Gigante a ser despertado: Mano conta com a 'nação' para reeguer o Fla

21/7/2013 14:20

Gigante a ser despertado: Mano conta com a 'nação' para reeguer o Fla

Em entrevista exclusiva ao ‘Esporte Espetacular’, técnico fala sobre o desafio no Rubro-Negro, os rumos da carreira e seleção brasileira

Gigante a ser despertado: Mano conta com a nação para reeguer o Fla
Até pouco tempo atrás, Mano Menezes era o técnico da seleção brasileira. Hoje, dirige um Flamengo que tenta voltar aos melhores dias. Nada diferente para um treinador que já assumiu dois grandes clubes do Brasil na Segunda Divisão e os reergueu.
- Trabalho de técnico é exatamente esse, né? Quase sempre você é chamado em momentos de dificuldade. E tem que estar preparado para começar um trabalho novo ou dar continuidade a um trabalho que já havia sido iniciado, como é o caso do Flamengo. E é por isso que eu estou aqui nesse momento.

Há pouco mais de um mês à frente do Rubro-Negro, Mano dirigiu o time em cinco jogos oficiais, com quatro vitórias e um empate. Neste domingo, ele comanda o time contra o Inter, às 16h, em Caxias do Sul, pela oitava rodada do Brasileirão. Com contrato até o fim de 2014, o treinador acredita que poderá ajudar o clube da Gávea a voltar a viver grandes momentos, assim como contribuiu na passagem pelo Corinthians, atual campeão mundial, e no Grêmio, tirado por ele da Série B. O técnico tem na torcida rubro-negra seu maior trunfo.

- Clubes com essa grandeza, com esse apelo popular, com uma verdadeira nação torcendo por eles, podem encurtar esse espaço de recuperação. São verdadeiros gigantes adormecidos, que momentaneamente passam por dificuldades. E, se você começa a fazer a coisa certa, num curto espaço de tempo a resposta vem.
Na entrevista ao programa “Esporte Espetacular”, da TV Globo, o treinador também falou sobre o pouco talento que tinha como jogador de futebol, o início da carreira na área técnica no Rio Grande do Sul, Grêmio, Corinthians, os planos com o Flamengo e seleção brasileira. Nada ficou sem resposta.
Você vê semelhanças deste Flamengo com Grêmio e Corinthians, que estavam na Série B?

Existe uma diferença básica, né? Os dois clubes anteriormente citados, Grêmio e Corinthians, estavam na Segunda Divisão. E o Flamengo está na Primeira Divisão. É mais difícil você se reconstruir estando na Primeira. Mas você tem a vantagem de estar fazendo a reconstrução num estágio antes. Então, o torcedor não está vivenciando aquele momento de desconfiança total, como era o caso do Grêmio e do Corinthians, porque, quando você cai pra uma Segunda Divisão, está tudo arrasado, nada presta. Tem que começar tudo praticamente do zero. Aqui no Flamengo, não. O torcedor do Flamengo, mesmo ainda não vendo uma equipe como ele gostaria de ver, ainda mais tendo o parâmetro que o torcedor do Flamengo tem, de grandes equipes vencedoras, vem demonstrando um apoio bastante grande e uma confiança nessa nova proposta que a diretoria atual trouxe. Então a gente está um estágio adiantado. Mas se reconstruir tendo que disputar jogos com as principais equipes do futebol brasileiro cria a dificuldade técnica de você poder oscilar um pouco ainda na competição.

á está acostumado a chegar em um grande clube, ele não num momento tão bom, e ter uma cobrança já muito forte?

A vida de técnico de futebol o ensina a conviver com cobranças sempre. O torcedor do Flamengo pode achar que a cobrança no Flamengo é maior. Mas, em qualquer clube, o torcedor enxerga ali, naqueles jogadores, os melhores jogadores. E a resposta você precisa dar. Proporcionalmente, no Flamengo ela é mais grandiosa porque se trata da maior torcida do Brasil, de um clube com a expressão que tem o Flamengo. Mas não é nada diferente daquilo que a nossa vida é no dia a dia. Cobrança o tempo inteiro, necessidade de respostas a curto prazo. Mas o torcedor pode ter a certeza de que a cobrança maior é interna. O técnico cobra muito do técnico. O jogador cobra muito do jogador. E ambos se cobram muito para que a gente consiga dar a resposta pra uma nação, como é o caso da nação rubro-negra.

Antes de aceitar assumir o Flamengo, você pensou bastante. No que pensava?

Nós temos um conhecimento de um modo geral do estágio que vive cada clube do Brasil. É o nosso trabalho. E a gente sabe que o futebol carioca nos últimos anos, em termos de estrutura, ficou devendo, está aquém dos principais centros do país. E existe muita variante em um trabalho. Mas uma das principais variantes é você poder oferecer aos profissionais que você contrata condição de fazer um bom trabalho. Então, eu não estava pensando. Estava conversando para cronologicamente estabelecer avanços de períodos em períodos para que a gente possa atender a essa necessidade que o Flamengo certamente vai nos cobrar.

