Foram muitas as desconfianças dos torcedores em relação ao Flamengo e as perspectivas para 2020 depois da saída do ex-técnico Jorge Jesus para o Benfica-POR. Também, né? Não havia como ser diferente, o mengão em em 51 jogos, JJ teve 38 vitórias, nove empates e apenas quatro derrotas. Neste período, o treinador de 65 anos levantou cinco troféus: do Campeonato Brasileiro e da Libertadores (2019), Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Taça Guanabara (2020).

E então o adeus tão doloroso trouxe ao torcedor o gosto amargo da derrota e da dúvida. O imbatível começou a ceder e sofreu por um bom tempo até se reencontrar. Relembrando cada passo desde a saída de JJ, é possível dizer que o Flamengo finalmente voltou a ser considerado uma boa aposta?

Relembrando a trajetória
Domènec Torrent chegou ao time carioca e tinha um desafio pela frente muito maior do que qualquer treinador em outro time, ele tinha que superar uma lacuna de um multicampeão, criar um padrão no time, lidar com a torcida e se adequar ao ambiente e aos campeonatos o mais depressa possível. Tudo isso, sem perder o rendimento do time.

Em sua chegada, Domènec disse "esqueçam aquele time, ele nunca mais vai voltar". Sábias palavras, era preciso mudar a expectativa do torcedor e prepará-lo para a realidade que viria. O treinador enfatizou que o Flamengo precisava de tempo para passar pelo seu período de luto após Jorge Jesus, precisava de tempo para se redescobrir, para entender e ser entendido, para se transformar.

O treinador passou por todas as fases possíveis com o time. Errou escalação, mexeu, errou, acertou, mexeu e aos poucos o Flamengo foi voltando a ter uma cara, a ter uma identidade em campo.

Se a goleada levada contra o Independiente Del Valle - e devolvida com sucesso - foi um marco negativo, talvez um mau necessário para a transformação, podemos dizer também que a goleada em cima do Corinthians é outro marco, mas desta vez de superação. Foram disputados 27 pontos em todas as competições da surra levada pelo mengão até aqui e o chacoalhão foi tão imenso que o elenco conquistou 23 e não perdeu nenhum jogo desde então. Será que foi toque do mestre? Foram nove formações diferentes e algumas atuações bem boas de se ver, vencer e convencer.

Domènec teve a paciência e a coragem de testar e criar um rodízio de formatos de jogos - se engana quem diz que ele pegou um time pronto - e jogadores. Neste 5 x 1 contra o Corinthians, pelo campeonato brasileiro no último domingo, se formos comparar ao time titular da Era Jorge Jesus, apenas 4 jogadores (Filipe Luís, Gerson, Bruno Henrique e Éverton Ribeiro) estavam em campo, o restante e toda estratégia de jogo e padrão ofensivo são méritos íntegros do atual comandante que soube estudar o time, avaliar o preparo, as condições e as características individuais de cada jogador para montar um novo Flamengo.

Talvez daremos ainda mais crédito ao momento do mais querido carioca se lembrarmos que Domènec enfrentou dois gigantes que JJ não enfrentou ano passado: o psicológico abatido do elenco e a inédita paralisação do futebol para uma pandemia - que gera condições físicas e emocionais desfavoráveis e difíceis de reverter. São situações que lidam com o fator humano que, não existe manual de instruções para lidar de maneira correta: é tentativa, tempo, erro e acerto.

Agora veja o momento do Flamengo que está empatado com o Internacional na liderança do campeonato, atrás em saldo de gols e o enfrentará em confronto de 6 pontos na casa dos gaúchos no próximo domingo. Mas antes disso, segura o coração e prepara, ainda tem a Libertadores na próxima quarta feira, o mengão recebe o Junior Barranquilla no Maracanã.

Mais embalado do que nunca neste novo comando... já podemos dizer que o Flamengo se reencontrou?