Fiel escudeiro de Muricy, Tata resume dupla de 17 anos: "Viciados em títulos"

14/1/2016 07:57

Fiel escudeiro de Muricy, Tata resume dupla de 17 anos: "Viciados em títulos"

Auxiliar de técnico do Fla recorda casos da parceria, revela quando treinador decidiu voltar ao futebol e destaca diferencial do Rubro-Negro: "Tudo é grande no Flamengo"

Fiel escudeiro de Muricy, Tata resume dupla de 17 anos: Viciados em títulos
Tata recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no resort onde o Flamengo faz sua pré-temporada (Foto: Gustavo Rotstein)

São 15 títulos oficiais - entre eles quatro Brasileiros, uma Libertadores e estaduais em três estados diferentes. São poucos os canecos que faltam para a dupla Muricy Ramalho e Mário Felipe Peres, o Tata, seu auxiliar e grande amigo. De volta ao Rio de Janeiro cinco anos depois de deixar o Fluminense, a dupla está com tudo para comandar um Flamengo que tenta sair do discurso - que vai da diretoria competente nas finanças - mas que tropeça na prática - de fracassar no futebol. A aposta em Muricy e em Tata não é à toa.

Com sotaque paulista, tímido e de poucas palavras, Tata é diferente de Muricy - e lhe completa justamente por isso. Mas se o "chefe" velho amigo foi político na chegada e preferiu não prometer títulos, o auxiliar - também de 60 anos - trouxe para si a ousadia: a meta é ganhar Carioca, Copa do Brasil, Brasileiro, Sul-Minas-Rio... Tudo! Um desejo baseado no que considera um vício da dupla: ser campeão. Costume prazeroso, mas não o único em comum. Gostam de ver futebol - qualquer partida -, curtem o Guarujá e têm religiosos encontros semanais para conversarem em família. Em conversa com o GloboEsporte.com que durou 30 minutos, a resposta referente a faixas no peito foi dada justamente na última pergunta (sobre o que projeta para a temporada).

- Quero ganhar todos os títulos. Só isso (risos). Todos os títulos - torce Tata.

Ex-jogador de meio de campo com passagens pelo Santos e Portuguesa, Tata é auxiliar de Muricy há 17 anos.

Confira abaixo o bate-papo do GloboEsporte.com com Tata, auxiliar técnico de Muricy.

Como surgiu a amizade de vocês?

Começou com os jogos entre Vila Sônia, do Muricy, contra o meu time, de Vila Caxingui. São dois bairros de São Paulo colados no Morumbi. Ele levava o timinho dele, eu fazia o meu, e jogávamos contra. A gente devia ter uns 14,15 anos. Time de molecadinha, de rua, de várzea. Era pelada de futebol de salão, de rua. Depois cada um seguiu seu rumo. Ele foi jogar no São Paulo, eu fui para o Juventus e só nos encontramos como adversários. Nos encontramos em 1999, quando ele veio da China, eu era diretor da Portuguesa Santista, estava mudando de função - Tata era treinador antes de assumir o cargo de cartola da Briosa - e o contratei para ser o nosso treinador. E estamos juntos há 18 anos quase.

Como é a relação de vocês?

A gente é muito amigo, se conhece bem, não temos frescura nenhuma, não temos inveja de nada. Essa amizade faz parte de uma convivência muito forte e de honestidade e lealdade grandes.

Você também jogou como meia. Tem uma história que você se valeu de um objeto para ganhar um campeonato na Série B, quando atuava pelo Paulista. Como foi isso?

Não fala isso (risos). Era uma final da Segunda Divisão de São Paulo, e jogavam Paulista e Portuguesa Santista. Tava 2 a 1 para o Paulista, e, aos 43 minutos do segundo tempo, o juiz deu um pênalti. Nesse pênalti fomos reclamar, e o Gerson Andreotti foi expulso. Fui empurrando para ele sair de campo, e jogaram uma vela de caminhão nas costas dele. Eu falei: "Vou fazer alguma coisa com isso daqui". Eu tinha jogado com o Ailton Lira no Santos, e eu sabia como ele batia (pênaltis): ele ia andando cadenciado e depois batia na bola. Quando ele foi bater, joguei (a vela) pra acertar a bola. Acertou a bola, a perna dele, e a bola bateu na trave e saiu. Tomei um soco na boca. Mas são coisas folclóricas do futebol, que não acontecem mais (risos).

Hoje não cabe mais isso, né?

