Seleção, Flamengo, coronavírus e Honda: Zico fala sobre tudo com exclusividade ao LANCE! (Foto: Tadeu Rocha)
O atacante Bruno Henrique imortalizou os dizeres que definem muito bem os últimos meses do Rubro-Negro carioca: o Flamengo está em outro patamar. Sob o comando de Jorge Jesus, o Mais Querido conquistou o Brasileirão, a Libertadores, a Supercopa do Brasil, a Taça Guanabara e, por fim, a Recopa Sulamericana. Tudo isso em menos de um ano.
Mas não é a primeira vez que um time do Flamengo vence tudo que vê pela frente. Como diz a música entoada pela torcida, em dezembro de 1981, botou os ingleses na roda. O time mágico que encantou o Brasil e o mundo coroou o maior ídolo da história da Gávea: Arthur Antunes Coimbra. Nada mais, nada menos que Zico.
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De férias no Brasil, o Galinho de Quintino concedeu uma entrevista exclusiva ao LANCE! para falar sobre muitos assuntos. Ao falar do Flamengo de 2020, que está quebrando recordes do time de 1981, Zico afirmou que, como torcedor do clube, fica feliz da vida com o momento do clube.
- Eles não podem contar recordes de coisas que a gente não disputava, né? Bota aí que não tínhamos Recopa, Copa do Brasil, Supercopa. Não tinha nada disso na época. Mas se tivesse eu acho que a gente ganharia (risos). Mas eu fico feliz da vida com esse momento do clube. Sempre digo que o maior patrimônio do Flamengo é a torcida. E eu me incluo entre eles. Eu quero mais é que eles sigam neste momento e que eu possa ver o torcedor feliz -, afirmou.
Coronavírus
As férias no Brasil não foram opcionais. Diretor de futebol do Kashima Antlers, Zico voltou ao Brasil por conta do surto da doença Coronavírus, que vem aterrorizando o mundo e tornou o Japão um dos locais mais prejudicados por conta do vírus, forçando a interrupção do campeonato japonês.
O ex-jogador explicou como está sendo a rotina do Japão e como a sociedade japonesa está lidando com a tensão da rápida propagação do vírus, afirmando que o país já tomava precauções rotineiras por questões de hábito muito antes do surto.
- Lá no Japão todas as medidas preventivas que precisam ser tomadas em relação a esse vírus foram realizadas. Eles já faziam isso antes mesmo da epidemia. Claro que a situação atual demanda maior cuidado. Hoje você observa mais pessoas de máscaras nas lojas, em hotéis, álcool para desinfetar. Mas isso é usual lá, uma questão cultural.
Mesmo que seja uma simples gripe, as pessoas lá já seguem estes passos. Ainda assim, reuniram as entidades que decidiram cancelar eventos com grandes aglomerações. Cancelaram tudo. O campeonato japonês está parado. Há uma expectativa que o campeonato só volte em abril. Os adversários não querem jogar no Japão na Data Fifa. As pessoas precisam entender a gravidade da situação -, confessou.
Seleção Brasileira
Zico também aproveitou para analisar o atual momento da Seleção Brasileira e do criticado treinador Tite, que não vem agradando muitos torcedores pelas atuações abaixo da média que a equipe vem tendo. Zico afirmou que o momento é complicado e citou que o problema parece ser de espírito por parte dos jogadores.
- É um momento complicado. Não pela forma de jogar ou pelos jogadores. Pela maneira que percebi o espírito da Seleção. Parecia que os caras estavam lá para cumprir compromisso e não que estavam defendendo o Brasil, a camisa da Seleção Brasileira. Eu sempre encarei qualquer tipo de jogo com essa camisa com uma vontade, uma gana, uma alegria de poder estar representando o país. Eu senti a ausência disso, essa falta de vibração, desse espírito. Está faltando um pouco mais de audácia, um algo a mais, um futebol diferente. Acredito que ele precisa mudar mais o sistema. Acredito que o usado atualmente não cabe mais na Seleção -, disse.
Análise do trabalho de Tite
O ex-jogador e treinador mostrou suporte ao treinador Tite e analisou o bom início do comandante na Seleção Brasileira, mas apontou que pela perda de Renato Augusto, o sistema até então implementado parou de funcionar.
