A entrevista est? no O GLOBO de domingo, 11 de agosto. Siglas: EBM - Eduardo Bandeira de Melo, presidente. Wallim ? o vice-presidente do Flamengo e Bap ? o vice-presidente de marketing. Tostes ? o vice-presidente de finan?as.

Ao planejar 2014, voc?s temem estar na S?rie B?

Wallim: De jeito nenhum. N?o passa pela cabe?a.

O plano inicial era ser mais forte no Brasileiro, n?o?

Wallim: O elenco n?o ? uma sele??o, mas pode estar entre os dez. A situa??o financeira melhorou, mas ao assumirmos n?o sab?amos que dev?amos R$ 750 milh?es, que tinha Timemania vencida... Mas o time foi refor?ado. Tem Elias, Mano Menezes, Andr? Santos, Chic?o, Marcelo Moreno, Gabriel e Carlos Eduardo, que ainda n?o performou, mas que, quando trouxemos, tinha v?rios times disputando a tapa. A gente acredita nele.

V?rios deles s?o emprestados. Se o clube n?o puder compr?-los, o time ter? que ser refeito em 2014?

Wallim: Esse risco sempre h?. Vamos trabalhar para manter quem rendeu bem. Para o Elias, vamos montar uma opera??o eventualmente com a torcida.

Por que uma tradi??o foi rompida e o banco de reservas passou para o lado direito do Maracan?? Foi para pressionar bandeirinha?

EBM: Sou contra. Um monte de gente reclamou. Talvez Mano n?o soubesse da tradi??o.

Wallim: Pode ser revisto. Mas se o Mano quiser ficar do lado direito...

Para ter a Certid?o Negativa de D?bito(CND), gastou-se R$ 40 milh?es e se gasta R$ 7 milh?es mensais. Isto engessou o futebol...

Tostes: O Flamengo precisava renegociar a d?vida para se livrar de penhoras, da imprevisibilidade. A CND representou legitimidade no nosso trabalho, trouxe redu??o de juros, liberou penhoras. O patroc?nio da Caixa n?o cobre o gasto com a CND. Mas eu seria executado numa penhora de R$ 130 milh?es. O Flamengo ia quebrar. Eu posso te garantir, em seis meses o Flamengo estaria falido. Qualquer dinheiro que entrasse seria penhorado. S? para sentar e conversar com a Procuradoria da Fazenda Nacional, t?nhamos que pagar R$ 40 milh?es. E isto nos dava o benef?cio da CND.

Wallim: Ninho do Urubu, todos os ativos iriam ? penhora.

E j? houve impacto?

Tostes: Da d?vida de R$ 750 milh?es, a auditoria mostrava que deveriam ser provisionados R$ 730 milh?es. Hoje, este n?mero ? R$ 654 milh?es. J? matamos quase R$ 80 milh?es.

EBM: E h? argumentos ?ticos e morais para pagar impostos. Temos 40 milh?es de torcedores. Devemos dar exemplo.

O Flamengo tem identidade popular. N?o temem perd?-la com ingressos caros?

Bap: N?o vai perder. O que leva o torcedor a se envolver com o clube ? a vontade de v?-lo ganhar. Para ser grande, o Flamengo precisa arrecadar. Com o tempo, com o clube melhorando, teremos time melhor, ingressos mais baratos. No Rio, de cada quatro pessoas, uma entra de gra?a, duas pagam meia, sendo uma sem direito. ? perverso. Contra o Botafogo, ficamos com R$ 1,08 milh?o e o Cons?rcio com R$ 1,2 milh?o. Em Bras?lia, de cada R$ 2, ficamos com R$ 1. E o valor m?dio do ingresso ? R$ 65 em Bras?lia e R$ 59 no Rio. Em Bras?lia sobra mais para o Flamengo, ? onde o clube ganha mais dinheiro.

Ao p?r 53 mil pessoas em Bras?lia, contra o Coritiba, o Fla levou R$ 1,6 milh?o. Com 38 mil no Maracan?, contra o Botafogo, ficou com R$ 1,25 milh?o. N?o ? pouca diferen?a para mudar o clube de lugar?

Bap: Para a situa??o atual do Flamengo, desculpe: faz muita diferen?a. Sou carioca, acho que o Flamengo deve jogar no Maracan?. Mas temos obriga??o de fazer o Flamengo grande. O valor que os profissionais ganham ter? que ser arrecadado. A precifica??o ? mais complexa do que o romantismo. A atratividade do jogo ? mais relevante que o valor do ingresso para trazer p?blico.

