Felipe Teresa era um exímio caçador de caranguejos quando criança. Mas, se costumam dizer que o animal anda para trás, o atacante fez o oposto e foi em frente contra o Olympiacos para marcar o gol do título mundial do Flamengo no sub-20 neste sábado, no Maracanã. A primeira vez do jovem no estádio mais famoso do mundo o colocou na história do clube, porém no dia em que ganhou os maiores holofotes na vida as origens não foram esquecidas. A infância na cidade paranaense de Guaraqueçaba, localizada a 173 quilômetros da capital, Curitiba, foi marcada por dificuldades financeiras, mas também de muitos sorrisos na companhia do tio Eliezer, com quem ia para o mangue catar caranguejo. A vida do atacante de 18 anos e 1,82m de altura mudou radicalmente, e vislumbrar um gol de título mundial seria utopia nos tempos de criança. Quanto mais no Maracanã... - Nunca imaginei estar aqui, mas, graças a Deus, deu tudo certo. É seguir por mais coisas que estão por vir. Catar caranguejo sempre foi ao lado do meu tio, desde criança. É uma história muito linda, poucos sabem. Passei por dificuldades. O hobby que permitia ao garoto se deliciar com uma de suas comidas preferidas também rendia alguns trocados, mas ele assegura que a finalidade principal da caça de caranguejos sempre foi encher a barriga e se divertir ao lado do Tio Eliezer. - Não pegava para vender, pegava para comer. Às vezes vendia, mas era mais para comer com meu tio. Sempre quando ia pescar, ele ia comigo de madrugada e sempre me chamava. Em qualquer horário. Final de ano é época, e a gente aproveita para comer. Eu sempre como.

Se o Maracanã era algo inimaginável para o paranaense de Guaraqueçaba quando pequeno, o gol do Mundial não saía da cabeça dele antes mesmo de empurrar a bola para a rede dos gregos e decretar a virada por 2 a 1 aos 47 minutos da etapa final. - Vim mentalizando isso. Falei até com o Barone (Caio, goleiro) no banco de reservas que eu ia decidir, falei que ia fazer o gol do título. Graças a Deus deu tudo certo. Achei até que não ia sair no fim do jogo, estava um pouco desanimado com a possibilidade dos pênaltis. Mas falei em buscar o gol. O gol já tem um homenageado especial, mas ainda não tem nome. Felipe será papai em breve e aguarda por uma grande notícia neste domingo.

Antes da glória eterna no Maracanã, passou por dificuldades na infância. Para se firmar no futebol, tinha que deixar Guaraqueçaba diariamente de barca para treinar em um projeto social chamado Leões do Futuro, em Paranaguá, cidade vizinha. O deslocamento, sempre em companhia da mãe, lhe tomava cerca de 40 minutos. Com a ajuda de Márcio Queiroz, um dos responsáveis pelo Leões do Futuro e a quem declara eterna gratidão, Felipe Teresa mudou-se com a mãe para Paranaguá, onde moravam num acanhado kitnet. A troca de cidade o fez se estabelecer no futebol do interior do Paraná, mas ele ainda não conseguia dar um passo maior. Fora recusado por vários grandes clubes até receber a oportunidade da vida no Independente de Limeira, em 2021, quando disputou o Campeonato Paulista Sub-15.