Não, não cabe. Não cabe mais jogador chato.

Que tipo de malandragem você passa para seus jogadores?

Nenhuma (risos).

O Sheik tem muita malandragem, por exemplo. Aquela da final contra o Boca Juniors (mordida em Caruzzo)...

Isso é criatividade que você procura como recuso de última hora. É de improviso. Você não pode passar isso para jogador. O jogador tem de se auto-determinar. Isso é importante.

Como lidam com a mudança da sua época de jogador para a atual, com celular, internet, redes sociais?

Mudou muito (repete três vezes). Você tem que seguir a vida, procura orientar sem ser chato. Se vê alguma coisa errada, você brinca, tenta lembrar de algo parecido que aconteceu em outra época. Não precisa pegar no pé do cara. O cara já tem a vida dele e sabe o que quer, até porque o principal prejudicado pode ser ele mesmo. Procuramos ajudar da melhor maneira possível.


Tata orienta César Martins em treino realizado em Mangaratiba (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Os garotos de hoje em dia, com todo esse isolamento em que cada um escuta sua música com fone no ouvido, eles lhe procuram para pedir ajuda ou tirar dúvidas?

Eles perguntam, mas são poucos jogadores. Os mais interessados sempre querem saber alguma coisa. Poucos pedem orientação, mas a gente tenta sempre passar coisas boas. Fazíamos isso com a molecada do Santos, só que as coisas mudaram muito no futebol. Eles têm dois empresários, assessores e uma porção de gente que toma conta da vida deles. Fica mais fácil de pensarem as coisas.

Você trabalhou com o Muricy na Portuguesa Santista como diretor, e ele como treinador. Como foi esse outro tipo de relação que tiveram?

Ele estava voltando da China, ficou uns oito meses lá, e eu disse: "Vamos contratar o Muricy, porque é um cara capaz de trabalhar com a gente, muito autêntico, honesto e trabalhador". Liguei para ele, acertamos tudo, e até hoje estamos juntos.

E ele dava muito trabalho pra você como treinador?

O Muricy não dá trabalho, as pessoas se enganam. É muito fácil lidar com ele. Ele não gosta de sacanagem, coisa errada. Por isso às vezes a gente fica do lado para filtrar e não deixar as coisas ruins acontecerem. Mas é muito fácil trabalhar com ele. Cara muito honesto, muito simples, não tem frescura nem vaidade nenhuma. Muito legal trabalhar com ele.

O Muricy de hoje é o mesmo daquela época?

A pessoa vai ficando mais velha e vai tendo um pouco mais de paciência. Às vezes, era pouco paciente e conseguimos controlar isso melhor com ele. Fica mais velho, o cabelo vai caindo, e aí ele fica mais calmo, com um pouco mais de paciência.

Você também era cabeludo como o Muricy, né?

Sim, eu era cabeludo também, mas ele era mais do que eu. Muricy é da época do tamanco, da calça boca de sino (risos).

O auxiliar geralmente é a pessoa mais próxima do treinador. Você parece mais calmo, e ele um pouco mais explosivo. Você é quem o deixa mais tranquilo?

Eu até falo para os assessores de imprensa e para as pessoas que trabalham com a gente: 'nem chega perto da gente que agora não dá'. Apesar que faz muito tempo que não acontece isso. Na época do tricampeonato (brasileiro, com o São Paulo), que era uma guerra danada, eu falava: 'deixa ele dar uma respirada, depois você fala'. Mas a gente está sempre bem próximo. Não se pode levar muita coisa ruim, não se pode destacar coisas ruins.

Desses 40 anos de amizade, como você vê o Muricy voltando depois desse período de inatividade. Quando ele teve o problema de saúde, via-se que ele estava um pouco para baixo. Agora ele parece animado, certo?

Está! No começo do ano passado, quando voltamos a trabalhar depois das férias, ele estava meio caído, não estava muito legal. E houve um período de turbulência no São Paulo, com mudança de presidência, as coisas não estavam caminhando muito bem. Não dentro do campo, mas fora dele. Aí nós saímos. Nós temos um amigo muito bom que é o Ricardo Rosa, que é o preparador físico exclusivo do Neymar em Barcelona. E nos damos muito bem. Trabalhamos juntos no Santos e em outros times. Ele falou para mim: 'Tata, vem ficar uns dias aqui em Barcelona'.

E como foram esses dias em Barcelona?

