Revelados pela ESPN, os e.mails entre dirigentes da CBF e o procurador do STJD, Paulo Schmitt, geraram uma disputa dentro do tribunal esportivo que terá de ser decidida pelo pleno do tribunal. Há uma troca de acusações entre Schmitt e o auditor Washington Rodrigues que já resultou em quatro inquéritos no tapetão. A cúpula do STJD tenta administrar a crise defendendo a lisura da Justiça Desportiva.

A ESPN publicou e.mails entre o presidente licenciado da CBF Marco Polo Del Nero e o procurador do STJD em que eles discutiam uma denúncia a ser prestada contra o Atlético-MG por um mosaico de protesto de sua torcida. A confederação pedia providência, e Schmitt aceitava.

Os documentos foram obtidos na Operação Durkheim, da Polícia Federal, e estão com a CPI do Futebol. O teor desses e.mails coloca em questão a independência da procuradoria do tribunal.

Atacado pelo procurador nos e.mails, o auditor de 1a instância do STJD Washington Reis pediu a abertura de inquérito contra ele. No facebook, o atacou: “Conseguem imaginar a gravidade de uma troca de e-mails, entre a Dilma e o Rodrigo Janot (procurador-geral da República), tratando da apresentação de recurso pela procuradoria sobre um processo em julgamento???? No futebol parece ser normal… Infelizmente…. 8×1 pra Alemanha!'', escreveu.

Em contra-ataque, o procurador Paulo Schmitt entrou com três representações contra Reis. Uma alega suspeita de suborno em 2004 em julgamento no TJD de São Paulo, outra argumenta quebra de conduta por tietar Sheik em julgamento e a terceira pelo ataque no facebook. Os dois primeiros casos eram antigos e nunca foram alvo de questionamentos na Justiça Desportiva.

Todos os inquéritos foram para as mãos do corregedor do STJD, Ronaldo Piacenti. “Ambos serão julgados pelo pleno do STJD'', contou. “Primeiro, enviei para o subprocurador: ele dará um parecer sobre o caso e eu farei um relatório ao pleno.''

Embora diga que é necessário esperar as investigações, Piacenti já tem algumas opiniões formadas sobre o assunto. Ele não viu desvio de Schmitt nos e.mails trocados com a cúpula da CBF, e já de cara afirma que não há interferência no tribunal.

“Não tenho essa visão. Um colega seu que ligou também não viu interferência. Qualquer pessoa pode fazer uma denúncia. Se conhecer uma irregularidade, deve denunciar. É uma notificação de infração'', comentou. Nem o agradecimento de Schmitt por viagem paga pela CBF é visto como impróprio. “Isso é uma questão pessoal dele.''

Em relação a Washington Rodrigues, o corregedor não é tão condescendente. “Pelo código de ética do tribunal, não pode fazer manifestação por facebook. Eu não faço''. Não soube explicar por que Schmitt denunciou o auditor por casos antigos só agora. “Talvez só tenha feito o levantamento agora.''

Ouvido pelo blog antes da instalação do inquérito, o presidente do STJD, Caio Rocha, foi bastante cauteloso. Primeiro, afirmou que seria difícil fazer comentário já que não sabia a origem dos diálogos e se eram verdadeiros.

A princípio, não viu impropriedade dos diálogos de Schmitt com Del Nero. “Pelo trecho de diálogo que vi, se for verdadeiro, o procurador mostra inconformismo com a decisão do tribunal o que é normal''. disse. Para ele, a procuradoria tem que ser independente da CBF.

Os 12 maiores clubes do país pediram à CBF a retirada de Schmitt do cargo, mas isso não tem peso jurídico na decisão. A entidade nomeou o procurador, mas não pode retirá-lo, apenas o pleno do STJD se houver conduta imprópria. Ainda não há data para o julgamento tanto do auditor quanto do procurador. O blog tentou contato com Rodrigues e Schmitt, mas não conseguiu encontrá-los.