Aprendiz de Luxa, Deivid deixa fase atleta para trás e usa erro como trunfo

16/2/2015 07:37

Aprendiz de Luxa, Deivid deixa fase atleta para trás e usa erro como trunfo

Auxiliar de Vanderlei no Flamengo, ex-atacante diz que não sente saudade de jogar, relembra carreira e garante que aprendeu muito com o gol perdido contra o Vasco

Aprendiz de Luxa, Deivid deixa fase atleta para trás e usa erro como trunfo
Deivid no treino do Flamengo: sem saudade de jogar (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

A grande maioria dos atletas tem dificuldade para lidar com a aposentadoria. O sentimento normalmente é de vazio, de perda, que muitas vezes os fazem voltar à ativa. Nessa área, Deivid é exceção à regra. O ex-atacante, que teve uma carreira de sucesso nos campos de futebol, pendurou as chuteiras no começo do ano passado. Após alguns estágios em diferentes clubes, ele ganhou seu primeiro desafio na missão de virar treinador: ser auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo no Flamengo. Deivid tem contato com a bola todos os dias e vive a rotina do elenco rubro-negro, mas a saudade de jogar, segundo o próprio, não existe.

- Não, porque já me acostumei. Sou um cara bem decidido, bem certo do que quero. Quando decidi parar de jogar futebol, parei mesmo, entrei num curso, fui estudar. Não sinto falta, acho que curti e aproveitei ao máximo como jogador. Agradeço à bola por tudo. Ela me deu uma família, uma condição financeira muito boa. Curti muito enquanto estive ali dentro - disse o ex-jogador de 35 anos, em entrevista ao GloboEsporte.com.

A grande inspiração do futuro técnico Deivid é Luxemburgo, por quem foi comandado no Santos, Corinthians, Cruzeiro e Flamengo. O hoje auxiliar diz ter aprendido muito com Luxa, a quem considera um pai. Antes de receber o convite dele para fazer parte de sua comissão técnica, o ex-jogador estudou. Fez o curso Business Futebol Clube (BFC), marcou presença em diversas palestras e teve estágios de 15 dias com Alexandre Gallo na seleção brasileira sub-20, com Geninho no Avaí, com Abel Braga no Internacional e com Carlos Amadeu no Vitória.

Como atleta, foram 16 anos de uma trajetória bem-sucedida. Muitos títulos, gols, artilharias. O momento mais importante para Deivid, por exemplo, foi a conquista da Copa do Brasil de 2002, pelo campeão Corinthians, quando balançou a rede 13 vezes e bateu o recorde de gols da competição até então. Mas um lance na parte final de sua carreira marcou o ex-atacante de forma negativa. Ele perdeu um gol inacreditável, sem goleiro e a apenas 3 metros da linha, na semifinal da Taça Guanabara de 2012 entre Flamengo e Vasco. Para piorar, o Rubro-Negro foi derrotado pelo rival por 2 a 1 e acabou eliminado. O lance gerou repercussão mundial na época e até hoje é lembrado. Mesmo assim, não é algo que o incomode. Deivid tirou grande lição disso, trunfo que transmite aos jogadores na função de auxiliar, e garante que não se sente injustiçado.

- Acho que perde quem está ali. Foi um pouquinho de falta de atenção, de achar que já tinha feito o gol. Aquilo me ensinou muito como pessoa, pai, atleta. Me ensinou tudo, porque às vezes a soberba deixa o homem meio... Me ensinou que você tem que estar pronto e preparado do primeiro minuto até o final, não achar que pode ficar ali relaxado e tal.

