É claro que a disputa entre a Primeira Liga e a CBF tem razões e desdobramentos políticos. É claro também que a criação do novo torneio entre os clubes das regiões Sul e Sudeste não será o novo modelo do futebol brasileiro, mas um paliativo, para combater a situação de penúria do calendário do primeiro trimestre.

Não é mais possível jogar campeonatos deficitários e de baixo nível técnico, em síntese, torneios semi-amadores, por três meses inteiros. Foi isso o que produziu a revolta de Flamengo e Fluminense contra a Ferj e o início do projeto para a criação a Primeira Liga, antes chamada de Sul-Minas-Rio.

Rubens Lopes não fala muito, mas articula bastante. Na última sexta-feira, em conversa com o repórter Luciano Calheiros, do Fox Sports, Rubinho deu o primeiro sinal de que haveria a crise entre a CBF e a Primeira Liga. “O Marco Polo já me disse algumas vezes que não vai aprovar a criação da Liga.'' Não exatamente com estas palavras, foi isto o que o presidente da Ferj informou.

Mas como não aprovar, se a Liga do Nordeste foi aprovada?

É claro que Alexandre Kalil não esperava facilidade, tanto que saiu da primeira reunião, aquela em que Marco Polo Del Nero deu o aval para a criação da Liga, com a seguinte declaração: “Foi surpreendentemente positivo.'' A reunião da segunda-feira (19) foi, portanto, dentro do esperado antes da surpresa positiva do mês passado.

A CBF não tem condição política de ir contra Rubens Lopes, da Ferj.

Em parte, porque do lado da Primeira Liga estão os presidentes da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto, e da Federação de Santa Catarina, Delfim Peixoto. Dois adversários de Marco Polo Del Nero.

Em parte, porque o presidente da Federação do Estado do Rio cobra o fato de haver jogos nas mesmas datas no Rio de Janeiro e na Primeira Liga. Não vai ser um problema para a Liga, porque Flamengo e Fluminense já anunciaram que jogarão o Campeonato Carioca com seus times reservas. Mas é mais um sinal de que a criação dos torneios regionais não é a solução, é o paliativo. O calendário definitivo, evidentemente, não poderá ter dois jogos do mesmo time na mesma data, ainda que um aconteça na quarta-feira e outro na quinta.

As datas coincidentes são um dos argumentos da CBF para não homologar o torneio. O outro, a necessidade de aprovação pela Assembleia Geral, como disse Rubens Lopes, presidente da Ferj. “Se seguir os trâmites da Liga do Nordeste não tem nenhuma razão para não aprovar'', disse o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, segunda à noite.

Mas se seguir os trâmites e houver Assembleia Geral, ninguém aprova, é o que pensa Alexandre Kalil.

Kalil também diz que a Primeira Liga foi procurada por toda a Série B. E que está disposta a organizar o torneio. Será ótimo. Se a Série B está toda interessada em fazer parte da Primeira Liga, por que não a Série A? Neste caso, o arranjo feito pelo presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, atrapalha. Os quatro grandes paulistas vão receber R$ 23 milhões para jogar o campeonato estadual. O Internacional recebe R$ 7 milhões.

Se a Federação do Estado do Rio desse estas condições a seus filiados, se o Campeonato Carioca fosse semelhante ao Paulista, Flamengo e Fluminense não estariam tão dispostos a largar o Carioca e jogar a Primeira Liga. Este é um excelente argumento de Alexandre Kalil. Rubens Lopes tem apenas uma resposta: a articulação política.

Faça o campeonato, não faça a guerra. Bem poderia ser o lema do novo futebol brasileiro.

Se não fosse uma utopia pensar em fazer aqui, de novo, o velho país do futebol.