Neneca caiu nas graças da torcida após as últimas exibições. Foto: Divulgação/Flamengo

Que o Flamengo é um celeiro de talentos do futebol, ninguém discute. Só nos últimos anos, saíram do Ninho nomes como Vinicius Junior, Lucas Paquetá, Reinier e Léo Duarte. Porém, quando o assunto é goleiro, o rubro-negro não tem tido sucesso nos últimos anos. Cabe agora ao promissor Hugo Souza mudar essa escrita.

De quarta opção na meta do Flamengo há algumas semanas – atrás de Diego Alves, César e Gabriel Batista –, “Neneca” (como é conhecido desde os tempos de base) assumiu a titularidade em um momento de ausência dos demais goleiros por lesão ou Covid-19 e não comprometeu. Muito pelo contrário: foi destaque nas partidas que disputou até aqui e é visto com bons olhos para o futuro do Flamengo em caso de saída de Diego Alves.

Mais do que isso: se mantiver o bom nível de atuações, Hugo pode encerrar um estigma entre os goleiros revelados pelo Flamengo nos últimos 20 anos. Desde Júlio César, que estreou no profissional em 1997, o Mengão não revela um goleiro incontestável, com respaldo tanto de treinadores quanto da torcida.

Embora esse pensamento possa ser precipitado – afinal, Neneca não disputou nem dez jogos com a equipe titular do Flamengo –, quem observa o trabalho do jogador de 21 anos desde os tempos de base não se surpreende com o nível de atuação que ele tem apresentado. Hugo chegou a ser convocado para a seleção brasileira pelo técnico Tite em 2018 (o treinador tem o costume de chamar jovens goleiros) e o Fla já recusou propostas pelo goleiro.

A comparação com Júlio César também pode se dar no ponto de vista de carreira. Lançado entre os profissionais em 1997, Júlio ficou por muito tempo na reserva de Clemer, e só assumiu a titularidade em 2000. O mesmo pode acontecer com Neneca. Afinal, o titular absoluto continua sendo Diego Alves. Porém, não é absurdo imaginar que Hugo Souza já seja a segunda opção, deixando César e Gabriel para trás.

A trajetória de Neneca


Goleiro esperou oportunidade entre os titulares por anos. Foto: Divulgação/Flamengo

Aos 21 anos de idade, Hugo Souza tem mais da metade disso no Flamengo. Ele chegou ao clube em 2009, e atuou por todas as categorias de base desde então. Foi campeão da Copa São Paulo de Futebol
Jr. em 2016 e 2018. Na primeira, foi um dos reservas de Thiago. Na segunda, era titular, mas foi
promovido ao profissional e deu lugar a Yago.

Desde então, vem treinando entre os profissionais, mas sua primeira oportunidade como titular veio
apenas neste ano, na partida contra o Palmeiras – jogo em que o Flamengo teve mais de quinze
desfalques por conta do surto de Covid. Neneca assumiu a bronca e segurou o Palmeiras no empate por
1 a 1 em São Paulo, sendo eleito o melhor em campo.

O jogo teve todo um componente emocional para Neneca, que lembrou a perda recente de seu pai.
“Não jogo faz nove meses. A última partida foi no sub-20. A diferença dessa partida é que na última meu
pai estava na arquibancada assistindo e hoje eu não tenho mais ele. Faz seis meses que não tenho ele.

Hoje a primeira vez que entrei em campo sem o meu pai”, disse o goleiro após o jogo, ganhando o apoio
de grandes nomes do futebol, incluindo Júlio César.

O goleiro também mostrou personalidade ao ser escalado para sua primeira partida internacional,
diante do Independiente del Valle pela Copa Libertadores. Ao contrário de César, que levou cinco gols
no Equador, Neneca parou o ataque do time comandado por Miguel Ángel Ramirez e fez pelo menos
sete defesas difíceis.

Relembre outros goleiros revelados após Júlio César


Paulo Victor foi um dos goleiros que surgiram na base nos últimos anos. Foto: Divulgação

Júlio César foi referência na meta rubro-negra entre 2000 e 2005, mas desde sua saída, poucos goleiros
se firmaram como unanimidades no gol. E isso inclui alguns nomes revelados pelo clube.

O primeiro deles foi Diego, apontado como sucessor de Júlio César, que assumiu a titularidade em 2005.
Apesar de ter conquistado o título da Copa do Brasil em 2006, ele nunca foi unanimidade no gol e
perdeu espaço depois a chegada de Bruno.

Na mesma época, o Flamengo promoveu outras duas crias das categorias de base ao time principal:
Getúlio Vargas e Marcelo Lomba. O primeiro jamais se firmou como titular. O segundo assumiu a meta
do Flamengo após a prisão de Bruno, em 2010, mas nunca teve confiança absoluta da torcida. Em 2011,
perdeu espaço e acabou emprestado. Hoje, o goleiro evoluiu e é titular absoluto do Internacional.

Porém, nenhum deles teve mais oportunidades que Paulo Victor, que disputou mais de 170 partidas
entre 2006 e 2017, alternando altos e baixos com a camisa rubro-negra. O último revelado nas categorias de base a ter mais chances foi César, que segue no time até hoje, mas já vê seu posto de reserva ser bastante ameaçado pelo promissor Neneca.