Dorival Júnior viu de perto o drama do Náutico e não se segurou mais uma vez, criticando duramente a CBF pelo calendário ao qual submete os clubes brasileiros. Mesmo sem ter feito excursão ou pedido adiamento de jogo, o Timbu é o time que mais vem sofrendo com o acúmulo de partidas.

Pressionado pela necessidade de reagir no Brasileiro, o lanterna jogou sábado, terça e quinta. Perdeu todos – o último, para o Vasco de Dorival – e vai acabar a maratona amanhã, contra o Corinthians.

– Não perdemos só por isso, mas tem sido uma carga desumana. Estive no vestiário depois do jogo contra o Vasco, e os jogadores estavam esgotados. Mas não foi só o Náutico. O São Paulo veio aqui na terça e na quinta perdeu para o Criciúma, coisa que não é normal – afirmou Toninho Monteiro, vice de futebol do Timbu, que ainda emendou:

– A CBF precisa fazer um planejamento melhor. Todos perdem: clubes, jogadores e a própria CBF, que tem um produto pior. O futebol está virando um Apartheid. Há uma segregação econômica e técnica. Com a parte física, temos a chance de igualar as coisas, mas até isso nos estão tirando.

Na reclamação feita na quinta-feira, Dorival clamou por uma união dos clubes, coisa que parece difícil de acontecer. Luis Cesar Souto de Moura, vice de futebol do Internacional, um dos clubes que vão sofrer com os jogos seguidos – o duelo contra o Santos foi adiado devido à viagem do Alvinegro a Barcelona – deu seu parecer sobre a situação:

– Existe um divórcio entre quem comanda o futebol e quem executa, que são os clubes. Mas ninguém se une para tentar mudar isso. Os clubes não conseguem nem fazer um churrasco juntos.

Enquanto os dirigentes batem cabeça desde o fim do Clube dos 13, apesar de concordarem que o calendário atual não funciona, a CBF responsabiliza os clubes pela embolação no Brasileirão, que não para nem em data Fifa. Ano que vem, com a Copa do Mundo, vai ser pior.

RISCO DE LESÃO AUMENTA

A maratona de jogos no Brasileiro imposta pela CBF com as remarcações de jogos aumenta consideravelmente os riscos de lesões musculares nos jogadores.

– Uma sequência como esta, que ainda tem viagens, prejudica o próprio jogo. Em uma incidência de partidas grande, o risco de lesões é tenebroso – avalia o fisiologista Turíbio Leite.

Para minimizar os efeitos nos atletas, a recomendação do profissional é que se faça revezamento no time, uso de suplementos nutricionais e repouso.


COM A PALAVRA
Luis Cesar Souto de Moura
Diretor de futebol do Inter

"CBF toma medidas sem ligar para os clubes"

A situação do futebol brasileiro é parecida com o que acontece no Congresso. Há uma separação entre Legislativo e Executivo. A CBF toma medidas arbitrárias sem nem ligar para os clubes. A CBF, como política, agrada às federações e mantém os Estaduais grandes. Seria bom que a TV Globo, vendo que o produto está perdendo qualidade, participasse da discussão.

Ramon Ramos

Presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais de Pernambuco
"De nada adiantaria pedir liminar"

O Náutico nos procurou, semana passada, para ver o que podia ser feito para evitar essa atrocidade contra os jogadores. Porém, segundo nosso jurídico recomendou, de nada adiantaria pedir liminar porque o regulamento prevê situação excepcional. Assisti ao jogo de quinta, e era visível o cansaço dos jogadores, uma coisa terrível. Quem aguenta uma maratona dessas?