Cara fechada e mente aberta: Bressan se firma no Fla sem esquecer o futuro

10/4/2015 07:43

Cara fechada e mente aberta: Bressan se firma no Fla sem esquecer o futuro

Chamado de "o zagueiro que não sorri", rubro-negro ganha confiança de Luxa, divide com Wallace hábito da leitura e mantém fidelidade aos estudos por pais e namorada

Cara fechada e mente aberta: Bressan se firma no Fla sem esquecer o futuro
Sério em campo e estudioso fora dele, Bressan forma com Wallace a melhor defesa do Carioca (Foto: ANDRÉ DURÃO)

Bressan não quer ser só mais um rosto bonito no futebol. Longe disso, na verdade. Quer ser visto como aqueles zagueiros bem feios, que metem medo nos atacantes. A genética não colaborou para o perfil de brucutu. O cabelo loiro e os olhos azuis apontam para outra direção. No Sul, ganhou até fã clube feminino. A solução? Fechar a cara. Mas fechar mesmo, ao ponto de Vanderlei Luxemburgo já tê-lo definido algumas vezes como "defensor macho, que nem sorri". A tática parece ter dado certo. Com três meses de Flamengo, aproveitou a brecha dada pela lesão de Samir para se firmar, chegar à seleção olímpica, e formar, ao lado de Wallace, a melhor defesa do Carioca (nove gols sofridos, assim como o Botafogo). Uma parceria eficiente e cult.

Assim como o companheiro de zaga, Bressan e afeito à leitura. A biblioteca do gaúcho de 22 anos, no entanto, é bem mais modesta. Se Wallace passeia por temas mais complexos, como filosofia e política, o jovem é fascinado por biografias. A do ex-tenista Andre Agassi é a preferida, com as de Guga e Casagrande na fila. A avidez por conhecimento vai além. Filho de um economista e uma advogada, e namorado de uma estudante de psicologia formada em comércio internacional, o camisa 3 do Flamengo não quer ficar para trás dentro de casa. O futebol o fez trancar a faculdade de administração no terceiro período, mas ele abastece a mente com lições de inglês:

- Meus pais sempre bateram na tecla do estudo. Minha namorada também me "enche o saco", fala para ir atrás do inglês, estar sempre estudando. Ficamos tanto tempo em concentração sem fazer nada. Podemos estudar, ler um livro, fazer algo que acrescente. Pensar o futebol é importante, mas tirar o tempo para algo diferente também (...) Gosto de histórias reais de vida, que podem acrescentar para minha carreira também. No futebol, sofremos uma pressão muito grande e esse tipo de coisa pode nos ajudar.

A vastidão de informação se transforma em simplicidade dentro de campo. O zagueiro que não sorri também não tem melindre se precisar dar chutão ou uma chegada mais dura. Cria do futebol gaúcho, foi assim que conquistou Luxa em 2013, logo em sua estreia pelo Grêmio, na pré-Libertadores, diante da LDU. Tanto que o treinador fez questão de trazê-lo de Porto Alegre para Gávea. O contrato é de empréstimo de um ano, mas Bressan já quer mais. Quer ficar na cidade olímpica e ter motivos para sorrir. Até lá, só abre uma exceção:

- Ah, um gol, né? Aí, a gente tira um pouquinho essa cara séria, feia. Com um gol, tudo muda, mas logo no lance seguinte é cara fechada de novo para chegar no atacante se precisar (risos).
De cara fechada, Bressan estará em campo domingo, às 16h (de Brasília), para enfrentar o Vasco, pela semifinal do Carioca. Com a vantagem do empate nos dois jogos, o Flamengo conta com a seriedade de sua dupla de zaga bem informada para repetir 2014 e seguir na luta pelo bi.

Confira abaixo a íntegra da coletiva de Bressan:

São só três meses de Flamengo e você já se firmou como titular, chegou à seleção olímpica e tem o respaldo do Vanderlei. Qual análise que você faz desse início no clube? É tudo muito diferente do que imaginava no Sul?
- Fiquei muito feliz logo que cheguei. O Flamengo tem uma força muito grande lá no Sul e em todo Brasil. Sabia que a responsabilidade era muito grande. O Grêmio tem muita força lá, mas eu sabia que no Flamengo isso ia aumentar muito. Pelo Vanderlei ter me indicado, facilitou bastante, mas o principal foi o ambiente que encontrei. É um grupo com confiança, que me acolheu muito bem e conseguiu resgatar o espírito do clube na reta final do Brasileiro. Está sendo muito bom. Infelizmente, a oportunidade surgiu por uma lesão do Samir. São coisas que acontecem no futebol. Estava esperando o meu momento. O Wallace me ajudou muito, o PV... São caras experientes e me fizeram entender como o time vinha jogando. Consegui me enquadrar no perfil da equipe e crescer junto. Vem coisa boa esse ano.

