A palavra planejamento no nosso futebol só existe nos discursos vazios de nossos dirigentes e de alguns profissionais. A possibilidade de um trabalho longo de um treinador não resiste a três resultados negativos consecutivos. Para treinadores e jogadores qualquer plano de carreira não resiste a uma proposta feita em dólares.

Clubes não param de gastar dinheiro com treinadores que não resistem mais de 90 dias no cargo. Torram dinheiro com o salário do técnico - e também com auxiliares indicados por ele -, com contratações pedidas, tomam prejuízos dispensando jogadores que chegaram com o comandante anterior e ainda precisam pagar vultuosas multas quando dispensam a comissão técnica que resolveria todos os problemas. Não são poucos os casos de clubes que pagam salários de alguns técnicos simultaneamente.

Já jogadores e técnicos não pensam duas vezes em esquecer qualquer jura de amor feita ao clube quando recebem uma proposta financeira vantajosa. Pensando no curto prazo e no dinheiro, nem questionam em qual lugar irão trabalhar e nem pensam em suas carreiras no futuro. Se eles fizessem uma pequena reflexão perceberiam que determinada transferência seria um grande erro - apesar da vantagem financeira imediata.

Assim, a cada janela de transferência, temos vários profissionais indo para o exterior em aventuras que só prejudicam suas carreiras. Até a decantada vantagem financeira desaparece, pois muitos, para voltar ao Brasil, abrem mão de parte dos salários que deveriam receber.

Virou rotina acompanharmos atletas, que quando saíram do país com certo prestígio, voltarem para jogarem em clubes inferiores aos que atuavam antes da aventura no exterior.

Não sou ingênuo e sei que o profissional de futebol precisa ganhar dinheiro, mas existe alguns locais que profissionais do futebol só devem trabalhar quando estão no final de carreira, mas o que citei acontece com profissionais de todas as idades.

Quantas revelações desaparecem em países do Leste Europeu, ou mercados como China, Japão e o chamado Mundo Árabe? Quantos jogadores tiveram suas carreiras prejudicadas por atuarem em países cujo o futebol é quase amador e na volta ao Brasil perdem espaço porque não têm mais as mínimas condições atléticas para jogarem profissionalmente?

Acho que a atual situação do Cruzeiro, com a volta de Mano Menezes 230 dias após a sua saída de treinador do clube, ilustra bem o que escrevi até aqui.

No período, o clube só acumulou vexames. Ao apostar no inexperiente Deivid para o cargo de treinador, o time foi eliminado na Primeira Liga e não ganhou o Campeonato Mineiro. Agora demite o português Paulo Bento, precisando pagar uma salgada multa, além de gastar uma boa soma em dinheiro para trazer reforços para uma equipe que não consegue se afastar da zona do rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

Já Mano Menezes, depois de um bom trabalho no Cruzeiro, foi seduzido pela excelente quantia que iria receber para treinar o Shandong Luneng (China). Sua passagem no Oriente foi curta - com péssimos resultados - e o treinador acabou passando pelo vexame de ter sido demitido em um centro de terceira categoria do futebol mundial.

O treinador ganhou dinheiro, mas com sua passagem ruim pelo futebol chinês perdeu vários pontos no trabalho de reconstrução de sua carreira, que perdeu prestígio após sua demissão do cargo de técnico da seleção, passagem rápida pelo Flamengo, um ano mediano no Corinthians e que mostrava recuperação nas 16 partidas que comandou o Cruzeiro no ano passado. Ele pegou um time que vinha muito mal, acertou a equipe taticamente e fez a torcida até sonhar com uma vaga na Copa Libertadores.

Penso que se o técnico tivesse continuado Cruzeiro ele teria acabado com qualquer desconfiança com o seu trabalho de treinador e voltaria a ser tratado com um treinador de ponta do nosso futebol. Por muito tempo, o time que contratar Mano Menezes vai ter a desconfiança que ele poderá deixar o clube ao receber qualquer proposta.

No futebol - e também na vida -, o caminho que parece o mais fácil nem sempre se revela como a melhor opção para o futuro.