Falei para o Muricy: 'Vamos pra Barcelona, vamos dar um passeio'. E ele disse: 'Vamos'. Isso partiu dos dois, foi espontâneo. Ficamos 15, 20 dias lá, e os caras deram atenção especial pra gente, foi muito bacana. E o Muricy, vendo aquilo tudo lá, se reanimou e falou: 'Tô com vontade de jogar bola outra vez'. E foi importante, porque conhecemos toda a história do Barcelona e vimos o que podíamos tirar de proveito dos times europeus. Você nunca vai fazer o que eles fazem lá, mas você pode mudar alguma coisa, algum detalhe ou vírgula que possa melhorar aqui. É diferente, outra cultura, outra maneira. Vimos todos as categorias com uma organização esplêndida, bárbara. Tem o Barcelona antes do Cruyff e depois do Cruyff, porque ele não gostava de ver o time ganhando sem jogar bem. Então a torcida não aceita o Barcelona ganhar de qualquer jeito. Aparece uma cena importante no vídeo que assistimos lá: o Rinus Michels passando o bastão para o Cruyff. O Cruyff passando o bastão para o Guardiola, e agora provavelmente o Guardiola passará para o Xavi. Vão preparar o Xavi logo, logo. Não mudam a história deles. Não é por um passe errado ou um escorregão que vão mudar a história deles. Eles recomeçam a história deles.

Muitas pessoas diziam que o time do Muricy jogava feio, falavam no tal "Muricybol". O que diz sobre isso?

Alguns jogos você tem que fechar um pouco mais para se ter uma vantagem mais à frente. Eles falam isso porque no tricampeonato nós ganhamos muitos jogos de 2 a 1. Saía perdendo, virava 2 a 1 e se fechava outra vez. É porque tínhamos uma defesa muito qualificada, com Miranda, Alex Pirulito, André Dias, Rodrigo. Como a bola não parava muito na frente, você sofria mais ataques, e a defesa defendia bem e conseguíamos matar os jogos no contra-ataque. Mas o Muricy era um meia ofensivo quando jogava. Você não pode mudar característica de vida sua. Ele se preocupa muito com o ataque e qualidade ofensiva.

Hoje em dia, depois que passaram pela escola do Barcelona, em que trabalham técnica exaustivamente, vocês pretendem fazer um Flamengo técnico, ofensivo?

Nós não estamos só valorizando o Barcelona, não. Tem muita coisa diferente lá. O Muricy era meia ofensivo de cortar queijo e olhar pra goiabada. Sabe o que é isso? É tocar a bola e olhar para o outro (risos). Hoje o futebol é muito rápido. Não se consegue mais jogar lentamente. Tem que ter um time que saiba defender sem a bola e atacar com a bola. Não existe muito segredo no futebol. Existe qualidade individual junto com a parte tática e técnica. Existem algumas equipes que são campeãs ou disputam títulos importantes que têm sempre um jogador ou dois que comandam em campo. Um exemplo: Renato Augusto. Ele tomou conta do Corinthians em campo. Ajeitou o Corinthians, mandava atacar, defender. É importante ter jogadores como esses.

O Flamengo tem esse jogador atualmente?

Acho que tem sim, mas não vou te falar quem é.


Com o inseparável Tata, Muricy faz anotações antes de treino do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo.com.br)

O Muricy fala para o Willian Arão entrar com a bola na área, gosta dessa participação ofensiva. Acho que você quer dizer que esse jogador é o Arão...
(risos)

Desse elenco vocês trabalharam com quem?

Desse elenco trabalhamos com Pará, Alan Patrick, Sheik, Márcio Araújo.

Como foram esses oito meses de inatividade desde que deixaram o São Paulo?

Foi bom pra caramba (risos). A gente está sempre no Guarujá, acompanhando futebol de perto, de longe, de lado. A gente trabalhava no Internacional em 2002, ele morava no 16º (andar), e eu no 8º. Aí eu falava pra ele: "Ô, tá passando um jogo Framboesa e Guaranazinho". Ele respondia: "Já tô vendo esse aí e já tá no segundo tempo" (risos). Então a gente era viciado pra ver quem assistia mais futebol. Nesse período sem trabalhar procuramos inovar as coisas, conhecer coisas novas e assistir jogos também.

Desses sete novos jogadores do Flamengo, algum deles foi indicado por vocês?

Já estava tudo mapeado.

Sobre a viagem para Barcelona, você falou do convite do preparador para viajarem.

Pô, vamos parar de falar de Barcelona.