Você chegou em uma zaga que tinha um jogador que hoje é capitão e o outro que tem muito prestígio com a torcida. Diante desse cenário, tudo aconteceu muito mais rápido que imaginava?
- Foi um pouco mais rápido do que planejava. Sabia que o Wallace tem muita moral com a torcida, o respeito dos jogadores. É um cara com a voz muito ativa no grupo. O Samir eu também acompanhava da seleção olímpica. Sabia que ia ser uma grande disputa, mas no Grêmio já era assim, com jogadores mais experientes, mais rodados, e conseguia jogar. É uma coisa normal do futebol. Não é porque estou jogando que vai acabar. Logo o Samir está de volta, o Marcelo está demonstrando o trabalho. Vim para o Rio muito focado. Sabia dos atrativos fora do campo e procurei me concentrar nas quatro linhas, até porque estou morando sozinho. Meus pais e minha namorada me ajudam a me ambientar. Tudo isso me deu confiança.

Que tipo de conselhos você ouviu para evitar no Rio?
- A gente que é do meio do futebol sabe que o Rio é diferente. Joguei com jogadores que passaram por aqui e sabia que tinha que estar focado. Mas sou tranquilo, namoro há quatro anos e minha família me deu uma estrutura para ter consciência. Como tenho 22 anos, sabia que esse ano podia ser diferente em uma vitrine como o Flamengo. Ter a cabeça no lugar é 50% do caminho, o resto é treinar, trabalhar para crescer. Assim, as coisas acontecem naturalmente.

A convocação para Seleção é fruto dessa vitrine que você vê no Flamengo? Era uma coisa muito distante no Sul?
- Sempre tive o sonho. Em 2013, quando comecei a jogar no Grêmio, já tinha começado esse processo da seleção olímpica e queria que o (Alexandre) Gallo me desse uma oportunidade. Aqui, não era uma coisa que estava pensando tanto. Ainda não penso muito. Meu foco principal é render pelo Flamengo, crescer. Isso é algo que naturalmente vai me levar de voltar para seleção. Mas fico feliz. Joguei o clássico com o Vasco domingo, meu pai estava aqui, e na segunda de noite recebi a notícia. Futebol é dinâmico demais, temos que estar preparados. Saber que a Seleção é algo que muito bom, que acrescenta, mas não é tudo. É o Flamengo que vai me dar isso. É no Flamengo que tenho que correr e me dedicar.

Você citou a importância da família na sua formação. Quais são suas origens? Você vem de uma realidade diferente de boa parte dos jogadores...
- Não fui criado em berço de ouro. Meus pais me tiveram muito cedo: meu pai tinha 23 e minha mãe de 21 para 22. Mas eles estudavam e trabalhavam, não posso reclamar nem um pouco. Comecei no Juventude de Caxias do Sul por uma paixão do meu pai e peguei gosto pelo futebol. Foi em cima de um sonho que ele não conseguiu realizar e botou em mim, criamos isso juntos. Vi guris na base que sofriam muito, vinham de famílias humildes, e eu levava direto lá em casa para dormir, jogar um vídeo game, almoçar... Meu pai sempre fez muita questão disso. Agradeço por isso. A grande maioria no futebol não teve condição de estudar, ter coisas de crianças normais, e eu consegui. Agradeço a educação que meus pais me deram. Foi uma estrutura familiar puramente por luta dos meus pais, que não nasceram em famílias ricas.

Vem dessa história de vida deles essa sua preocupação em não abandonar os estudos, pensar no futuro?

Bressan de fisionomia série: zagueiro é conhecido por praticamente não sorrir em campo (Foto: ANDRÉ DURÃO)

- Meus pais sempre bateram na tecla do estudo. Quando era mais jovem, cheguei a ficar uns três, quatro meses sem jogar. Não queria mais. Depois, quando era para treinar em dois turnos, minha mãe queria que eu só estudasse, não podia largar a escola. Meu pai chegou e falou que se no futuro eu não fosse jogador, ela teria que se explicar. Minha namorada também me "enche o saco", fala para ir atrás do inglês, estar sempre estudando. Ficamos tanto tempo em concentração sem fazer nada. Podemos estudar, ler um livro, fazer algo que acrescente. Pensar o futebol é importante, mas tirar o tempo para algo diferente também.

