Depredação e pimenta: São Januário sobrevive à tensão do clássico carioca

15/2/2016 07:41

Depredação e pimenta: São Januário sobrevive à tensão do clássico carioca

Dezessete rubro-negros são detidos por banheiro quebrados. Bomba inicia confusão, mas polícia age rápido e evita confronto, à base de spray e balas de borracha

Depredação e pimenta: São Januário sobrevive à tensão do clássico carioca
Torcidas são separadas por cordão da PM (Foto: Sofia Miranda)

Fim de jogo. Vasco 1 x 0, gol do reserva Rafael Vaz. Após coletivas de Muricy Ramalho - que voltou a elogiar São Januário e o tratamento recebido no estádio vascaíno - e Jorginho, jogadores do Flamengo saem do vestiário entre olhares curiosos e pedidos de lembranças até de torcedores vascaínos. Uma senhora pediu foto, mas nem foi vista por Emerson Sheik. O atacante rubro-negro cruzou rápido a distância de pouco mais de 20 metros da saída do vestiário até o veículo - não personalizado com as cores do Flamengo - que levaria a delegação embora do estádio de São Januário. No caminho, misto de ironia com brincadeira:

- Fica com medo não, Sheik - disse um funcionário vascaíno, sob olhar assustado de Sheik, que foi escoltado por um segurança até o ônibus da delegação.

Bem perto da cena, dirigentes do Flamengo, como o presidente Eduardo Bandeira de Mello e outros vice-presidentes - Alexandre Wrobel, Rafael Strauch, Flavio Godinho e outros -, aguardavam a saída dos demais atletas. Garotos recém-promovidos dos juniores, como Felipe Vizeu, do Flamengo, e Matheus Índio, do Vasco, confraternizam normalmente, longe do clima de tensão que caracterizou o primeiro clássico carioca do ano, com vitória vascaína aos 45 minutos do segundo tempo. Cercado de polêmicas nos bastidores, o Vasco x Flamengo em São Januário depois de mais de uma década sobreviveu às expectativas pessimistas na Colina Histórica.

Antes do jogo, faltou água e sobrou gás de pimenta. O Grupamento Especial de Policiamento em Estádios e a segurança privada do Vasco tiveram muito trabalho para colocar ordem em São Januário. Pelo histórico de rivalidade e conflito em todo local onde se enfrentam, a preocupação era evidente em separar as torcidas. Até chegar ao estádio, a escolta funcionou, com mais de mil torcedores a pé da Praça Onze até São Januário – cinco quilômetros de caminhada sem registro de ocorrência. Com 17 detidos pela polícia, após depredação do banheiro de visitantes no estádio vascaíno, houve confusão antes e no intervalo da partida – com intervenção mais forte do forte policiamento que foi escalado no campo do Vasco.

Na zona que separava em homens da polícia, grades, tapumes e trilho com vidros, a cada balão vermelho ou preto que cruzava a faixa neutra e entrava em território vascaíno, um torcedor corria para estourar o mais rápido possível "os intrusos". Disposição não faltou para confusão. Os rubro-negros entraram em um setor isolado, inacessível aos vascaínos. Os poucos que tentavam chegar - ou provocar longe da grades - eram logo afastados. Donos daquele pequeno pedaço, que tinha ameaças pichadas em muros, os flamenguistas aproveitaram para provocar:

- Invadimos o chiqueirão! – gritavam enquanto eram vistoriados e entravam no estádio.

O maior problema antes do jogo foi causado por combinação de motivos: por recomendação da polícia e por medo de confusão, o comércio nos arredores da torcida do Flamengo fechou – como já havia acontecido na partida do fim do ano passado contra o Corinthians. A entrada da maioria dos flamenguistas se deu mais de duas horas antes do jogo. O atendimento em bar do lado rubro-negro era feito por apenas dois funcionários, com alguns policiais supervisionando. O atendimento não conseguia suprir a demanda e virou estopim para início da confusão, embaixo de sol escaldante e fechados num espaço demarcado pelos policiais e funcionários do Vasco, que respondiam a provocações e por pouco não geraram mais problema antes do jogo.

Em outro momento mais nervoso, flamenguistas pressionaram a grade que os separava do lado dos visitantes do estacionamento de São Januário. Em comunicações por rádio, o reforço de policiamento e mais seguranças privados do Vasco evitaram o que poderia piorar. Latas foram arremessadas em cima de policiais e foi preciso mais gás de pimenta no local. “Acabou o amor, isso vai virar um inferno”, cantavam os flamenguistas.

Entre os mais de 14 mil no estádio, havia pouco mais de mil rubro-negros. Nem todos de organizadas, evidentemente. Aqueles que não vieram escoltados pela PM preferiram chegar à paisana, como era recomendado pelo Gepe. Vitor Henrique e Nilton Carvalho trouxeram suas camisas escondidas e só as colocaram quando estavam na área segura. Estavam motivados com a possibilidade de vitória, que não se confirmou.

- Seria muito bom ganhar deles aqui. Melhor que no Maracanã. Nós amamos o Flamengo, vamos a todos os jogos – disse Vitor.


Funcionário retira vaso depredado por flamenguistas (Foto: Raphael Zarko)

Os vascaínos tomaram conta dos acessos restantes. Espalharam-se pelos bares abertos, cantaram músicas provocativas e empunharam bandeirões. Alguns arriscaram-se até a trazer seus filhos para o jogo, confiando na segurança. De fato, até a entrada maciça dos torcedores, não houve episódios violentos no entorno. No máximo, um grupo de rubro-negros errou o caminho, passou pelo setor cruz-maltino e teve de ouvir impropérios enquanto era escoltado pela polícia até a entrada correta para seu setor.

