Juan prepara adeus e brinca com novo perfil de atleta: "Sou o estranho"

30/10/2018 14:05

Juan prepara adeus e brinca com novo perfil de atleta: "Sou o estranho"

Com 23 anos de profissional, zagueiro do Flamengo conta rotina de estudos e ainda espera chance de se despedir dos gramados:

Juan prepara adeus e brinca com novo perfil de atleta: Sou o estranho
Foto: Raphael Zarko

"Nós somos antigos, né". Elegante e discreto como de hábito, de poucas risadas, Juan Silveira dos Santos brincou com Tino Marcos, repórter da TV Globo, 16 anos mais velho, no meio da entrevista. Um pequeno retrato da longa carreira profissional, que começou aos 17 e vai terminar aos 40 onde deu os primeiros passos: no Flamengo, o clube do coração.



Maior zagueiro-artilheiro da história do Flamengo, ao lado de Junior Baiano, com 32 gols, Juan ainda tem vontade de fazer mais um. A aposentadoria ainda é tratada de maneira tímida. Com contrato até o fim do ano e, a depender da eleição de dezembro no clube, ainda há tratamento duro para ver em que condição daria seus últimos carrinhos, últimos cortes e tentaria se despedir.

São 330 jogos pelo Flamengo. E apenas cinco camisas envergadas em 23 anos de carreira: Flamengo, Bayer Leverkusen, Roma, Internacional e a da seleção brasileira, que defendeu em duas Copas do Mundo.



Hoje, ele divide o tempo de tratamento - iniciou trabalho na academia na última semana, mas ainda deve levar pelo menos longos quatro meses para se recuperar inteiramente - com estudos para se projetar numa nova carreira, a de coordenador técnico. Ele faz curso pela internet, na Universidade do Futebol, com duração de quatro meses em 10 módulos.


Confira a entrevista com o eterno camisa 4 do Flamengo

GloboEsporte: Foi a lesão que mais te preocupou na sua trajetória?

Juan:
Sem dúvida foi a lesão (do calcanhar de Aquiles) mais séria da minha carreira. No Internacional eu tive uma mais chata também. Mas essa é a mais complicada.

Qual sentimento que prevalece? Você não teve carreira marcada por lesões, mas logo no final da sua trajetória isso acontece.

Tento ver o lado positivo das coisas. O jogador de futebol dificilmente passa carreira toda ilesa, sem lesão. Eu praticamente estendi muito a minha carreira. Fui operar depois de 35 anos. Agradeço a Deus por ter me protegido a carreira toda. Houve momentos mais cruciais na carreira, que se tivesse me machucado não estaria hoje no Flamengo de novo. Então, eu vejo por esse lado.



Enxerga com naturalidade o fim?

É inevitável. Vai chegando ao fim a carreira e você começa a pensar no depois. Eu já vinha pensando, mesmo ainda bem, nesse momento. Todo mundo viu o quanto me emocionei na despedida do Julio Cesar. Até por que passa aquele filme na cabeça. Uma coisa que está próxima e não tem como evitar. Mas não decidi ainda como vai ser esse fim.

Como trabalha essa aposentadoria na cabeça?

É difícil, né. Olhava os companheiros e pensava, “está cansado, já conquistou muito, teve carreira brilhante”. É natural, normal. Quando realmente vive essa situação, por mais que tenha segurança no que vai fazer, claro que bate uma tristeza.

Por que futebol é paixão, a paixão de todo jogador de futebol. Realmente, para mim, seja melhor que qualquer coisa, pensando em profissão. Por mais que em outra profissão possa me realizar, meu sonho de criança sempre foi jogar futebol. Vivi 20 anos de sonho e vai ser difícil parar.
Sente-se realizado?


Acho que sim, tenho muito mais que eu sonhei um dia. Lembro de ir aos jogos com meu pai, que era apaixonado pelo Flamengo, e lembro que dizia se seria capaz de um dia jogar no Maracanã com a camisa do Flamengo. Joguei, joguei mais de 300 partidas, fui para a Seleção, joguei Copa do Mundo, pude brilhar na Europa. Isso me deixa realizado.

Talvez tenha faltado só o título mundial...

Depois que você vira profissional, você pensa com a cabeça de um profissional. Tem a exigência de ter alta performance e ganhar títulos. Com certeza sempre falta alguma coisa, mas tem que olhar tudo que conquistei. Futebol é uma profissão muito difícil.



Você sempre foi simples. Não tem tatuagem, brinco. Como você se enxerga no meio do futebol?

Sou bem tranquilo, sou um cara que procuro observar muito, falar menos. Todo mundo sabe disso. Tento que me colocar nos momentos que acho oportuno. E me colocar pensando muito no que vou dizer. Muito do respeito que tenho é pela postura que tenho dentro de campo. Não só pelos meus companheiros, mas com os adversários.

Nunca foi zagueiro violento. Tem poucas expulsões na carreira. São quantas?

Devo ter cinco ou seis, todas por dois cartões amarelos. Não acho que meu jeito é o certo de jogar futebol. Certo é para mim, para o meu jeito. Não separar o jogador da pessoa. Colocando como sou fora de campo, isso faz bem para o meu jogo.

Sempre tive jogo muito concentrado, de ficar atento em todos detalhes do jogo, esse meu jeito calmo faz bem para isso. Há jogadores que são mais explosivos e isso também faz para eles.



Juan Silveira dos Santos, mas sempre foi só Juan. Hoje é raro não ter nome composto, né?

