A fala é mansa e a timidez ainda são traços facilmente reparados. Mas durante quase uma hora de entrevista, Eduardo Bandeira de Mello, presidente que toma posse hoje no Flamengo, passou segurança sobre o desafio que começará a encarar a partir do dia 2. Tarefa árdua para uma pessoa que um mês antes da eleição nem era conhecida e agora é o homem forte do clube de maior torcida do país. Ele faz parte de um grupo de executivos bem-sucedidos em suas áreas, mas que são debutantes no ramo da bola. A forma de falar mostra esse pensamento.

– Em qualquer negócio que você faça é preciso que conheça o interlocutor. Ter um banco de dados é fundamental – garante.



O que mudou na sua vida após a eleição?

Mudou muita coisa. Eu sou uma pessoa discreta. De repente, me vi candidato e presidente eleito do clube de maior torcida do país. Passei a ser reconhecido nas ruas, as pessoas me param para tirar foto, sugerem reforços. Eu não estava costumado com isso.
E já consegue avaliar o tamanho deste desafio?
Tem de encarar com os ônus e os bônus. Depois da minha família, o Flamengo é a coisa mais importante da minha vida. É a minha paixão.

Acha que seria eleito sem o apoio do Zico?

Zico foi fundamental na minha eleição presidencial. É o maior ídolo da História do Flamengo. O prestígio dele é enorme. Foi extremamente valioso o apoio dele e tenho certeza de que ele vai continuar nos ajudando. Será uma espécie de consultor do conselho gestor e outros projetos. Queremos ter o Zico sempre do nosso lado. É bem difícil dimensionar a força da participação dele. Com o Zico ao lado, fica mais facilitado abrir portas tanto no futebol quanto politicamente.

Haverá um conselho gestor, no qual várias pessoas darão opiniões. Isso pode enfraquecer o seu poder como presidente?

Democracia nunca é ruim. Teremos uma equipe de alto nível. Cada um tem a sua formação profissional. As decisões serão sempre para o melhor do Flamengo. É um modelo que funciona bem na maioria das empresas. Por que não daria no Flamengo?

Em relação a patrocinadores, como estão as negociações? A ideia de rodízio de espaço na camisa permanece?

Vamos ter patrocínios em curto prazo. Não sabemos se vai ser rodízio ou se teremos um master. Os dois projetos estão sendo analisados ainda. Não é impossível que se anuncie ainda neste ano. O importante é que, quando o time entre em campo, não tenha mais esse buraco. Nós imaginamos que o time vai começar a jogar já com patrocinadores na camisa.

O que pode prometer para o futebol do Flamengo?

Claro que vai ser a prioridade. É a maior paixão do Flamengo. Foi por causa do futebol me tornei sócio. Não vamos negligenciar os esportes olímpicos e nem a sede. Mas ainda precisamos tomar conhecimento das finanças do clube. A situação financeira não é nada confortável. As últimas contas aprovadas são de 2010. Estamos contratando uma empresa para analisar isso, para que em 90 dias tenhamos a ideia mais clara de onde estamos pisando.

Tem algum jogador que seria seu sonho de consumo?

Meu sonho seria rejuvenescer o Zico uns 30 anos. Hoje ele seria o maior jogador do mundo. Trazer o Messi não é possível, Cristiano Ronaldo e Neymar também não. Vamos trabalhar para ter um time competitivo no prazo mais curto possível. Eu não seria responsável se citasse nomes. Eu já estive do outro lado, como torcedor, e sei bem como é isso.

Qual o plano para o programa de sócio-torcedor?

Tentar atrair o torcedor para que ele possa participar das decisões do clube. Este projeto representa a redenção do Flamengo. Se você conseguir colocar boa parte dos 39 milhões de torcedores para dentro do quadro associativo, nossos problemas estarão resolvidos. Teremos de fazer uma adaptação no estatuto.