- Eu sempre fui favorável ao Tite pelo currículo vencedor dele. Campeão da Libertadores, Mundial, um trabalho consolidado no Corinthians, ajustado. Quando ele chegou na Seleção, aquele sistema foi bem. Mas ele tinha os jogadores adequados naquele momento. Quando ele perdeu o Renato Augusto, acabou o sistema. Na própria Copa do Mundo. Acho que ele não conseguiu encontrar um substituto para aquela função. Na prática, as mudanças acabaram sacrificando o Gabriel Jesus, que precisava voltar para a recomposição -, analisou.
Convocações
Todavia, Zico criticou algumas escolhas de Tite em questão das convocações que tem feito e escolhas táticas, afirmando que o treinador utiliza alguns jogadores fora de posição e isso compromete seus rendimentos, relembrando até uma história do ex-lateral-direito Leandro e do ex-treinador Telê Santana.
- A única coisa que eu bato em relação à Seleção é a questão da utilização de alguns jogadores fora de posição. Um exemplo é o Neymar. Ele passa o ano todo jogando aberto ... quando chega na Seleção ele vai jogar pelo meio? O próprio Daniel Alves. Por mais que ele tenha jogado anos pela lateral-direita, agora ele atua como meia. Esta situação me lembra um pouco o Leandro com o Telê. Na época, o Telê queria que ele atuasse como lateral, mas o cara já estava jogando como zagueiro e não aguentava mais fazer a função de lateral. Ele sabia que não conseguiria fazer o que o técnico queria -, contou.
Outra crítica do 'Galinho de Quintino' foi pelo critério de convocação. Segundo ele, os jogadores tinham que ser chamados para vestir a Amarelinha por conta de seus momentos em seus clubes, e não pelo nome que construíram ao longo de suas carreiras.
- O meu pensamento é que o jogador vai para a Seleção pelo o que ele está jogando no clube. Então se ele estava jogando no clube de uma forma e chega na Seleção devido a essa forma, por que na Seleção ele atua em outra posição? Por exemplo, não adianta você levar oito jogadores do Flamengo e colocá-los em uma posição na qual eles não jogam na temporada. Para mim Seleção Brasileira é o momento. Você vai pegar um cara que está mal, na reserva de um clube, só porque ele tem nome? -, criticou.
Keisuke Honda no Botafogo
O camisa 10 do Flamengo analisou a chegada do meia Keisuke Honda ao Botafogo e contou uma história curiosa sobre o atleta. Zico revelou que, quando comandava a Seleção Japonesa, pediu recomendações ao treinador Nelsinho Baptista, comandante do Nagoya Grampus, sobre possíveis jogadores para a equipe nacional. O compatriota comentou sobre um jogador de 17 anos que tinha futuro, mas precisava passar por algumas etapas. Este era Honda.
- O Honda foi um caso muito interessante. Na época em que eu estava na seleção nacional tinham muitos treinadores brasileiros comandando os times japoneses. Eu sempre ia acompanhar os jogos e conversava com eles para saber mais informações sobre os jogadores. Então eu fui até o Nagoya, na época comandado pelo Nelsinho (Baptista), para saber se tinha alguém que poderia ser opção no Japão. Ele disse que não tinha no momento, mas que estava lançando um garoto aos poucos, que era Honda, na época com 17 anos, porém que ainda precisava passar por algumas etapas -, afirmou.
Zico também conta que o seu caminho quase cruzou com o de Honda na Rússia. Quando comandava o CSKA Moscou, o presidente do clube chegou a lhe consultar sobre a contratação do meia japonês, que realmente jogou pelo clube, mas somente quando o brasileiro já não estava mais por lá. Ele elogiou Honda e afirmou que irá torcer pelo sucesso do atleta com a camisa do Botafogo.
- Em seguida ele foi para a Holanda e eu segui para o CSKA. No meio da temporada o presidente do clube veio falar sobre o Honda, se eu teria interesse em trazê-lo. Eu falei para trazer o quanto antes, que era um ótimo jogador e o qual já conhecia. Um mês depois o presidente me demitiu e acabou contratando o Honda um pouco depois da minha saída. Ele acabou fazendo história na Rússia e depois seguiu para o Milan. É um tremendo jogador, mas que precisa de ritmo, precisa jogar. Irei torcer muito para que ele tenha sucesso. Sempre se mostrou um bom profissional, assim como a maioria dos japoneses -, finalizou.
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