Nós somos antigos, né, Tino (risos). Era outro futebol. Na Europa até é muito mais normal do que aqui no Brasil, combinação de nome sobrenome. Mas mesmo assim sempre fui só Juan.

Quantos Flamengos você acha que conheceu?

O Flamengo do meu tempo de torcedor era um Flamengo, comparada aos outros times do Brasil a nível de estrutura e financeiro, num tempo que não tinha muita coisa diferente, teve hegemonia, principalmente nos anos 1980. Quando virei profissional já existia certa distância, principalmente para os times de São Paulo, economicamente, de estrutura, os paulistas deram passo à frente. E acho que o Flamengo sofreu com isso. Agora, quando voltei, totalmente diferente, equiparado aos grandes do Brasil e do mundo também. Muito mais estável, mas falta conseguir os grandes títulos.



Qual gol mais marcante?

Se tivesse que escolher um escolheria o do Flamengo x Palmeiras do Brasileiro de 2001. O ano em que ganhamos o tricampeonato, a Copa dos Campeões, mas no Brasileiro fomos muito mal. Tínhamos risco de se rebaixado. Foi um jogo muito tenso, para torcedores e jogadores também, e pude fazer 1 a 0, um gol que guardo na lembrança.

Como se vê nessa nova etapa da carreira, desse convite que o Flamengo fez a você?

Antes da lesão conversei com o Noval. Eles colocaram para mim essa oportunidade de fiar mais no clube, de conhecer como funciona as coisas na divisão de base, viam um futuro para mim de coordenação técnica, de integração técnica da base para o profissional. Eu topei por que era uma coisa que me interessava. Eu via como cargo bom para mim após a minha carreira, mais ainda se fosse ligado ao Flamengo, que conheço bem. Já iria começar essa transição, ia antecipar um pouco esse estágio de conhecimento, mas tinha algum medo ainda de como as pessoas veriam isso. Por que eu estava bem, treinando e poderia repercutir mal.

Depois que me machuquei, com tempo livre, até demais (risos), a gente voltou a conversar e deixamos encaminhado que quando tivesse melhor para me locomover, iria voltar para conhecer tudo. Agradeço ao Flamengo por confiar em mim e abrir as portas mais uma vez para mim. E acho que conhecimento faz bem para todo mundo.



b>O perfil do jogador de futebol mudou muito? Hoje, todo mundo ligado no celular, nas redes sociais. De que maneira você, da velha guarda, percebe isso?

Às vezes, é inevitável, me pego comparando os tempos e trazendo algumas coisas do que passei para esse cenário atual. Mas às vezes também eu paro para pensar e vejo que eu que sou o estranho ali né (risos). Eles cresceram com essa mentalidade, com esse mundo, muitos jogadores já usam bem as redes sociais para benefício próprio. Às vezes a gente dá um toque ou outro se estiver exagerando, se estiver até se prejudicando, principalmente. Mas tenho que respeitar, é um modo que eles vivem. Futebol hoje pede isso. Não só no futebol, mas outros esportistas também. Os clubes usam bem isso também. Faz parte do novo mundo.

De que maneira você se enxerga numa nova função? O Renato, do Santos, está como diretor, o Paulo André, no Atlético-PR, também pode seguir o mesmo caminho...

Não parei para pensar quando vai ser. Não sei como vou retornar aos campos. Estou focado para recuperar bem e pensar no que vou fazer ainda como jogador. Acho que do ano que vem não vai passar, estou quase no limite, mas fico feliz de ver jogadores se atualizando, buscando conhecimento para trabalhar no futebol. Acho que o nosso futebol é muito carente disso. A gente perdeu acho que duas ou três gerações de grandes ídolos que não estão trabalhando nos clubes. Joguei na Itália, na Alemanha e pude ver quanto de riqueza esses ex-jogadores passam nos clubes.

Já se sente um quarentão (completa dia 1º de fevereiro)?

Não muito, por que, pelo fato de jogar ainda, de estar com a molecada, me sinto mais jovem, mas às vezes o corpo né... a gente descobre que tem certa idade.

Você é profissional desde os 17 anos, o que supõe sacrifícios para seguir a profissão que ama. Está pronto para pendurar as chuteiras num dia e entrar em outra profissão logo?

(Risos) Eu até conversei outro dia isso com o Noval. Falei para ele: “quando me despedir vocês pelo menos me deem um mês para viajar um pouquinho com a família, ficar mais tranquilo, para voltar na pegada”. Foram 20 anos como profissional, jogando em time grande, seleção grande, depois já emendar nova função também num clube grande, preciso pelo menos de um mês para acalmar os ânimos (risos).

Você se enxerga mais como disciplinador, vai impor cartilha? Que tipo de perfil pode agregar de quem trabalhou também com outra cultura, como na Europa?

Acho que meu estilo vai ser de conversa. Conversa sempre é melhor. Na Europa não é muito diferente, por mais que as pessoas no Brasil acham que lá é muito mais severo... Não, o clube e o jogador hoje sabem que o jogador tem que ter postura de jogador do Flamengo. O que vou passar é um pouco da minha vida dentro do futebol, do meu exemplo.

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602 visitas - Fonte: Globo Esporte


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Comentários do Facebook -




Leandro Zarrete     

ESSE sim jogou por amor a camisa do Mengão PARABÉNS JUAN obgd por tudo.

Ewerthon Lima     

Serás eternizado ídolo!

Moises Nunes     

O melhor zaqueiro da historia do fla .. obrigado mito

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