E de que maneira você alimenta isso e corresponde a "cobrança" dos pais e da namorada?
- Hoje, a internet nos ajuda muito, facilita na busca por informação. Gosto muito de ler. Aqui no Rio, estou procurando um lugar para estudar inglês. Meu pensamento é já estar falando fluente no fim do ano que vem. Morando sozinho é algo totalmente viável aprender uma língua, que é muito importante. Principalmente para o futebol, onde não sabemos o que vai acontecer.

Você tem ao seu lado um cara que é exemplo neste sentido de leitura, que gosta muito. O que você lê? Pede conselhos ao Wallace?
- Ele já falou algumas vezes de livros que leu e eu também. É legal essa parte dele. Costumo ler mais biografias. Li do Paulo André, que é zagueiro e gostei para caramba. Do Agassi, do Guga... Gosto de histórias reais de vida, que podem acrescentar para minha carreira também. No futebol, sofremos uma pressão muito grande e esse tipo de coisa pode nos ajudar.

E a faculdade? Você pensa em continuar o curso de administração mesmo?
- Penso, penso. A carreira do futebol é muito curta, né? Acho que tenho que me entregar totalmente, viver isso por esses 15 anos que tenho pela frente. Penso em fazer direito. Tenho tempo para decidir, mas fazer algo que possa ligar ao futebol acho que é bem bacana, até de empresário. Dá para investir mais para frente.

Falando um pouco de futebol, você tem uma postura muito séria em campo, muito sisudo. O Vanderlei já comentou até que você nem sorri. É uma coisa proposital para impor respeito?

Bressan marcou um gol pelo Fla: no empate com o Madureira (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

- Sou de família italiana, acho que o italiano tem isso de ser mais sério. Desde criança, sempre fui assim. Sou uma pessoa bem tranquila, até certo ponto tímida fora de campo. Mas em campo procuro viver aquilo ali. É meu ganha pão, o que escolhi para vida, e me entrego de corpo e alma quando estou jogando. Acabo até me transformando, brigando. Às vezes, depois do jogo minha mãe e minha namorada me ligam perguntando por que briguei, mas são coisas que fazem parte do futebol. O zagueiro é cobrado por cada erro, que fica muito grande. Não adianta acertar dez e errar a última. Não é como o atacante, que pode errar dez, fazer o gol e se consagrar. Essa seriedade é da profissão e eu levo desde pequeno.

A questão de fugir do estereótipo da maioria dos jogadores, por ser loiro, olho azul, também influencia? É uma maneira de se proteger de qualquer tipo de provocação?
- Não é algo que me preocupe. Sei que pode até surgir um preconceito, mas é normal de acontecer. Não sou assim por causa disso. Sou assim porque sou assim desde pequeno. Mas sei que transparecer a seriedade é importante também. O mundo que vivemos é de muita responsabilidade e não temos tempo para brincadeira, só nas horas vagas.

Depois de ficar fora na partida com o Nova Iguaçu, você tem pela frente o Vasco na semifinal do Carioca. O Fla tem a vantagem e avança se não levar gols. O que esperar desse terceiro clássico do ano?
- É um jogo difícil, complicado, um clássico. Agora, realmente é uma decisão. A nossa responsabilidade é muito grande. O que aconteceu no clássico passado já foi. O Vasco cresceu de lá para cá, nós também temos alternativas. É clichê, mas clássico é decidido em detalhe, uma desatenção de um dos times. Temos que respeitar muito o Vasco, mas saber que temos forças para nos impor. É preciso esquecer essa vantagem, jogar o jogo. Claro que se não tomarmos gol estaremos classificados, mas isso começa desde lá da frente. Todo mundo ajudando.

São apenas três meses, mas já deu para ter certeza que é aqui que você quer ficar a partir do ano que vem?
- Estou muito feliz e adaptado. Jogar no Maracanã com a torcida do Flamengo é diferente, é uma coisa que só sentindo na pele dentro do campo para saber. Tenho esse objetivo (de ficar). Primeiro, tenho que me firmar, fazer bons jogos, agregar no grupo. O Flamengo querer ficar comigo, ou não, é uma coisa que quem vai dar a resposta sou eu em campo. Tenho pensamento de continuar, vamos ver.

Para finalizar, o que é capaz de fazer o Bressan sorrir em campo?
- Ah, um gol, né? Aí, a gente tira um pouquinho essa cara séria, feia. Com um gol, tudo muda, mas logo no lance seguinte é cara fechada de novo para chegar no atacante se precisar (risos).


Bressan em raro momento de descontração: sorrisos, só para comemorar os gols do Fla (Foto: ANDRÉ DURÃO)

2199 visitas - Fonte: Globoesporte.com


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