Ao lado de Luxemburgo, Deivid está bem animado com o ano que o Flamengo tem pela frente. O ex-atacante acredita que o time atual tem condição até de "marcar época" no clube. Esse e os demais assuntos da entrevista podem ser vistos a seguir, separados por tópicos:

Fase pós-aposentadoria:

- Eu já vinha planejando virar treinador quando parasse de jogar futebol. Começar como auxiliar, ter um período de experiência com o Vanderlei, que é um cara que sempre admirei e sempre foi minha referência. Desde que eu jogava na Turquia já tinha esse plano de virar treinador quando me aposentasse. Acho que deu tudo certo. Gostei muito da experiência. Era o que eu imaginava. Joguei cinco anos lá fora e já sabia como eram os treinos lá, a forma como pensam. O Vanderlei e o Felipe Ximenes (que comandava o futebol do Fla na época) me convidaram para vir para cá. Eles me deram essa oportunidade, abriram a porta para mim. Estou muito feliz com esse trabalho, aprendendo a cada dia. Já aprendi muito com o Vanderlei como atleta no Corinthians, no Santos, no Cruzeiro e aqui no Flamengo. Agora estou aprendendo como auxiliar. Está sendo uma experiência muito gostosa. Estou aproveitando cada minuto. Espero que, quando estiver pronto para assumir alguma equipe e ele der o sinal para isso, eu possa botar tudo o que estou aprendendo em prática.


Deivid foi comandado por Luxemburgo também no Flamengo (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)

Previsão para transição auxiliar-treinador:

- Isso vai da minha sensibilidade de achar que está na hora, ou o Vanderlei me dar um toque. Ele está me deixando bem à vontade, me dando toques e me dando liberdade. Não tenho previsão. Estou deixando as coisas acontecerem naturalmente, fazendo tipo uma faculdade. Estou aprendendo e botando para os jogadores tudo o que aprendi. Essa troca de informação está sendo muito boa.

Modelo Luxemburgo:

- É que nem cristal: você tenta fazer igual, mas não consegue. Ele tem a identidade e o estilo dele, venceu dessa forma, tem mais de 40 títulos, e isso não é para qualquer um. Mas espero chegar perto dele, aprendendo no dia a dia. Cada um tem sua maneira de comandar e seu perfil. Ele sempre me inspirou, sempre colocou na minha cabeça aquela coisa de ser vencedor, de entrar para ganhar. Como o Vanderlei fala, não nasci para perder, nasci para ser vencedor. Acho que isso já está no sangue, isso tenho parecido com ele. Não sei perder, gosto de ganhar e levantar títulos. A gente ganhou título onde esteve junto. Espero que essa parceria como auxiliar dele, trabalhando junto de novo, possa dar mais títulos.

Trato de Luxa com os jogadores é espelho:

- A forma como ele trata o jogador me inspira, a forma como ele cobra e consegue incentivar. Isso é muito importante. Por a gente ter sido jogador de futebol, acho que isso ajuda muito, por falar a língua do jogador. Sem mentira, falando a verdade, sendo coerente, você vai ganhando credibilidade, respeito. Tem que fazer o máximo na transparência para que os jogadores possam acreditar no que estamos falando e passando.

"Pai" Vanderlei Luxemburgo:

- Ele me levou para o Corinthians, depois para o Cruzeiro, e chegamos juntos ao Santos. É uma confiança que ele tem, parceria. Ele sabe que sempre fui profissional, sempre tratei o meu trabalho como uma empresa. Acho que nós nos identificamos por isso. Tenho um carinho enorme por ele como amigo e como pai. Eu fui criado sem pai. O Vanderlei me dava aqueles toques até pessoais, onde investir, como aplicar dinheiro, o que fazer. Jogador de futebol costuma ter carreira até os 35 anos, mas tem mais 30 anos para viver. Isso é muito legal, pois ele me ensinou muito como pessoa e atleta. Demos frutos, já que conseguimos ganhar em todos os clubes onde estivemos juntos. Que essa parceria possa permanecer por muito tempo e que eu possa ganhar agora como auxiliar.

Avaliação do Flamengo de 2015:

- Estou muito empolgado com esse elenco que estamos montando. Estamos com uma linha de frente muito rápida e técnica, todos os times de hoje querem ter isso. Acho que esse time tem tudo para chegar e marcar época dentro do Flamengo.

Sem saudade de jogar:

- Não tenho saudade, porque já me acostumei. Sou um cara bem decidido, bem certo do que quero. Quando decidi parar de jogar futebol, parei mesmo, entrei num curso, fui estudar. Não sinto falta, acho que curti e aproveitei ao máximo como jogador. Agradeço à bola por tudo que me deu. Me deu uma família, uma condição financeira muito boa. Curti muito enquanto estive ali dentro. Tive mais vitórias do que derrotas. Mas isso tem um fim, não vai ser eterno, e me preparei para esse fim. Não sofri, como muitos sofrem. Eu estava ciente do que queria.


