Barbieri aposta em duelo equilibrado e decidido nos detalhes contra o Cruzeiro (Foto: Staff Images / Flamengo)

Histórico. Definição que passou a ser banalizada no vocabulário do futebol, mas se encaixa literalmente na missão do Flamengo na Libertadores.



Eliminar o Cruzeiro, quarta-feira, no Mineirão, seria mais do que avançar às quartas de final. Representaria algo inédito nos quase 123 anos do clube.

Explica-se: por mais que tenha três Copas do Brasil, uma Mercosul, uma Libertadores e cinco de seus seis Brasileiros conquistados em formato mata-mata, o Flamengo nunca conseguiu reverter um confronto em que tenha sido derrotado em seus domínios no primeiro jogo. No 2 a 0 para o Cruzeiro, no Maracanã, foi a nona vez que isso aconteceu. Em todas, a vantagem fez a diferença no final.

Retrospecto em competições internacionais:
Supercopa 1989 - 1ª fase

Flamengo 0 x 1 Argentinos Jrs - Maracanã
Argentino Jrs 2 x 1 Flamengo - José Amalfitani
Mercosul 2000 - Quartas de final

Flamengo 1 x 2 River - Maracanã
River Plate 4 x 3 Flamengo - Monumental
Libertadores 2010 - Quartas de final

Flamengo 2 x 3 Universidad de Chile - Maracanã
Universidad do Chile 1 x 2 Flamengo - Santa Laura
Sul-Americana 2011 - Oitavas de final

Flamengo 0 x 4 Universidad de Chile - Engenhão
Universidad do Chile 1 x 0 Flamengo - Nacional
A estatística leva em conta as principais competições disputadas no formato: Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana e as já extintas Mercosul e Supercopa. O retrospecto é ainda mais surpreendente diante do fato de o Flamengo ter ao menos vencido como visitante somente uma vez nestas condições.

O triunfo aconteceu em 2010, na última vez que o clube chegou às quartas de final da Libertadores, mas sucumbiu diante da Universidad de Chile. O 2 a 1 em Santiago, com Vagner Love e Adriano, não foi suficiente para apagar a derrota por 3 a 2 no Rio de Janeiro. Foi a única experiência neste sentido na maior competição do continente.

Em disputas internacionais, o Flamengo foi surpreendido em casa ainda por Argentinos Juniors, River Plate e novamente a Universidad de Chile nas Supercopa de 89, Mercosul de 2000 e Sul-Americana de 2011, respectivamente. No território nacional, a derrota como mandante aconteceu quatro vezes, todas pela Copa do Brasil.

Retrospecto em competições nacionais
Copa do Brasil 2000 - Quartas de final

Flamengo 0 x 4 Santos - Maracanã
Santos 4 x 2 Flamengo - Vila Belmiro
Copa do Brasil 2005 - Oitavas de final

Flamengo 0 x 2 Ceará - Morenão
Ceará 1 x 1 Flamengo - Castelão
Copa do Brasil 2011 - Quartas de final

Flamengo 1 x 2 Ceará - Engenhão
Ceará 2 x 2 Flamengo - Presidente Vargas
Copa do Brasil 2015 - Oitavas de final

Flamengo 0 x 1 Vasco - Maracanã
Vasco 1 x 1 Flamengo - Maracanã
Campeonato Brasileiro

Nunca aconteceu

Em 2000, o 4 a 0 para o Santos praticamente sepultou qualquer chance de classificação às semifinais, o que foi confirmado com nova derrota na Vila Belmiro. Assim como a La U, o Ceará foi carrasco rubro-negro duas vezes: nas oitavas de 2005 e nas quartas de 2011.

Por último, eliminação no próprio Maracanã. O Flamengo era mandante quando perdeu por 1 a 0 para o Vasco nas oitavas de final de 2015 e ficou no 1 a 1 na partida de volta.

Exemplo negativo quando o assunto é a Libertadores
Como se não bastasse o ineditismo para o clube, na própria história da Libertadores um visitante reverter uma desvantagem de dois gols é algo raríssimo. Aconteceu apenas duas vezes. Em uma delas, justamente contra o Flamengo, no fatídico episódio protagonizado por Salvador Cabañas.

O Rubro-Negro abriu as oitavas de final de 2008 com um 4 a 2 no América do México, no estádio Azteca. Bicampeão carioca três dias antes, entrou em campo no Maracanã, dia 7 de maio, para carimbar a classificação em partida que marcava a despedida de Joel Santana para comandar a África do Sul. O 3 a 0 para os mexicanos, com dois gols do paraguaio, porém, se tornou um dos maiores vexames do clube.

No ano passado, o modesto Deportivo Capiatá, do Paraguai, fez algo semelhante na pré-Libertadores. Após perder por 3 a 1 para o Universitário, do Peru, como mandante, aplicou um 3 a 0 em Lima e seguiu vivo na competição.

Desde 1989, quando o mata-mata passou a valer a partir das oitavas de final, em 31 oportunidades um visitante abriu dois ou mais gols de vantagem. Em 29, saiu com a classificação.

E as viradas como mandante?
Para não ficarmos apenas nos exemplos negativos, listamos também as vezes em que o Flamengo largou atrás em um confronto e deu a volta por cima em casa. Computando as mesmas seis competições citadas acima, isso aconteceu em 13 oportunidades.

O Rubro-Negro contou com o apoio do torcedor para reverter o placar sete vezes na Copa do Brasil, duas no Campeonato Brasileiro, duas na Supercopa, uma na Sul-Americana e uma também na Libertadores, há seis anos.

Na ocasião, ainda na fase prévia, o time de Vanderlei Luxemburgo perdeu por 2 a 1 para o Real Potosí na altitude boliviana e fez 2 a 0 no Engenhão. Léo Moura e Ronaldinho Gaúcho marcaram os gols.

Tantos números evidenciam o tamanho do desafio do Flamengo quarta-feira no Mineirão. Nada que seja novidade para um elenco que sonha em reescrever história literalmente:

- Sem dúvida nenhuma, é muito difícil. É um excelente adversário, mas nós vamos com tudo em busca dessa classificação. Com muito respeito, mas vamos em frente - disse Diego, após o empate por 2 a 2 com o América-MG.
Responsável por apontar caminhos para virada, Maurício Barbieri prevê um jogo equilibrado e não dá margem para erros como os que sua equipe cometeu no Maracanã:

- Os dois times se conhecem muito, são sempre jogos muito parelhos. Detalhes fazem a diferença. No Rio, eles fizeram um gol onde a bola ia para fora e o Thiago Neves conseguiu finalizar. Temos que entrar atentos para evitar erros.

Em 93 jogos, o Flamengo venceu o Cruzeiro 32 vezes, empatou 26 e perdeu 35. Mais da metade dos triunfos, por sua vez, foram por dois ou mais gols de diferença: 17.

O problema é que apenas duas vezes isso aconteceu em Belo Horizonte: 4 a 1, em amistoso em 1938, no antigo estádio da Alameda; e 2 a 0 pelo Brasileirão de 1991, no Mineirão.

Com o passado dissecado, o Flamengo olha para um futuro que passa diretamente pelos 90 minutos de bola rolando quarta-feira, às 21h50 (de Brasília), no Mineirão.

Caso vença por 2 a 0, a decisão da vaga irá para os pênaltis. Vitória dois gols a partir de 3 a 1 ou maior diferença, coloca o Rubro-Negro no caminho de Libertad ou Boca Juniors, e garante um lugar ainda vago em 122 anos de história.