Acha que essa diretoria está conseguindo mudar a estrutura do Flamengo?
Ela já está mudando. Na verdade, a estrutura física começou a ser construída já na administração anterior. O que me parece que é a grande diferença dessa diretoria é que ela está muito mais preocupada em, ao assumir compromissos, honrá-los. Porque existe no meio do futebol a conversa de bastidores, o boca a boca. E a imagem que você vai construindo dos clubes é exatamente aquela que os profissionais que passam por lá te reproduzem. E a imagem do Flamengo não era nada boa com os profissionais de futebol. E isso precisa ser mudado. E essa direção está muito preocupada em reconstruir a confiança que um clube do tamanho do Flamengo tem que ter.

Qual era a imagem?

De um clube que assumia compromissos e não os honrava. Aquela famosa frase lá de trás do Vampeta (“O Flamengo finge que me paga, e eu finjo que jogo”, dita em 2001) não foi uma invenção. Ela é dura, até foi usada de forma jocosa, mas retratava um momento e a realidade de um clube. Não é só no Flamengo que isso acontece, mas aqui acontecia com muita frequência. Você precisa ser responsável por aquilo que assume. Não pode assumir uma dívida de cem milhões se a sua receita é de cinquenta. Em algum momento isso vai estourar. Em algum momento essa conta vai vir. E a conta já chegou. Se não conseguir dar passos grandiosos ainda, você pode dar pequenos passos. Precisa continuar caminhando para frente. Na busca da melhora. Mas precisa dar passos firmes que ali na frente não tenha necessidade de se retroceder.

E quais foram esses pequenos passos que o Mano Menezes exigiu?

Eu gosto que se cumpra o que se promete. O combinado não custa caro. Essa é uma frase do dito popular que é simples e que você pode cumprir perfeitamente dentro do clube. Se não puder combinar, não combine. Mas, quando combinar, cumpra o que combinou. Esse é o momento que o Flamengo vive de reconstrução. Isso vai exigir num determinado momento que se contrate jogadores que nem são tão divulgados ainda, tão vencedores. Que não tenham ainda tanta confirmação de carreira. O risco é um pouco maior, mas certamente esses são os jogadores que vão fazer parte da maioria do plantel. E poder direcionar para alguns especificamente um investimento um pouco maior para que esses possam dar sustentação para os novos crescerem junto.

No Corinthians foi assim, não é? Você teve o Paulinho vindo do Bragantino, que hoje é seleção brasileira. O Ralf, que também não era um grande jogador e se tornou. O próprio Leandro Castán... Você fez um time forte com jogadores que ainda não eram conhecidos.

É, o futebol exige isso. De períodos em períodos você precisa oxigenar a folha de pagamento. E oxigenar a folha é o seguinte: você faz com que alguns jogadores mais renomados, que merecidamente já conseguiram salários mais altos, que sigam a sua vida, a sua carreira. E você traz novos jogadores que ainda têm toda essa trajetória para construir. Você não só cuida da parte financeira, como cuida do apetite do time. Você precisa ter vontade de ganhar. Quando você ganha muito, às vezes essa vontade diminui um pouco. Você já se realizou profissionalmente. Então, precisa procurar outros profissionais que venham com essa sede de vitória e mesclar com aqueles que você já tem. Antes desses jogadores citados, a gente construiu o primeiro Corinthians, que tinha o Elias, que veio da Ponte Preta, fomos buscar o André Santos no Figueirense, o Chicão no Figueirense. Eram clubes menores, mas com jogadores que tinham que vencer dessa forma.
Fomos buscar Herrera, que não era tão reconhecido, tinha uma passagem pelo Grêmio. Douglas, fomos buscar no São Caetano. É assim que funciona o futebol. Você precisa ter uma rede de observação muito boa. É lá que estão os jogadores que vão surgir para o futebol brasileiro. Eles estão nos clubes menores e ainda não têm um reconhecimento nacional. Alguns deles não vão conseguir virar. Você contrata quatro, cinco jogadores, e dois conseguem se firmar como um todo. Três talvez não. Mas o primeiro estágio é assim mesmo.

Deve ser essa a cara do Flamengo agora, de imediato?

Já está sendo. Essa é a maior dificuldade de o torcedor entender. Como ele se acostumou a ver jogadores renomados vestindo a camisa do seu clube, junto com jogadores feitos em casa, porque o Flamengo tem esse histórico na composição de sua equipes vencedoras, nesses ele reconhece uma possibilidade um pouco maior. Com os outros nós vamos ter que construir essa confiança. Pode ter certeza de que num curto espaço de tempo alguns deles vão começar a aparecer e conquistar o carinho do torcedor e lá na frente nós teremos um Flamengo forte sem dúvida nenhuma.