Ex-atacante bate papo com GloboEsporte.com após treino do Flamengo no Ninho do Urubu (Foto: Ivan Raupp)

Fim da carreira de atleta no Coritiba:

- Tive uma lesão no joelho esquerdo e não estava conseguindo mais jogar da forma como jogava. E eu me cobro muito. Sempre joguei para ganhar. Ganhei muitos títulos. E quando você para de ganhar, fica sentindo aquela coisa. Quando ganha, chega o fim do ano e você vê que a sua meta foi atingida, tira o peso. Para o jogador de futebol isso é muito importante. Não é só ganhar dinheiro. Isso você ganha naturalmente, mas a conquista é doída e muito gratificante. Quando você está numa equipe que não tem pretensões de ganhar, você não tem espírito vencedor, acaba desanimando. Mas não pode pegar aquele espírito, porque entra numa zona de conforto. Vi que aquilo não era para mim e achei melhor me aposentar para estudar, fazer curso e tentar voltar a ter aquele friozinho na barriga de final, que eu tinha perdido.

Proposta do Botafogo antes de se aposentar:

- Foi uma semana antes de eu parar. O Botafogo veio atrás de mim na época, mas não entramos em acordo. Eles defenderam o deles e eu defendi o meu. Cogitei jogar mais um ano porque estava do lado da minha família, nasci no Rio de Janeiro. Mas, como não teve acordo, decidi parar. Cara, foi a melhor coisa que fiz. Acho que acertei de primeira, foi muito bom.

Momento mais importante da carreira:

- Teve a tríplice coroa, né? Pelo Cruzeiro em 2003. Mas o mais importante mesmo foi a Copa do Brasil de 2002 pelo Corinthians, onde bati recorde. Fiz 13 gols, o Washington tinha feito 12 (pela Ponte Preta em 2001). Depois o Fred quebrou o meu recorde (em 2005), fazendo 15.

Nota da redação: O Corinthians foi campeão da Copa do Brasil em 2002 derrotando o Brasiliense na final. Os paulistas venceram o primeiro jogo por 2 a 1, com dois gols de Deivid. A segunda partida terminou empatada por 1 a 1, com Deivid marcando o gol do título após o time adversário abrir o placar.

Gol mais importante:

- Foi um que fiz nas quartas de final do Brasileiro, no Mineirão com 100 mil pessoas. Foi 6 a 2, fiz quatro gols, e o primeiro foi o mais bonito, um chute de longe. Pelo clima que estava no estádio, quebraram nosso ônibus na chegada... Acho que aquele foi o jogo mais importante, e o gol também.

Nota da redação: O Corinthians goleou o Atlético-MG por 6 a 2 no primeiro jogo das quartas de final do Campeonato Brasileiro de 2002, com quatro gols de Deivid. O time seguiu até a final da competição, onde perdeu para o Santos.

Gol mais bonito:

- Foi contra o Inter de Milão, pela Liga dos Campeões, de voleio. Esse foi o gol mais bonito.
Nota da redação: O gol de voleio de Deivid garantiu a vitória do Fenerbahçe por 1 a 0 sobre o Inter de Milão, pela primeira rodada do Grupo G da Liga dos Campeões de 2007.

Sentimento de ser lembrado por gol perdido contra o Vasco:

- Não me sinto injustiçado, de maneira alguma. Isso não me frustra em nada e não apaga minha carreira. Fiz bastante gol, ganhei dois títulos brasileiros, fui vice em outro. Acho que perde quem está ali. Foi um pouquinho de falta de atenção, de achar que já tinha feito o gol. Aquilo me ensinou muito como pessoa, pai, atleta. Me ensinou tudo, porque às vezes a soberba deixa o homem meio... Me ensinou que você tem que estar pronto e preparado do primeiro minuto até o final, não achar que pode ficar ali relaxado e tal. Foi muito importante para mim - encerrou o ex-atacante e auxiliar do Flamengo.

964 visitas - Fonte: Globoesporte.com


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