Jordan, lateral-esquerdo do Flamengo entre 1952 e 1963 — Foto: Agência O Globo
O Flamengo tem um Jordan para chamar de seu. A pronúncia é diferente da de Michael Jordan, estrela do basquete americano que voltou a ser tema graças ao documentário "Arremesso Final", da Netflix, mas a história entre Jordan ("Jordã") e o Flamengo também é digna de telas maiores.
Jordan da Costa nasceu no Rio de Janeiro em 24 de novembro de 1932. Cria da Mangueira, começou a carreira no São Cristóvão, mas logo se destacou a ponto de chamar a atenção dos maiores clubes da cidade. Não hesitou ao aceitar o convite do Flamengo em 1952.
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Foram 11 anos no Flamengo, com direito a 609 partidas - e nenhuma expulsão -, que fizeram do lateral-esquerdo o quarto maior jogador da história a defender mais vezes o clube. Jordan liderou a lista por muito tempo, até chegar uma certa geração dourada da década de 1980 para suplantá-lo - Junior, Zico e Adílio o ultrapassariam.
O melhor marcador de Garrincha
Mas o legado de Jordan não fica nisso: ser lateral-esquerdo no Rio de Janeiro nos anos 1950 não era a melhor tarefa do mundo. Implicava, por exemplo, em ter de marcar um certo Mané Garrincha, no auge de seus poderes. Pois Jordan foi o melhor a desempenhar a missão, segundo o próprio Anjo das Pernas Tortas.
- Porque não bate. Jordan vai na bola. Adivinha o que eu vou fazer e por isso é difícil de ultrapassar - disse Garrincha, em depoimento reproduzido em sua biografia, "Estrela Solitária", de Ruy Castro.
- Aquilo me dava forças para chegar duro nele. Quando ele começava a fazer aquelas papagaiadas, eu estava sempre junto. Mas ele era legal comigo. Ele não me dava pontapé, nem eu nele - declarou Jordan ao filme "Simplesmente passarinho", sobre Garrincha.
O respeito mútuo deu início também a uma amizade fora de campo. Na biografia de Garrincha, há o relato de que Jordan se impressionou com a forma como o craque botafoguense bebia. Outra história famosa é de uma aposta entre os dois.
Jordan e Garrincha eram clientes assíduos de uma esfirraria no Centro do Rio de Janeiro, a Padaria Bassil. Antes da final do Carioca de 1962, apostaram que o vencedor pintaria com as cores de seu clube os ladrilhos que ornavam o local. Deu Botafogo, 3 a 0, e a loja virou alvinegra.
O famoso trio do Flamengo
Jordan também tinha companheiros leais no Flamengo. Nos anos 1950, ele formou um trio famoso com Jadir, zagueiro, e Dequinha, volante. Num dos grandes times da história rubro-negra, eles foram campeões cariocas em 1955, completando o segundo tricampeonato do Flamengo - do qual Jordan participou como integralmente como titular.
O curioso é que o trio era chamado de linha média do Flamengo, mas jogavam em posições que não compunham realmente uma linha em campo. A expressão entrou para a história porque os jornais da época ainda escalavam os times no esquema 2-3-5, embora ele não fosse mais utilizado na prática.
Apesar do sucesso no Flamengo, Jordan teve pouco espaço na seleção brasileira. Ele chegou a ser convocado para um torneio amistoso contra o Paraguai em 1955, mas não chegou a entrar em campo.
Jordan defendeu o Flamengo até 1963, quando encerrou a carreira, poucos meses antes de completar 31 anos. Ao todo, conquistou três Campeonatos Cariocas (1953, 1954 e 1955) e um Torneio Rio São-Paulo (1961) pelo clube.
Jordan morreu em fevereiro de 2012, aos 79 anos, vítima de complicações decorrentes da diabetes.
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O maior marcador de Garrincha e um dos maiores da história do Flamengo.