O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, está em seu segundo mandato no clube Paula Reis/Flamengo/Divulgação

Com eleição prevista apenas para o fim de 2024, o Flamengo vive dias de tensão política mesmo a quase dois anos da disputa eleitoral. A gestão do presidente Rodolfo Landim, que está no seu segundo mandato, se notabilizou por conquistas dentro de campo desde 2019, mas recentemente ficou marcada também pela tentativa de tirar adversários do caminho. A ideia é emplacar um sucessor e estar à frente de iniciativas fora das quatro linhas através do mesmo grupo. Sem um nome de consenso e diante da possibilidade de racha, a campanha começou.



As discussões para a implementação de uma SAF no rubro-negro, os debates com outros clubes sobre uma futura Liga, as negociações para manutenção do Maracanã e a possibilidade de construção de um estádio próprio são algumas da motivações que levam Landim a tentar seguir à frente da presidência. Como já foi reeleito, uma emenda ao estatuto que alteraria o tempo de mandato de três para quatro anos, com efeito imediato, beneficiaria o mandatário, que ficaria até o fim de 2025.


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A revelação das conversas entre grupos de apoio da atual gestão para levar adiante essa ideia foi o estopim para que a polêmica aumentasse nos últimos dias, o que fez Landim recuar, embora não descarte a permanência no cargo.

O cenário aponta para uma tentativa de composição entre situação e oposição, uma vez que ainda não há uma terceira via fortalecida. Como hoje Rodolfo Landim não poderia disputar o pleito novamente, o vice-presidente Rodrigo Dunshee seria o candidato natural. Ele espera a oportunidade desde a última eleição, já que Landim venceu com o discurso de que era contra a recondução do presidente ao cargo.

Dissidência

Dunshee também é o vice-presidente jurídico do Flamengo e liderou o Conselho Deliberativo na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, contribuindo para o desgaste do então presidente com questionamentos sobre o futebol no fim de sua gestão. Hoje, seu discurso é de que está à disposição de Landim e do grupo para a eventual sucessão, mantendo-se fiel ao presidente até que as candidaturas se tornem concretas. Seu principal adversário e motivo do racha em curso é Luiz Eduardo Baptista, o Bap, presidente do Conselho de Administração.

Bap faz campanha aberta e, desde que Landim foi reeleito, indicou dissidência e a vontade de ser presidente do Flamengo. Esta semana, deixou isso mais uma vez claro ao se opor a uma possível extensão de mandato até o fim de 2025. A reação o afasta ainda mais do atual mandatário, de quem já não é tão próximo desde que decidiu sair do Conselho do Futebol. Hoje, essas duas alas disputam o apoio de grupos aliados, a maioria contrária a qualquer mudança no aumento do período na presidência.

O problema é que Bap precisa superar uma forte resistência interna de conselheiros e sócios. Por isso já articula com caciques da política. Landim faz o mesmo, atraindo até o ex-presidente Márcio Braga.

Na segunda-feira passada, o Conselho Deliberativo puniu por 120 dias Marco Aurélio Assef, da oposição, por postar fotos do presidente do Conselho, Antônio Alcides, em um bar. Alcides é quem pode ajudar a passar a emenda de ampliação do mandato, pois preside também a Comissão de Estatuto. Alinhado a Bap quando ocupou o cargo, não se posicionou sobre o tema.

Ex-presidente de volta

Outra emenda estudada prevê a inelegibilidade de pessoas que ocupem cargos públicos, o que envolveria diretamente o ex-presidente eduardo Bandeira de Mello, que volta à cena política no Flamengo.

Atual deputado pelo PSB-RJ, Bandeira já vem sofrendo perseguição no clube por parte da atual direção. Ele foi punido em agosto do ano passado por declaração sobre o incêndio do Ninho do Urubu, em que citou, em entrevista concedida em 2020, que a tragédia de fevereiro de 2019 dificilmente aconteceria em sua gestão. Posteriormente, acabou absolvido, mas hoje diz que não tem intenção de voltar à presidência, e sim apoiar um nome que priorize o profissionalismo e a boa governança.

Organograma da política do Flamengo — Foto: Editoria de Arte

Rodolfo Landim

Estuda a aprovação de uma emenda ao estatuto do clube que ampliaria o seu mandato por mais um ano (até o fim de 2025, com quatro anos à frente da presidência). Grupos de apoio discutem essa possibilidade, mas resistem ao efeito imediato

Rodrigo Dunshee

Tem a promessa de suceder Rodolfo Landim. Aguarda o apoio do presidente para que ele seja visto como o candidato da situação e avalia os movimentos de possíveis adversários também ligados ao atual mandatário

Luiz Eduardo Baptista (Bap)

Tem a pretensão de ser presidente depois de romper com Landim em relação ao futebol. Ainda segue como membro da situação, mas já deixou claro a insatisfação com a possibilidade de extensão de mandato de três para quatro anos.

Antônio Alcides

É quem acata ou não as emendas, já que também preside a Comissão de Estatuto. Foi apoiado por Bap e Landim quando assumiu o cargo e tem sido um aliado para a punição de alguns opositores.



Marco Aurelio Assef

Punido pelo Conselho Deliberativo por divulgar mensagens e fotos de Antônio Alcides em um bar, está inelegível para a próxima eleição. Tem o apoio do ex-presidente Kleber Leite, outro dirigente que recentemente enfrentou processos disciplinares no clube, que pode ser peça importante no apoio a uma terceira via.