Então não foi do Muricy a ideia de ir para lá?

Foi também. A gente jantando, saiu o papo. Foi espontâneo. Vamos numa condição não de sapo. Vamos numa condição de que o Barcelona sabia que íamos para lá.

Há muito tempo, após um título com o Santos, você disse que o Muricy era o "melhor de todos". Ainda acha isso? Fale da sua admiração por ele.

Ele faz coisas erradas também, ninguém é perfeito. A chance de a gente errar é muito menor, porque está sempre ligado e preocupado com as coisas. Eu disse essa frase acho que logo depois da Libertadores. Demos um abraço no meio de campo, porque era um título importante para nós e que já vínhamos buscando há muito tempo, desde a época do São Paulo. Continuo achando que é o melhor, com muita qualidade. Cara que sabe dar o treinamento e embutir na cabeça do jogador o que ele precisa fazer, mas sem mudar a característica do jogador. Continuo achando que ele é o melhor.

No Fluminense, o Muricy disse que o Rio é muito caro, desde aluguel a outras coisas. Você também pensa assim?

O Muricy é hors concours disso. Nunca abre as duas mãos juntas, ele é economista. A gente acha um pouco caro, sim, em relação a São Paulo.

Vocês gostam do Rio?

Não tem problema nenhum. A gente faz amizade muito fácil onde chegamos.

Com menos de um mês de Flamengo, o que o clube tem de diferente em relação aos demais?

Tudo é grande no Flamengo.

Por exemplo?

Uma coisinha assim se torna enorme. É um time de massa e de respeito no futebol mundial. É bem visto em todos os sentidos.Tem que ter equilíbrio. Não pode dar tudo nem tirar tudo.



Toda quinta-feira nós saímos para jantar nesse período em que ficamos sem trabalhar. E ele me falou que os caras estavam ligando para ele. Como ligavam para mim também, eu falava que ele só trabalharia no ano que vem. Num desses jantares ele me falou do Flamengo. A gente não fica louco com essas coisas, elas acontecem naturalmente. Temos um pensamento de que, quando as coisas estão difíceis, colocamos nas mãos de Deus, e Ele encontra um caminho legal pra gente.

O que mudou do que vocês, de fora, ouviam da estrutura do Flamengo?

O Flamengo está se organizando como as melhores equipes do país. O centro de treinamento é muito importante para o futuro do Flamengo. Essa qualidade de excelência que os médicos estão procurando, esse laboratório que estão fazendo é muito importante. Faz diferença. São poucas as equipes que têm o que Flamengo está fazendo hoje. Isso vai fazer diferença no futuro.

E o Mancuello? Como vocês pensam em utilizá-lo?

Não tem nada definido, está chegando agora. O que acompanhamos do material dele dá pra ver que é um jogador importante, que sabe articular bem, marcar bem, se movimentar bastante e entrar na área. Quando falaram que era um segundo volante, pensei: "Não é segundo volante nem aqui nem na China. Toda hora tá lá na frente". É que na Argentina chamam meio-campista de volante. Na hora que se enturmar direitinho e se entrosar, pode fazer sucesso aqui.

Alan Patrick trabalhou com vocês quando ainda estava na fase de maturação. O quanto apostam nele?

Ele tem muita qualidade. No Santos, ganhamos uma Recopa com ele fazendo partidas maravilhosas. Ele precisa estar atento no que está fazendo, jogador que precisa ser cobrado. Ele mesmo tem que encontrar um ponto de equilíbrio para que possa se desenvolver um pouquinho mais em campo. Saber jogar, ele sabe muito.

Ele e alguns companheiros se envolveram num episódio de indisciplina. Já conversaram para evitar isso?

A gente não estava aqui e nem sabe o que aconteceu (risos).

Qual a importância do Sheik?

É um jogador muito importante, dinâmico, não sabe dar "migué" no futebol. Joga e treina sempre no limite. Isso contagia.

E do Juan, que é um líder mais calado?

É um pouco diferente, já fala menos. Já pensou se todo mundo fosse igual? Ia terminar tudo 0 a 0 (risos). Jogador sério, trabalhou fora de país, viu muita coisa certa e errada. Tem muito pra ensinar, sim.

O que o Tata projeta para 2016?

Quero ganhar todos os títulos.

Só isso?

Só isso (risos). Todos os títulos, e a gente é viciado em ganhar títulos. Vamos ver se dá certo aqui.

1781 visitas - Fonte: Globoesporte.com


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