Apresentação de muricy flamengo (Foto: Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

Aqueles que esperavam ver um Neymar mais tímido dentro de campo, após uma ligeira pausa nos jogos para tratar de uma lesão na coxa esquerda, se decepcionaram. O brasileiro fez sua função de bagunçar os marcadores do River Plate e confundir a zaga do time para garantir uma vitória para o Barcelona pelo Mundial de Clubes. O comportamento do craque só corroborou a tese de Muricy Ramalho, que em uma entrevista exclusiva para o Esporte Espetacular, afirmou que Neymar tem o Barcelona nas mãos e é o segundo melhor jogador do mundo, deixando Cristiano Ronaldo para trás.

- O moleque está mandando lá. Nossa Senhora! Vou te contar um negócio, ainda mais agora com esse problema do Messi ficando um tempo parado. O moleque chamou a responsabilidade, ele passou, driblou, fez gol, fez tudo. O Neymar está legal lá, está forte. Então, eu acho, e ele também acha isso, que ele já passou o Cristiano Ronaldo. Ele está se preparando para ser o melhor do mundo - crava o técnico do Flamengo.

Muricy viu de perto que Neymar não era mais aquele menino que treinara no Santos em 2013. Mais maduro e mais profissional, Neymar azeitou o meio de campo para que o técnico brasileiro pudesse conhecer melhor a estrutura do Barcelona. Desta forma, em outubro deste ano, Muricy viveu a rotina do camisa 11 - deixou de lado apenas os passeios na Ferrari do jogador.

"Pipoquei", confessa ele - e conseguiu absorver a essência e os ideais do time catalão.

- Fui estudar fora o que é essa unificação, eu queria um modelo. O que eu mais achava nesse sentido era o Barcelona. Só que o Barcelona é muito difícil você entrar. E eu que queria fazer uma coisa oficial. Graças a Deus, eu tive a ajuda de Neymar e do pai dele. Eu fiquei a vontade lá dentro, e vi tudo - revela.

Tudo mesmo. Até o comportamento profissional e maduro dos jogadores que atuam no clube, que, segundo Muricy, difere bastante do visto entre os brasileiros que jogam em casa. Para ele, o brasileiro é manhoso.

- Às vezes o jogador brasileiro acha que está fazendo um favor, mas ele não está fazendo favor nenhum, ele recebe. Então tem que trabalhar. Por isso, eu não acredito em algumas coisas que existem no futebol há algum tempo. Essa coisa de palestra motivacional. O cara põe um DVD, a vovó aparece lá no telão dizendo: “filhinho você tem que ganhar o jogo hoje”. Aí o cara chora na preleção, todo mundo chora, aí põe o filhinho do cara. Aqui, é o seguinte: você recebe, você tem que me dar resultado. Eu vou te dar um monte de informação, vou te treinar para caramba - aponta o técnico.

Muricy também falou sobre sua saúde e sobre o desafio de modernizar o Flamengo nesta temporada. Confira abaixo outros trechos da entrevista ao Esporte Espetacular.

CONCENTRAÇÃO
- É uma vontade minha, é uma coisa que não se usa mais no mundo todo. Mas vamos analisar, tomara que acabe, vamos estudar, é uma coisa ultrapassada. Acho que o profissional ele recebe para aquilo, ele tem que se profissional em todos os momentos. Mas é claro que depende do ambiente, da conversa e depende do resultado. Ainda vamos estudar, não é que eu estou falando que vai acabar, estou chegando lá agora e não vou chegar dizendo que acabou a concentração, vamos sentir o perfil do time e ver como é que é. Se será bem aceito ou não. Estamos usando muita coisa velha no Brasil ainda.

FLAMENGO
- Tenho certeza que vai dar certo, é mais ou menos o que eu penso o que é o Flamengo: um time gigante, que tem a pressão. Eu gosto disso também, de sofrer um pouco. Então, acho que vai ser maravilhoso. A gente vai ter resultados e vai melhorar o Flamengo em todos os sentidos. O Flamengo está no pontinho, no ponto certo para voar, porque está muito bem. E vai voar, com certeza.

CENTRO DE TREINAMENTO
- Você tem que ter aparelhos para fazer medição no jogador. Se você não tiver isso, você não sabe o que é muito e o que é pouco. Aí, você não sabe o que é muito treinamento, pouco treinamento. Essas ferramentas tem que ter, é o mínimo que tem que ter. A gente aqui no Rio de Janeiro demorou um pouco para achar esse caminho. O Fluminense, onde eu trabalhei, está partindo para esse caminho de excelência também. Não tem como fugir disso. Isso é fundamental.

REFORÇOS
- A gente está aqui nessa conversa que é bonitinha, legal, estrutura, filosofia, projeto e o diabo se você não ganha. Então, tem que trabalhar nessa parte da estrutura legal, que tem gente para trabalhar, e nós temos que ganhar também. Então, nós estamos identificando os jogadores, que não são muitos, mas tem que ser bons. Se você trouxer três bons, quatro bons, está ótimo.

CATEGORIAS DE BASE
- Esse é um projeto que a gente vai desenvolver, explicar para os treinadores, para os gerentes da base, que o grande motivo é fazer jogadores né. Mas gente achar uma maneira de jogar, uma filosofia, uma ideia, que se pareça com o Flamengo, que tenha a cara do Flamengo e trabalhar em cima dessa ideia em todas as categorias. Unificar mesmo, ou seja o profissional vai jogar de uma maneira, o sub-20 da mesma maneira, tudo, até o sub-8.

ATRASO NO FUTEBOL
- Não dá mais para não crescer, não dá mais para ganhar no futebol sem a estrutura, não dá mais para ganhar só contratando bons jogadores e um treinador bom. Sem a estrutura, sem a tecnologia que existe hoje, não dá.

SAÚDE
- Os médicos estavam insistindo dizendo que precisava parar e fazer cirurgia da vesícula. Eu tinha mais ou menos uma vinte pedras na vesícula. Isso é perigoso. Me disseram que eu tinha que ir para a UTI e isso me assustou. E fui para UTI, foi duro demais. Minha mulher fez um apelo, dizendo que eu não estava vivendo. Aí, sim, foi quando eu decidi que quando eu saísse de lá eu ia dar um tempo.