Banheiros depredados

Entre gritos de “chiqueiro” e xingamentos contra Eurico Miranda, os mais exaltados quebraram vasos, portas dos banheiros e picharam as paredes. Neste momento, flamenguistas foram levados para o juizado no estádio de São Januário e ficaram até o fim da partida. Rubro-negros protestaram, e foi preciso a primeira tirada de gás de pimenta na área de visitantes. Após a primeira confusão, um funcionário do Vasco retirou três portas e pedaços dos vasos sanitários do lado rubro-negro – ainda havia um banheiro feminino. Mesmo quebrado, flamenguistas seguiram usando o banheiro, com policiais que ficaram na porta.

O Flamengo garantiu que irá arcar com o prejuízo causado comprovadamente por seus torcedores. Em entrevista após o jogo, o presidente do Vasco, Eurico Miranda, disse o mesmo:

- Foi combinado antes. Todo o prejuízo causado e constatado pela torcida do Flamengo, o Flamengo vai pagar. Você não tenha dúvidas – afirmou o mandatário cruz-maltino.


Cabine do banheiro do Vasco quebrada após ação de torcedores do Flamengo (Foto: Felipe Schmidt)

Alheios a tudo isso estavam Paulo Roberto, de 59 anos e Deyvid, de 11. Torcedores do Flamengo, estavam à paisana no setor destinado aos vascaínos, com uma sombrinha protegendo-os do sol, bem perto da divisão entre torcidas. Paulo aproveitou que tinha direito a gratuidade para trazer o vizinho de Quintino para assistir ao clássico. Tão logo o jogo começou, porém, viram que não era seguro ficar ali e procuraram outro lugar.

- Se eu pudesse, estava lá (do lado do Flamengo) - disse Deyvid.


Paulo Roberto, Deyvid e a sombrinha: flamenguistas no lado vascaíno (Foto: Felipe Schmidt)

Bomba - de quem? - detona tensão

Passado o primeiro momento de tensão, torcedores das duas partes, acomodados em seus devidos lugares, trocaram provocações enquanto esperavam seus times em campo.. Eles estavam separados por um cordão feito pela polícia, distantes cerca de 15 metros. Os jogadores rubro-negros aqueceram ao som de gritos de “Vai morrer!”; os vascaínos foram aclamados pelos 90% das arquibancadas. Ao longo do jogo, Guerrero e Emerson Sheik foram os mais visados pelos cruz-maltinos.


Exaltados, vascaínos se concentram na divisão de torcidas após estouro de bomba (Foto: Felipe Schmidt)

Boa parte do jogo foi tranquila, com provocações mútuas. Mas, no fim do primeiro tempo, ocorreu o maior momento de tensão do dia. Uma bomba estourou no lado da torcida do Vasco, bem na fronteira com os rubro-negros. Os cruz-maltinos se revoltaram e tiveram de ser contidos pelos policiais com spray de pimenta. Um rio de torcedores se formou e fluiu no sentido à divisão, contrariando a lógica de se afastar do perigo, obrigando os soldados a avançarem alguns metros arquibancada adentro. Quem atirou o artefato? Nem a polícia sabe dizer.

Findo o primeiro tempo, o clima piorou. Torcedores do Vasco desceram as arquibancadas e tentaram chegar ao setor rubro-negro. Houve encontro e rápida briga, logo dispersada pelo Batalhão de Choque com tiros de borracha. Outras duas bombas estouraram, e cruz-maltinos tentaram escalar as grades de separação, sem sucesso. Os dois lados voltaram para o segundo tempo e limitaram-se a trocar ameaças, mas também protagonizaram bonitos momentos de apoio às equipes.


Após rápido confronto, torcedores são contidos pela polícia (Foto: Felipe Schmidt)

Vascaínos enlouquecem com gol

O gol de Rafael Vaz aos 45 minutos do segundo tempo garantiu a vitória e liberou a comemoração vascaína. Aqueles próximos à fronteira quase não olharam para o gramado. Voltaram-se para os rubro-negros e festejaram entre xingamentos, despedidas irônicas e até selfies enquadrando os rivais. O que poderia significar mais tensão não aconteceu: os flamenguistas ficaram retidos em São Januário mais 90 minutos depois do apito final; só então foram liberados e novamente escoltados pela polícia.

O gol do zagueiro reserva causou comoção em São Januário. Com quatro vitórias nos últimos cinco jogos - um empate, o da eliminação do rival na Copa do Brasil -, a torcida vascaína gritou que o "Flamengo é freguês" e por pouco não invadiu aos montes os gramados. Torcedores escalaram o vidro da divisória com o gramado e um deles chegou a entrar, sendo logo agarrado pelos seguranças. No fim das contas, o antigo estádio vascaíno, que completa 89 anos em dois meses, passou novo teste de tensão contra a violência das organizadas. Os sustos e os sufocos - da falta de água ao gás de pimenta - mostram, porém, que as limitações de estrutura e de organização são desafios possíveis para o Vasco e para a polícia colocarem em prática.


Vascaíno dá tchau para rubro-negros após vitória cruz-maltina (Foto: Felipe Schmidt)

3031 visitas - Fonte: Globoesporte.com


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