Ex-técnico do Fla treinou soldados e fugiu de guerra após queda de ditador sanguinário

31/5/2016 08:21

Ex-técnico do Fla treinou soldados e fugiu de guerra após queda de ditador sanguinário

Ex-técnico do Fla treinou soldados e fugiu de guerra após queda de ditador sanguinário
DIVULGAÇÃO
Marcos Paquetá comandou a Líbia durante a guerra civil


Dirigir uma seleção é um dos pontos altos da carreira de um treinador de futebol, mas também pode ser muito perigoso. O técnico Marcos Paquetá, campeão mundial sub-20 e sub-17 com a seleção brasileira, sentiu na pele o que é morar em um país que entrou em guerra civil.

No segundo semestre de 2010, ele foi comandar a Líbia, que buscava a classificação para a Copa Africana de Nações. Pouco mais de um ano depois de assumir o cargo, uma revolução no país derrubou o ditador Muammar Kadhafi, que ficou 42 anos no poder.

Ele foi deposto em meio à chamada "Primavera Árabe", uma série de revoluções que tiraram do poder os líderes da Tunísia, Zine al Abidine Ben Ali, e do Egito, Hosni Mubarak, além de diversos protestos em países da região.

"Minha família tinha acabado de chegar. Tinha um mês. Fizemos uma reunião no consulado brasileiro e achavam que estava tudo bem. Estávamos na capital, Trípoli, mas tinha o pessoal das construtoras que dizia que nas outras cidades estavam tendo combates", contou o brasileiro, em entrevista ao ESPN.com.br.

"Conseguimos comprar o último voo para sairmos do país. Estávamos com várias crianças, foi um drama. Fiquei impressionado porque tinha umas 100 mil pessoas querendo ir embora no aeroporto. Chegamos 7h e largamos os carros lá mesmo. Não havia aviões suficientes para todos irem embora, foi uma guerra lá dentro. Fui empurrado e agarrado, era uma loucura", prosseguiu.

Paquetá só conseguiu deixar a Líbia por volta das 20h30 no último avião que decolou na capital. Depois disso, o espaço aéreo foi fechado e os deslocamentos eram feitos apenas por terra ou de navios. "Mantive contato e treinava a seleção na Tunísia, me mandavam passagem e ia para lá. Tínhamos uma divisão enorme no elenco por causa dos jogadores que eram a favor ou contra o Kadhafi", relatou.

Os atletas brigavam até para saber quem seria o capitão. A tradição mandava que o atleta mais velho usasse a faixa, mas uma ordem vinda diretamente do filho do ditador, que chefiava a federação local, mudou o costume.

"Depois que mataram o Kadhafi, o pessoal de Bengasi [capital provisória do governo interino do país] assumiu a federação. Não conhecia mais ninguém e a federação não existia mais, mas me apresentei para a seleção. Uns nove jogadores que eram a favor do Kadhafi tinham sumido com medo", recordou.

O técnico foi surpreendido ao reunir seu time para a partida contra Moçambique, que seria realizada no Egito, pelas eliminatórias da Copa Africana.

"Tinham jogadores se apresentado que eu não conhecia porque estavam na guerra, eram soldados. Até me mostraram fotos, e estavam totalmente fora de forma. Peguei uns do sub-20 para completar e ganhamos", contou o brasileiro, que na última partida empatou com Zâmbia e se classificou para a competição continental.

JOGADORES PASSARAM FOME, MAS NÃO PERDERAM

Marcos Paquetá recebeu um convite para comandar a Líbia depois de uma passagem de sucesso por Arábia Saudita e Qatar, mas o país estava quase seis meses sem campeonato local. "Como um dos times estava ativo ajudou na composição da equipe. Fiz um trabalho de observação de jogadores e estruturação do futebol", relatou.

Uma das inúmeras situações pitorescas que o brasileiro passou durante a fase qualificatória para a CAN teve como causa a religião muçulmana. Por causa do Ramadã, mês em que é praticado o jejum durante o dia, ele viu seus comandados quase desmaiarem de fome em campo.

"Uma vez fomos jogar contra o Moçambique fora de casa no meio do Ramadã às 15h com um sol incrível. O problema é que nossos jogadores tinham comido pela última vez às cinco da manhã e não podiam nem beber água. Os caras foram muito guerreiros, conseguimos ainda arrancar um empate e foi um feito enorme. Nunca vi isso na vida", admirou-se.

Em outra partida, sua vida correu risco por causa da fúria da natureza. "Fomos jogar nas Ilhas Comoro e nos colocaram próximo a um vulcão em atividade. Ele tinha destruído a cidade três anos antes, a população morava em contêineres, foi uma loucura", conta.

O comandante da federação local era um filho bastardo do ditador Muamar Kadhafi com formação em engenharia, mas apaixonado por futebol. "Todos os dias jogávamos uma pelada contra ele, mas ganhamos dois dias seguidos. No terceiro dia resolvemos perder porque ficamos com medo (risos). Ele ficou feliz e fez um grande churrasco na casa dele."

Com todas as dificuldades, o treinador classificou-se para a Copa das Nações Africanas de forma invicta. A Líbia caiu no Grupo A, mas ficou na terceira posição e não conseguiu passar de fase depois de um empate, uma vitória e uma derrota.

"Foi uma passagem de muito sucesso. Administrei problemas políticos, rivalidades internas de clubes e até mesmo de cidades. Assumimos a seleção na 162ª posição do ranking da Fifa e colocamos na 45ª e ainda classificamos para a Copa Africana de Nações durante a guerra. Foi uma experiência única na minha vida", comemorou.

EX-TREINADOR DO FLAMENGO QUER TRABALHAR NO BRASIL

Depois de uma carreira como jogador profissional com passagem por Vasco e América-RJ, clube no qual começou sua função como preparador físico e depois treinador. Ele ainda passou por clubes da Arábia Saudita, Fluminense e Flamengo, ajudando a revelar uma série de nomes como Juan, Julio César, Sávio e Athirson.

"Fui interino por muitas vezes no time profissional antes do Oswaldo de Oliveira, Edinho, Nelsinho Baptista, entre outros. Foi muito bom porque conhecia os atletas e aprendi muito. A situação era muito critica e conseguíamos entregar a casa arrumada. Era quase um bombeiro mesmo e me preparou muito para o futuro (risos)", afirmou.

Com isso, foi chamado para as seleções brasileiras de base e conquistou os mundiais sub-17 e sub-20, em 2003. "Depois minha carreira deslanchou quando fui ao Al-Hilal e vencemos muita competições. Cheguei até a seleção da Arábia Saudita e disputei a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha."

Depois de passar por Avaí, clubes do Qatar e dos Emirados Árabes, o último trabalho do carioca de 57 anos foi no Zamalek, do Egito. De volta ao Brasil, ele deseja outros desafios.

"Fiquei muitos anos fora e quero ficar mais próximo da minha família. Quero colaborar com o futebol brasileiro, fiquei três meses só acompanhando como estão as coisas aqui. Estou surpreso de forma positiva com a safra nova de jogadores. Costumo até mesmo colocar os treinamentos que faço na minha página de Facebook", finalizou.

791 visitas - Fonte: ESPN


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