Dois ex-executivos do consórcio da Odebrecht traçaram panorama preocupante da gestão de arenas e estádios pouco mais de dois anos depois da Copa do Mundo disputada no Brasil. Marcelo Frazão, ex-diretor de marketing do Consórcio Maracanã e atual diretor de negócios do Flamengo, e Marcus Duarte, com passagem recente pelo estádio e ainda mais recente no marketing do Vasco, relataram as dificuldades encontradas no dia a dia do ex-Maior do Mundo, hoje largado e à espera do repasse da concessão da Odebrecht.
Em seminário realizado pela Trevisan, nesta noite de terça-feira, no Centro do Rio, Frazão ampliou a discussão para o cenário semelhante em outros estádios de Copa e citou a entrada de empresas sem experiência no futebol e no mercado de entretenimento como um dos fatores que provocou prejuízos nas operações de arenas pelo país.
É como se colocasse uma churrascaria para um vegetariano administrar. Foi o que aconteceu no Brasil inteiro. Você pega uma empresa de construção, que é uma empresa fechada, sem experiência em varejo, sem muita exposição na imprensa, sem muita estratégia de marketing...
De uma hora para outra, essa empresa, que não tem afinidade nenhuma com entretenimento, esporte, vai administrar um estádio - comentou Frazão.
Para o atual executivo do Flamengo, que trabalhou no Consórcio de 2014 até julho de 2016, a construção de arenas não foi acompanhada da evolução no cenário brasileiro em forma de leis mais rígidas contra brigas em estádios, calendário do esporte e diversas outras ações.
- Para usar um ditado brasileiro: colocamos a carroça na frente dos bois. A arena seria a evolução do estádio. Foi nada mudou aqui fora essas construções de arenas. Nossa média de público é ridícula - afirmou.
O diretor do Flamengo considera que o repasse da concessão, em vias de definição pela Odebrecht entre CSM, parceira do Rubro-Negro, e Lagardère, pode ser a chance de novos tempos no estádio.
Elefante cinza: Maracanã careca e abandonado preocupa torcedores do futebol brasileiro e fãs de todo mundo (Foto: AP)
Planilha aceita qualquer coisa. Se você pegar plano de negócios original do Maracanã, da Arena de Minas, do Corinthians então nem se fala, você vê coisas do tipo: "vou vender 30 camarotes a R$ 200 mil". A oportunidade que se tem agora é de voltar à realidade - apostou Marcelo Frazão.
Com passagens pelo marketing do Flamengo e do Vitória, além de São Januário, Duarte fez alerta para a concessão do Maracanã, que o Flamengo de Frazão acompanha de perto - como parceiro da CSM na disputa com a Lagardère.
- Tenho certeza que nenhum dos dois grupos parou para pensar que estrutura vai encontrar no Maracanã. Que estrutura de pessoas, de funções, de organização, precisa ter para que as arenas gerem a receita além do futebol? Aliás, quem continua com raciocínio nesse país que o futebol é suficiente para pagar a operação e o custo de uma arena comete grande erro - afirmou Duarte.
O profissional de marketing citou exemplo básico do que encontrou no Maracanã ao assumirem a operação do estádio após a realização da Copa das Confederações em 2013.
- Houve zero planejamento. Nenhuma arena se preparou para a operação pós-Copa. O Maracanã é exemplo. Houve uma reforma geral, mas não foi mexido nas bilheterias.
Por que? Porque os ingressos de Copa do Mundo eram vendido pela internet, eram entregues aos patrocinadores. "Por que eu eu vou gastar dinheiro com reforma de bilheteria? Deixa o concessionário resolver" - disse Duarte.
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