Na coletiva de imprensa da última quinta-feira, o técnico Stanislav Cherchesov abriu as portas para uma possível convocação de Ariclenes da Silva Ferreira para a seleção da Rússia na Copa do Mundo de 2018.



Mas como este nome, mais brasileiro impossível, poderia aparecer numa lista de um país do leste europeu, perguntaria o mais desavisado.
O fato é que Ari, como é conhecido no futebol, partiu para solo europeu muito cedo, ainda aos 20 anos, quando saiu do Fortaleza, time da sua cidade natal, para o Kalmar, da Suécia, em 2006 Depois, mais três temporadas na Holanda, pelo Az Alkmaar, onde se destacou e chamou a atenção do Spartak Moscou, abrindo suas portas em solo russo em 2010.

Como está no país há oito anos, com passagem também pelo Krasnodar e atualmente jogando no Lokomotiv Moscou, Ari se torna apto a receber o direito de virar cidadão da Rússia. Ele se integra adequadamente ao primeiro item da sessão “Cidadania Russa” da embaixada local, que diz que o estrangeiro acima de 18 anos tem de “residir na Rússia por um período de 5 anos após receber a Carteira de Estrangeiro“.

Após atuar emprestado pelo Krasnodar e marcar seis gols em 12 jogos na última temporada pelo time da capital, ele foi comprado e, em cinco partidas até aqui, foi às redes uma vez. Agora, se recupera de uma lesão.

Mesmo assim, vive a expectativa de ser mais um brasileiro a disputar a Copa do Mundo por outro país. Além dele, o lateral-direito Mário Fernandes, ex-Grêmio, e o goleiro Guilherme, ex-Atlético-PR, também têm seus lugares praticamente garantidos na lista. Com a lesão grave do atacante Kokorin, do Zenit, Ari surge como provável substituto para o camisa 9.

Atacante dentro de campo, gestor fora dele

Mas não é só dentro das quatro linhas que o jogador de 32 anos faz seu trabalho. Fora delas, Ari é mandatário do Uniclinic Atlético Clube, pequeno clube de Fortaleza criado em março de 1997, que tem apenas 21 anos de existência.

Mas a forma que fez ele “tomar o poder” da equipe, conhecida como a “Águia da Precabura”, é que é o mais curioso.

Após o time da primeira divisão do Campeonato Cearense conseguir calendário cheio por dois anos seguidos, em 2016 e 2017, o então mandatário do Uniclinic, Vanor Cruz, simplesmente resolveu que não queria mais investir no clube e, por isso, abriu mão de jogar o Brasileiro da Série D no ano passado.

Isso quase havia acontecido também em 2016, quando o time de Fortaleza pensou em recusar a participar da Copa do Mordeste, apesar dos custos de viagem e hospedagem sejam pagos pela organização do certame. Após muito relutar, jogou, mas fez uma campanha pífia, sem sequer pontuar.

Foi em dezembro do último ano, então, que Ari surgiu como arrendatário do clube. Ele aproveitou a pausa no Campeonato Russo para voltar à sua cidade natal e iniciar o projeto que apresenta outro fato incomum: um período de três anos iniciais e possibilidade de compra ao fim do vínculo.

“Eu sempre tive o sonho de ter um time, e começou a ganhar forma anos atrás quando iniciamos um projeto de escolinha de futebol na comunidade onde fui criado, no Vicente Pinzón. Depois veio a parceria com o Horizonte-CE, onde estivemos à frente apenas das categorias de base, mas que entendemos ter feito um ótimo trabalho“, comentou o atacante, em sua “apresentação” como mandatário.

Uma de suas grandes mudanças no novo cargo foi mudar por completo o emblema do Uniclinic, que antes era azul e amarelo, para um vermelho e preto. O motivo? Desde pequeno Ari é torcedor “doente” do Flamengo.

“Eu não sei em que ano eu posso voltar, mas sem dúvidas eu quero encerrar a carreira no Brasil, na minha cidade. Mas eu tenho o grande sonho também, desde garoto, de jogar no Flamengo. Sempre deixei claro que é o meu time de coração. Acho que até agora, se eu tivesse a oportunidade de jogar pelo Flamengo por seis meses, um ano, depois retornar à Europa, eu acho que eu encararia, realizaria meu sonho“, disse Ari, em entrevista ao site Goal.com, em 2016.