Ao resolver problemas imediatos, n?o se estar? descaracterizando o clube popular, o clube do Maracan??

Bap: Em absoluto. Ent?o, o Barcelona deveria ser s? amado em Barcelona.

Mas ele n?o se mudou de Barcelona para isso...

Bap: No longo prazo, vamos duplicar a torcida. Vamos construir um Flamengo muito mais forte. O Flamengo ? l?der de torcida em 23 estados.

Se for preciso, o Flamengo continuar? itinerante?

Bap: Jogar em lugares diferentes tem uma limita??o f?sica, log?stica. Este ? um ano de exce??o.

N?o h? compromisso com a identidade, com um extrato da sociedade que sempre foi a cara do clube? N?o deveria haver uma cota para eles?

Bap: O Flamengo ? grande em todas as camadas sociais. A TV cumpre um papel complementar, leva a todas estas pessoas o Flamengo. O est?dio n?o tem lugar para 40 milh?es. Quando voc? fala de cotas eu me arrepio. De cada quatro pessoas no Maracan?, tr?s entram de gra?a ou pagam meia. N?o sei que cota mais podemos colocar. O compromisso maior ? com a vit?ria. ? o que o torcedor quer. Se o Flamengo fosse um saco de pancadas jogando a R$ 1 no Maracan?, o ingresso seria popular e ningu?m iria ver. Se for grande e ganhador, vai atingir cora??es e almas da torcida.

Mesmo que se chegue no Maracan? e n?o se reconhe?a o Flamengo, o p?blico tradicional do Flamengo?

Bap: Isso n?o vai acontecer.

Tostes: O est?dio mudou. O cons?rcio tem custos maiores do que no passado. Isto tem que ser passado para algum lugar. E n?o foi op??o do Flamengo.

Uma cota de 5 mil ingressos populares destr?i o projeto financeiro do clube?

Bap: O Flamengo vai viver dos pobres, jogar um futebol pobre e ser um time pobre, porque o neg?cio futebol mudou. Atl?tico-MG x Olimpia deu R$ 14 milh?es. Voc? acha que a torcida do Atl?tico-MG ? s? classe A?

Ent?o para o assalariado, mais pobre, que n?o falsifica carteira de estudante, ? ponto final do est?dio?

Bap: Pode virar s?cio-torcedor e pagar R$ 25.

S? se ele tiver carteira de estudante e pagar mais R$ 39,90 por m?s.

Bap: Mas eu n?o pago Mano Menezes, Marcelo Moreno ou Messi com gratuidade. Isso sai da arrecada??o do Flamengo. A quest?o ?: o clube pode vender ingresso mais barato? O Cons?rcio vai dar alguma coisa de gra?a? Vai dar cota de ingresso barato?

Isso n?o impedir? a cria??o de torcedores nas classes baixas? Neymar e Messi jogam de gra?a na TV...

Bap: No est?dio s? cabem 50 ou 60 mil, n?o 40 milh?es. A garotada torce para o time que ? grande, vencedor. Se o Bonsucesso jogasse de gra?a no Maracan?, o menino pobre n?o iria querer ver. A fase que o Flamengo mais cresceu, em todas as classes, foi na gera??o do Zico. Porque era vencedor.

Wallim: Antigamente n?o tinha custo de est?dio, jogadores ganhavam menos. Hoje tudo est? em outro patamar. Em determinado jogo, de menor apelo, pode abrir atr?s do gol para R$ 10.

O Corinthians tem setor de ingressos mais baratos.

Wallim: S?o Paulo tem gratuidade? Gratuidade e meia entrada nos impedem de subsidiar ingresso popular.

Tostes: E joga num est?dio p?blico. Quanto paga para jogar no Pacaembu?

EBM: Se um patrocinador bancar a arquibancada popular e distribuir este ingresso, num jogo de grande apelo, quem vai chegar l? de madrugada para comprar? Vai ser o assalariado ou o cambista? Aquele pessoal sem camisa, que aparecia no Maracan?, hoje n?o tem dinheiro nem para pegar o ?nibus.

Bap: Quando o s?cio-torcedor crescer e der previsibilidade de receita, o pre?o do ingresso ficar? menos relevante. Nosso projeto n?o ? elitista. Come?a com pre?os mais caros, mas nada obriga que fiquem altos sempre.