Quais as posições em que você mais precisa de um grande jogador hoje?
Isso é segredo de estado (risos). Não é bom adiantar, quando está procurando fechar negociações, que você quer um lateral ou um zagueiro ou um atacante. Porque isso inflaciona muito o mercado, chovem sugestões, e você não as encontra assim. Você precisa direcionar bem. O Flamengo não tem uma grande capacidade de investimento nesse momento. Todo mundo sabe. Se você torna isso público, entra numa concorrência com os outros clubes. Como eles estão numa condição melhor que a nossa momentaneamente, podemos perder essa concorrência. Então, isso é segredo de estado. Se contratarmos, devemos fazê-lo, nesse primeiro momento, numa quantidade pequena, mas certamente já com jogadores com um perfil mais reconhecido. Nós temos muitos jogadores jovens. E eles precisam dessa referência. E o torcedor também precisa dessa referência. E o adversário tem que enxergar no nosso time essa referência.

A maior queixa da torcida é a defesa. A defesa do Flamengo ultimamente era muito vulnerável. Foi a principal deficiência que você viu no time?

Existe uma diferença entre ser vulnerável e não ter qualidade. Defesa depende muito de posicionamento. Defender é uma arte, eu disse isso aos jogadores, que requer uma série de fundamentos. E um deles, o principal deles, é posicionamento. Uma defesa mal posicionada certamente vai ser vulnerável. Zagueiro não foi feito para correr atrás de atacante. Se o fizer, vai dar uma possibilidade muito grande de ser batido. Porque o atacante geralmente é alguém mais rápido, muito habilidoso. Os atacantes brasileiros são muito habilidosos. Se você expõe um zagueiro a ficar correndo atrás de um atacante, ele vai sofrer muito. Então, os meus zagueiros jogam posicionados. E, para eles jogarem posicionados, temos que ter um complemento disso, que é o posicionamento dos dois laterais e dos dois volantes. Principalmente dos dois laterais, num país onde a gente joga muito lateral batendo com outro lateral e aí fazendo o zagueiro fazer a cobertura para os lados. Principalmente coberturas longe do seu setor defensivo.

Quando você obriga o zagueiro a ficar fazendo isso, ele sofre muito. Ele é um atleta de 1 metro e oitenta e pouco, 1,90m, 1,95m. Não é feito para ficar correndo longas distâncias atrás de um atacante veloz. Você expõe ele a um desgaste físico muito grande. Sua recuperação nem sempre é a mesma. Sua velocidade nem sempre é a mesma. E logicamente ele vai ser batido mais vezes. Então, posicionando todo o sistema defensivo certamente todos os zagueiros vão crescer. Não tenha dúvida disso. O fato de querermos qualificar um setor ou não, não significa que a gente não veja no plantel qualidade para evoluir. É apenas uma questão de estágio. Você quer que isso aconteça mais rápido. Então, para ser mais rápido, você vai buscar um jogador e acrescenta qualidade ao setor.

Então o combinado com a diretoria foi esse? Se for para ter reforço agora, serão nomes de peso?
Vamos ver, vamos ver. Eu não sou o tipo de técnico que fica ligando a cada 30 minutos para o seu diretor executivo ou para o vice de futebol dizendo: temos que contratar, cadê o nome? Porque eu sei como isso funciona. Não é fácil fazer negociações. Precisa ter calma, encontrar o nome certo para direcionar essa negociação. Também não vou ficar dando entrevista dizendo: olha, com esse time não dá pra ir muito longe. Não acho que seja correto fazer isso. Temos que tratar essas coisas internamente. E acredito que dessa forma, com essa lealdade, com essa transparência, vamos ter mais respeito interno. E com mais respeito interno todo mundo sai ganhando.
Mas foi combinado?

Foi, foi combinado.

O que mais te surpreendeu positivamente e negativamente no Flamengo?

Positivamente, sem dúvida nenhuma, foi o torcedor rubro-negro. Mesmo no momento de dificuldade, a confiança que ele passou a ter no trabalho é muito grande. Onde a gente encontra um flamenguista ele passa muito isso para a gente. Tem passado para os jogadores também. No amistoso contra o São Paulo deu para sentir isso. A cada momento que a gente conseguiu reproduzir um pouco daquilo que ele quer ver em campo, a arquibancada já vinha junto. Imagina quando nós conseguirmos fazer realmente aquilo que a gente quer fazer? E negativamente a gente trata internamente. Tem tanta gente que fala mal do futebol, da gente, do clube que a gente está dirigindo... Não vamos nós falar abertamente.

Centro de treinamento: precisa melhorar?

Precisa acabar de ser construído. Porque foi iniciado, a obra está parada desde setembro do ano passado pelas informações que eu tenho, é uma preocupação da diretoria. E deve ser mesmo uma preocupação. Porque é ótimo ir para o trabalho todo dia e sentir um ambiente agradável, de qualidade, para fazer tudo o que você precisa fazer. E hoje a gente não tem isso ainda.

1110 visitas - Fonte: Globo Esporte


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