérvia foi prata e a França, bronze. Quinze dias antes de esses dois últimos ganharem as medalhas, o Brasil os venceu. Então, não tem como não pensarmos nisso, ainda mais em casa. Vamos focar na medalha sim, não tem conversa, não tem “vamos jogar para ver o que vai dar”. A competição é dura, mas trabalharemos para colocar a melhor equipe e brigar pela melhor posição.


(Foto: Paulo Sergio)

L!: Por outro lado, o Brasil fez campanhas pífias quando não tinha os jogadores que atuam na NBA, sobretudo em Copa América. Preocupa para os próximos ciclos olímpicos?
José Neto:
Eu sou exigente. Sempre acho que pode ser melhor. O basquete brasileiro pode ser melhor. Mesmo que nós consigamos mostrar nos clubes que podemos disputar campeonatos internacionais e que tenhamos um cenário bom na Seleção Brasileira, com base na última Olimpíada e no Mundial, acho que muito pode ser feito. Não podemos pensar que vai acabar tudo depois de 2016. Não, temos de pensar na Olimpíada de 2020, no próximo Mundial, com formato diferente de classificação. Muita coisa está sendo feita. Já estão sendo criadas as associações dos técnicos, dos jogadores e dos árbitros, para que os setores possam se organizar e se desenvolver melhor. Pode melhorar? Claro que pode. Mas é nessa possibilidade de evoluir que as coisas já estão acontecendo.

L!: O que falta para o NBB se tornar um campeonato com mais postulantes ao título?
José Neto:
O pouco que fazemos hoje é muito. Estamos em um momento delicado no país. Infelizmente, equipes como o Limeira, que era uma das potências, tiveram de se retirar devido a uma condição do país, não do basquete. Mas não temos de olhar só de cima e falar que há poucas equipes no NBB. Temos de olhar embaixo e ver qual é o trabalho que vem sendo feito, se há clubes procurando fomentar a modalidade. É algo além de manter um Limeira ou um Uberlândia na liga nacional.

L!: Por ser auxiliar nos últimos anos, e pelo momento como técnico do Flamengo, acredita que é o substituto natural do Magnano na Seleção? Estaria preparado caso fosse chamado?
José Neto:
Não trabalho pensando na Seleção. É tudo consequência. Até porque, não compete a mim. Alguém vai ter de me chamar, e quero estar preparado. Toda a experiência que venho tendo de competições internacionais me agrega valores. Hoje, estou muito satisfeito em ser assistente do Rubén. Para mim, é um dos melhores técnicos do mundo. Ele tem muito a dar ao basquete, não só brasileiro. É uma satisfação trabalhar com ele. Só penso em ajudá-lo a conquistar uma medalha olímpica.

AS INSPIRAÇÕES
Pat Riley

Um dos maiores técnicos da história da NBA, o presidente do Miami Heat é autor de livros que estão na estante de José Neto.
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Phil Jackson
O presidente do New York Knicks faturou 11 títulos como técnico e dois como atleta, e também é escritor.
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Mike Krzyzewski
Para José Neto, o técnico dos Estados Unidos é exemplo de como gerir pessoas.
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O técnico da Seleção Brasileira é a grande fonte de inspiração de Neto hoje. Ambos trabalham juntos na equipe desde 2010.

A TRAJETÓRIA DO TREINADOR
Paulistano

Formado em Educação Física, Neto deu os primeiros passos da carreira no clube de São Paulo. Chegou ao posto de treinador do time adulto e chamou a atenção.

São Bernardo
O desafio seguinte na carreira foi a equipe do interior paulista. Lá, o maior feito foi um vice-campeonato estadual, em 2007. O treinador saiu em 2008.

Palmeiras
No Palestra, novamente um trabalho discreto e que não chamou muito a atenção, sobretudo pela falta de resultados expressivos.

Joinville
Em Santa Catarina, Neto se reencontrou com o sucesso. Mesmo com uma equipe modesta, conquistou o estadual e levou a cidade às quartas do NBB.

Flamengo
A campanha no Joinville chamou a atenção do Flamengo. No Rio, ele faturou os principais títulos da carreira e se firmou como técnico de ponta no país.

QUEM É ELE

Nome

José Alves dos Santos Neto

Idade
44 anos

Nascimento
19/03/1971 - em Itapetininga (SP)

Carreira
Treinou cinco equipes: Paulistano, São Bernardo, Palmeiras, Joinville e Flamengo. Além disso, auxiliar de três treinadores da Seleção Brasileira masculina: Lula Ferreira, Moncho Monsalve e Rubén Magnano.

Títulos
Copa Sul (Paulistano-2003); Catarinense (Joinville-2011); NBB (Flamengo-2012/13, 2013/14 e 2014/15), Carioca (Flamengo- 2012, 2013 e 2014), Liga das Américas (Flamengo-2014) e Copa Intercontinental (Flamengo-2014).

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