Na próxima sábado, a cidade de Lima se tornará o foco das atenções, recebendo a grande final da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo. O Brasil já teve a experiência de conquistar a América em solo peruano, revivendo a histórica vitória do Flamengo em 2019, marcada pelo brilhantismo de Gabigol. No entanto, a capital peruana havia sido palco de outra atuação memorável, décadas antes, de um brasileiro que superou desafios significativos para se destacar no futebol local: José Eduardo Esídio, o Edu, um ídolo do Universitário.

Natural de Santa Rita de Passa Quatro, no interior de São Paulo, Esídio não teve um começo de carreira promissor no Brasil, passando por clubes de menor expressão, como Juventus-SP, União São João e Botafogo-SP. Sua trajetória começou a mudar em 1997, quando se transferiu para o modesto Alcides Vigo, em Lima, onde chamou a atenção do Universitário ao marcar seis gols, mesmo durante uma difícil campanha que resultou no rebaixamento do time.

A virada na vida de Esídio, no entanto, não viria apenas através do futebol. Antes de iniciar a temporada de 1998 com o Universitário, ele recebeu um diagnóstico devastador: testou positivo para o vírus HIV. A princípio, essa notícia trouxe à tona o preconceito e a discriminação, levando o clube a rescindir seu contrato antes mesmo de sua estreia. O impacto foi profundo, gerando desespero em sua família e obrigando Edu a retornar ao Brasil.

Após se submeter a uma série de avaliações, ele esclareceu que era portador assintomático do HIV, o que não deveria impedi-lo de jogar. A luta não terminou aí; Esídio processou o Universitário, uma vez que uma lei de 1996 proibia a demissão de pessoas diagnosticadas com HIV. Embora recuperado e readmitido pelo clube, Ele enfrentou o estigma persistente, com adversários mostrando resistência em jogar contra ele por medo do contágio.

Em campo, no entanto, sua entrega e performance falavam mais alto. Em sua estreia, ele marcou um gol e gradualmente convenceu tanto torcida quanto diretoria de suas habilidades. Nos anos seguintes, Esídio se tornaria um dos maiores artilheiros do futebol peruano, conquistando o tricampeonato nacional e se destacando como um dos top goleadores da liga. Sua trajetória culminou em 2000, quando anotou 37 gols, ficando apenas atrás do brasileiro Jardel, que fez 38 pelo Porto.

A história de Edu transcende números e prêmios. Ele não apenas desafiou os preconceitos da época, mas também conquistou um lugar no coração do povo peruano, que reconheceu sua dedicação e fé. Após uma carreira abruptamente marcada por desafios, ele foi homenageado pelo Universitário em 2023 e participou das celebrações do centenário do clube, relembrando seu primeiro gol no Estádio Monumental durante a inauguração do local.

A trajetória de José Eduardo Esídio é um testemunho de superação e resiliência, refletindo como o amor pelo futebol pode ajudar a superar adversidades, transformando desafios pessoais em conquistas memoráveis nos gramados.